Por Érico Leonan / saopaulofc.net
Dentro de campo, quatro gols em seis jogos pelo Tricolor: todos de cabeça. Fora das quatro linhas, uma tranquilidade que contrasta com o apelido de ‘Urso’. Este é Lucas David Pratto, que está de volta para as decisões do Campeonato Paulista, da Sul-Americana e da Copa do Brasil após defender o seu país nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Atacante da Seleção Argentina, o centroavante encarou infância difícil em La Plata antes de formar ataque com Lionel Messi na equipe dirigida por Edgardo Bauza e chegar ao Morumbi para ser a grande referência no sistema ofensivo do São Paulo.
“Falar da minha infância é difícil, porque depende do contexto. Economicamente, não foi boa, mas a minha mãe sempre me permitiu ser feliz. Meu irmão (Leandro) também foi importante. Passamos por algumas dificuldades para comprar comida e pagar as contas, mas hoje vejo que isso contribuiu para o meu aprendizado e ajudou na minha formação”, recorda o atacante, filho de pais divorciados desde um ano de idade, que se virou para ajudar na renda da casa.
“Fora a parte ruim da infância, tive muitos amigos e jogava futebol todos os dias. Minha mãe sempre foi exemplar e, neste sentido, amadureci bastante. Então, para ajudar, eu topava qualquer coisa para ganhar dinheiro: entreguei panfletos de pizzaria e andava sete ou oito quilômetros por dia distribuindo nas casas (risos). Depois, fui segurança de formatura em clube do meu bairro: meu dever era fiscalizar para evitar muito barulho. Se acontecia algo eu já ligava para a polícia, então era bem tranquilo e não precisei brigar, porque não era uma balada. Com o dinheiro que recebia, além de ajudar em casa, saia com os meus amigos para tomar um refrigerante (risos)”, revela.
Assim, de forma até despretensiosa entre um emprego e outro, o futebol surgiu na vida de Pratto. “Da década de 90 até 2003, o Boca Juniors ganhou muitos títulos. Foi a melhor fase na história do clube. Então comecei a gostar mais de futebol. Comecei a treinar por diversão, tentei alguns testes nos clubes de La Plata (cidade onde nasceu) e depois meu irmão me convidou para jogar em um clube da Série C, o Cambaceres. Ele era goleiro lá. E foi assim até chegar na base do Boca, quando percebi que realmente poderia me tornar jogador profissional”, conta o camisa 14, que após passar pelos xeneizes e pelo Tigre-ARG (adversário do Tricolor na final da Sul-Americana de 2012) teve a oportunidade de atuar fora do país.
“Fui emprestado ao Lyn, da Noruega, por seis meses. No começo, uma maravilha: marquei gols e o time estava bem no campeonato. Então, renovaram o meu empréstimo por mais seis meses. Desde jovem eu sempre fui muito independente, tomava a maioria das decisões sozinho e então não foi problema ir morar na Europa sem os meus familiares. Foi uma decisão difícil, mas eu fui. Só que, depois, as coisas mudaram: o inverno chegou, o sol aparecia às 9h e sumia às 15h. Tive que me virar, porque não falava o idioma local. Era impossível. Então aprendi o inglês e aos poucos acostumei o ouvido. Voltei de lá falando inglês e com uma boa experiência de vida”, lembra o atacante que apesar do ‘jeitão intimidador’, com 1m88 de altura, 90kg e o apelido de ‘Urso’ tem uma personalidade tranquila.
“Sou muito tranquilo e deixo este lado agressivo apenas para jogar, mas sempre com respeito. Chego forte nas jogadas, porém, com lealdade. Não gosto de insultar os zagueiros. Fora de campo, sou um cara tranquilo e bem simples. Comigo é assim: preto ou branco, não tem cinza. Gosto de ficar em casa, jogar videogame e brincar com a minha filha. Tento aproveitar ao máximo a minha filha, conversamos todos os dias e temos uma relação fantástica. Ela gosta de contar as experiências novas na escola, e eu não sei de onde vem este gosto pelas aulas, porque eu não gostava (risos)”, brinca Pratto, fã de tatuagens, rock e agora sertanejo.
“Algumas pessoas costumam dizer que tatuagens revelam uma infância problemática, mas não é o meu caso. As minhas tatuagens têm significados. Tenho um samurai, o nome da minha filha, Os Simpsons que gosto bastante assim como os Looney Tunes desde criança, uma letra de uma música e mais algumas. Gosto de ouvir rock argentino também, porque lá temos várias bandas. Já das bandas mais famosas curto AC/DC, Red Hot Chili Peppers e Rolling Stones. No Brasil, meus amigos e companheiros de clube preferem músicas sertanejas, e gosto de ouvir também. Mas, na minha casa ou no meu carro, só rock (risos)”, revela o atacante, que pouco a pouco se adapta ao Tricolor.
“Fui muito bem recebido aqui e isso ajuda bastante na adaptação. A torcida também me apoia e faz com que eu me sinta em casa. A cidade de São Paulo também me acolheu positivamente. Ainda não tive muito tempo para passear, porque temos uma rotina de treinos, concentração, viagens e jogos, mas já fui a alguns bons restaurantes. Estou muito feliz aqui e espero que seja assim durante toda a minha passagem pelo clube. Que seja uma felicidade completa com gols e títulos também”, finaliza.
E será, Lucas!