Autor de duas assistências para argentino, de quem recebe pedidos de passes, atacante vai a pé aos treinos. Ele fez canção sertaneja, parou de atuar por três meses e perdeu irmão com leucemia
Atenção, torcedor são-paulino que mora próximo ao CT da Barra Funda. Não estranhe se você esbarrar com Marcinho pelas ruas da Zona Oeste da capital paulista. O atacante de 21 anos é vizinho do CT e vai a pé de casa para os treinos comandados por Rogério Ceni.
– Me perguntam: “Não é perigoso?” Mas ninguém me conhece assim, não (risos). É só atravessar a rua. Se saio de noite, pego carona com alguém.
A fama pode não ter atingido a rotina de Marcinho. Ele, inclusive, descarta ter um carro, objeto de desejo entre os boleiros, pois não poderia “morar” no veículo, nas suas próprias palavras.
A prioridade é ficar no São Paulo além do empréstimo e depois comprar uma casa para a família. A manutenção do desempenho nesse início no time certamente lhe ajudará nesses objetivos.
Titular nas três rodadas do Brasileirão, ele teve boas atuações e deu duas assistências para Lucas Pratto, de quem recebe “cobrança” (no bom sentido da palavra) para dar mais passes assim.
– No jogo contra o Cruzeiro, toquei para o Cueva e na hora ele ficou p… falou um monte, mas normal (risos). No intervalo, me disse: “Marcinho, tem que tocar para mim. Eu faço gol, não o Cueva”. Eu disse que o Cueva também estava livre, mas ele falou que também estava. Iria dominar e chutar. Eu saí com câimbra e prometi que daria um passe para ele no jogo seguinte.
– Depois do jogo com o Avaí, ele agradeceu. Estava vindo para o meu lado, chegou dançando, apontou para mim e deu um abraço. Ele me elogiou e disse: “Tá vendo. Eu falo: tem que tocar para mim. Vou fazer o gol. Sei fazer isso” (risos). Ele é muito gente boa. Me dá conselhos. Estou feliz com essa parceria.
– Essa dancinha (do jogo contra o Palmeiras) eu não sabia, não. Acho que é da Argentina (risos). Ele veio de novo dançando. Espero estar sempre dançando e comemorando com ele. Foi no improviso. Ele inventou essa dança que eu nunca vi na vida (risos).
Marcinho contribuiu diretamente nas vitórias sobre Avaí e Palmeiras, ambas por 2 a 0, no Morumbi. Não à toa tem a confiança de Ceni, responsável direto pela sua contratação.
O apito final que selou o rebaixamento do São Bernardo também mudaria definitivamente a história do jogador. Marcinho perdeu para o São Paulo, por 1 a 0, com seu ex-time, na última rodada da primeira fase do Paulista.
– Estava saindo ao lado de um outro jogador triste para caramba com o rebaixamento e ele (Ceni) veio falar com a gente. Segurou no meu braço. Falei: “Vixi, por quê?”. Ele me deu parabéns pelo jogo e pelo campeonato.
A conversa com Ceni foi o início do contato que virou contrato no São Paulo. Marcinho usou a camisa trocada com Araruna naquela partida para fazer surpresa aos familiares e contar sobre a transferência ao Tricolor. Sem ninguém saber, vestiu o uniforme em casa e emocionou os pais ao dar a notícia.
A chegada ao Morumbi é o auge de uma carreira curta e rodada. Marcinho chegou a parar de jogar futebol durante três meses. Após início no Vila Nova, atuou na base do Corinthians, onde foi campeão da Copa São Paulo de 2015. Ele também jogou na base da Ponte Preta, onde posteriormente não foi autorizado a treinar com os profissionais. Mesmo separado do elenco.
O atleta não tinha mais idade de jogador de base, mas recebeu ordem para continuar treinando com as categorias inferiores. Diante disso, decidiu rescindir o contrato.
– Foi a pior coisa que aconteceu. Ficar em casa. Você fica com a cabeça pensando: será que vou ficar sem jogar? Não vou arrumar nenhum time…
Mas arrumou. Marcinho foi para o Remo, pelo qual jogou a Série C, antes de se transferir ao São Bernardo e depois ao próprio São Paulo.
Ainda que tenha enfrentado a dificuldade de ficar um período sem time, o problema não se compara à perda do irmão mais novo, vítima de leucemia. Na época, ele tinha 17 anos e o irmão oito.
Apesar dos obstáculos enfrentados, Marcinho não perde o bom humor. Ainda que seja tímido no novo grupo, a ponto de ouvir brincadeiras como o apelido de “mudinho”, ele tem um lado artístico.
O goiano de Inhumas não nega as origens e aprecia música sertaneja. Inclusive, compôs uma canção ao lado de um amigo, chamado Ricardo.
– Vejo comentários e acham que quem sai de time pequeno é para compor grupo e ficar no banco. Quando chega em time grande tem de pensar alto. As coisas aconteceram rápido. Tive uma oportunidade no primeiro jogo que não esperava e pensei que era a chance da vida. Consegui jogar bem e tive sequência. Estou feliz por esses três jogos, mas não pode parar por aqui.