Vídeos, reuniões e treinos: a rotina de Ceni para tentar reerguer o São Paulo

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Com dias mais desgastantes do que como jogador, técnico mergulha no trabalho diário no CT da Barra Funda para tirar o Tricolor da crise

Como jogador, Rogério Ceni foi, durante muitos, anos o capitão do São Paulo. Embora aparecesse pouco para os jornalistas nas entrevistas coletivas, o camisa 1 tinha muita importância dentro e fora de campo. No gramado, funcionava como uma extensão do técnico e orientava os companheiros. No vestiário, era sempre o responsável pelas palavras de motivação ao grupo.

O tempo passou, Ceni se aposentou e, agora, como treinador,precisou se tornar ainda mais atuante. Com o São Paulo vivendo uma crise dentro de campo, a primeira com ele no comando, o ex-goleiro vive como poucos a rotina de treinos e jogos. Acima de tudo, faz o que tiver ao seu alcance para blindar seus comandados.

Pessoas ligadas ao clube que conversaram com o GloboEsporte.com sobre a diferença entre o Ceni jogador e o Ceni treinador relatam que o atual técnico anda ainda mais obcecado pelo rendimento da equipe. Ele reconhece que o São Paulo caiu de produção, mas aposta no trabalho do dia a dia e na motivação dos atletas para que as coisas melhorem nas próximas partidas do Campeonato Brasileiro.

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O técnico respira o São Paulo há cinco meses. Nos primeiros 20 dias, período em que a equipe realizou a pré-temporada nos Estados Unidos, a rotina diária tinha entre 16 e 17 horas de trabalho. Começava às 7h, quando ele e o auxiliar Michael Beale já conversavam durante o café da manhã sobre o treinamente a ser realizado em seguida. Após a atividade no gramado, tinha início o trabalho de análise e observação.

Rogério Ceni está cada vez mais obcecado em tentar melhorar o rendimento da equipe (Foto: Mauricio Rummens/Estadão Conteúdo)

Rogério Ceni está cada vez mais obcecado em tentar melhorar o rendimento da equipe (Foto: Mauricio Rummens/Estadão Conteúdo)

O comandante conta com dois profissionais que filmam tudo o que acontece no campo. Esse material é editado em HD e enviado mais tarde ao treinador, que o analisa minuciosamente. Em uma atividade de finalizações, por exemplo, Ceni acompanha cada movimento feito pelos atletas e consegue saber, pelas imagens, o que precisa ser feito para melhorar o rendimento.

No CT da Barra Funda, a rotina é um pouco menos exaustiva. Em atividades pela manhã, o treinador chega costumeiramente às 7h30. Meia hora depois, já está no gramado, distribuindo os obstáculos que serão utilizados na movimentação. O foco está em ajustar novamente o time. Depois de boas atuações no início do ano, o Tricolor despencou. A defesa sofre menos gols, mas ainda não passa segurança. Antes ponto forte, o ataque emperrou.

– Desenho todos os treinos, programo tudo pela manhã, de acordo com os jogadores que eu tenho. Preciso ver o adversário que vou enfrentar, pensar nas bolas paradas, conversar com os atletas, passar na fisioterapia… Ainda tem reunião com comissão técnica e a parte psicológica. Passo de seis a oito horas por dia no CT. Quando tem concentração, durmo aqui com os jogadores. O trabