Rivaldo é acusado de se apropriar de bens do Mogi Mirim; advogado nega

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Folha de São Paulo

Maior jogador da história do Mogi Mirim, Rivaldo, 45, voltou em 2008 no papel de administrador.

Nove anos depois é acusado por três sócios do clube de vender o patrimônio da agremiação, passar dois centros de treinamento para o seu nome e receber em sua conta pessoal o dinheiro de uma parceria do Mogi com uma empresa do Uzbequistão. Ele nega todas as acusações.

O processo contra Rivaldo está na 2ª Vara Cível de Mogi Mirim (182 km de São Paulo) e pede que a transferência dos dois CTs para o nome de Rivaldo, feita em 2013, seja anulada. Na época, ele estava licenciado da presidência e o cargo era exercido pelo advogado Wilson Bonetti, representante legal do ex-jogador.

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No processo, estão anexadas duas procurações assinadas em 2007 e em 2014 dando ao advogado plenos poderes para gerir assuntos de interesse de Rivaldo. A segunda é específica para administrar o clube paulista.

“Os CTs foram passados para o nome de Rivaldo por uma dívida questionável e de forma sorrateira. Não se pode fazer isso com um bem construído pelo clube e pela cidade”, afirma Henrique Peres Stort, um dos responsáveis pela ação que pede o cancelamento da transferência.

A Folha esteve nos dois CTs. O maior, de 79 mil metros quadrados, está arrendado mas não pode ser utilizado por causa de pragas no gramado. O menor, de 24 mil metros quadrados, na estrada que liga Mogi Mirim a Limeira, está abandonado.

Rivaldo jogou pelo clube de 1992 a 1993. Depois passou por Corinthians, Palmeiras, Barcelona (ESP), Milan (ITA) e foi campeão mundial pela seleção brasileira em 2002.

RETORNO

O ex-jogador passou a gerir o Mogi Mirim em 2008, após a morte de Wilson Barros, presidente desde 1981. Na época, o clube devia R$ 1,8 milhão para a família Barros. Rivaldo quitou o débito.

O patrimônio do Mogi Mirim era composto por 14 apartamentos na cidade, vendidos durante a gestão do ex-meia, e os dois CTs.

No processo, os sócios alegam que quando Rivaldo deixou o Mogi, em 2015, cobrou dívida de R$ 12.560.087,09. O atual presidente, Luiz Henrique de Oliveira, assinou acordo para pagar R$ 500 mil por ano ao antigo gestor.

A administração de Rivaldo foi polêmica. Ele colocou familiares em cargos estratégicos do clube. Nomeou a mulher, Eliza Kaminski Ferrreira, para a vice-presidência, e o filho Rivaldinho, então com 19 anos, para presidência do conselho deliberativo.

A discussão central do processo está em contrato, assinado por Bonetti, representante de Rivaldo. Este se comprometia a assumir o passivo do Mogi e não dilapidar o patrimônio. Rivaldo diz desconhecer o documento. Ele e Bonetti estão rompidos.

“Rivaldo não poderia transferir os CTs para o seu nome, já que era o presidente do clube. A mesma pessoa não pode fazer compra e venda. Queremos perícia contábil ampla nas contas dele (Bonetti) e do Rivaldo”, afirma o advogado Renato Franco.

O pedido é motivado pela parceria firmada em 2009 por Rivaldo com o Zeromax GMBH, empresa do Uzbequistão que também era dona do Bunyodkor, clube em que ele atuou de 2008 a 2010.

O conglomerado se comprometeu a dar € 114.532 por mês (R$ 430 mil, em valores atuais) ao clube. Pelo contrato, o dinheiro seria depositado na conta do Mogi Mirim.

A reclamação é que os pagamentos foram para conta de Rivaldo, que teria repassado as quantias ao clube como empréstimo. Em outubro de 2010, os pagamentos cessaram. A Zeromax GMBH entrou com pedido de falência.

OUTRO LADO

O advogado de Rivaldo, Betellen Dante, descarta todas as acusações feitas no processo. Segundo ele, o ex-jogador colocou dinheiro no clube.

“O Rivaldo se comprometeu a administrar, emprestar dinheiro e pagar todas as despesas. Ele saneou o clube. Não doou nenhum dinheiro, apenas emprestou e nunca se comprometeu a abrir mão disso. Deixou claro que queria reaver o dinheiro de maneira correta. Temos o extrato de todo o dinheiro que saiu da conta do Rivaldo e entrou na do Mogi Mirim”, afirma.

Dante disse que os CTs foram dados como pagamento de dívidas que o Mogi tinha com Rivaldo, que não teria levado vantagem no negócio.

“Rivaldo investiu dinheiro e recebeu imóvel. O que ele tinha [a receber] era muito maior. Ele aceitou os CTs. O conselho deliberativo viu que não havia dano para o clube. Foram feitas avaliações na época por corretores diferentes. Rivaldo não levou nenhuma vantagem”, completa.

O advogado afirma que, a partir de 2013, Rivaldo percebeu que a situação se tornava insustentável e que o clube não era viável. Ele contesta a visão de que o ex-jogador reduziu o patrimônio do Mogi Mirim, já que teria investido R$ 15 milhões no clube.

“Ele não dilapidou nenhum patrimônio. Onde está lógica de uma pessoa tirar do bolso R$ 15 milhões e ser ressarcido com menos? Só se for do próprio Rivaldo a dilapidação patrimonial. O Mogi Mirim só foi beneficiado pelo Rivaldo. Ele não teve lucro com o Mogi Mirim, só teve o que a lei manda. Nem banco nem qualquer outra pessoa faria o que o Rivaldo fez pelo Mogi Mirim”, afirma.

Para Dante, o documento assinado por Bonetti em que Rivaldo se comprometia a assumir o passivo e manter o patrimônio do clube era um “documento de gaveta”, sem validade legal. Tanto que não está anexado originalmente à ata de reunião que passava a administração do Mogi Mirim ao hoje ex-jogador.

Sobre o dinheiro da parceria com a Zeromax GMBH, o advogado diz que Rivaldo recebeu em sua conta apenas o salário como jogador do Bunyodkor. “Esse dinheiro [da parceria] entrou na conta do Mogi Mirim. Está no balanço. Não passou pelo Rivaldo.”

O advogado ainda coloca em dúvida se os autores do processo realmente são associados ao Mogi Mirim.

A reportagem tentou falar diretamente com o ex-jogador, mas ele não quis ser entrevistado.

CRISE

Fundado em 1932, o Mogi Mirim vive grave crise dentro de campo. Em menos de dois anos, o clube acumula três rebaixamentos consecutivos.

O declínio começou em 2015, quando o time caiu da Série B para a Série C no Brasileiro. No Estadual, foram dois rebaixamentos: da Série A1 para a A2 em 2016 e, neste ano, para a A3 após terminar na penúltima colocação.

A queda coincidiu com a saída de Rivaldo da presidência do Mogi Mirim. Em 2015, ele renunciou ao cargo e o empresário português Victor Manuel Simões assumiu o clube como investidor. Simões, inclusive, se comprometeu a pagar a dívida que o Mogi Mirim tem com o pentacampeão de aproximadamente R$ 10,9 milhões.

Simões, porém, ficou menos de três meses como investidor após se desentender com o seu sócio, Luiz Henrique Oliveira, que é o atual mandatário do clube.

Com dificuldades financeiras, Oliveira negocia há mais de um mês uma parceria com o empresário Mário Teixeira, ex-executivo do Bradesco e proprietário do Grêmio Osasco, do Osasco FC, do Audax Rio do Audax paulista.

Há 15 dias o Mogi Mirim treina em Osasco enquanto aguarda o desfecho do acordo. No último sábado (13), a equipe mandou a partida diante do São Bento, na abertura da Série C, no estádio José Liberatti, em Osasco.

Preocupados com a crise que o clube atravessa nos últimos anos, moradores da cidade criaram o SOS Mogi Mirim por discordarem da atual administração, acreditando que ela pretende levar o clube para outra cidade.

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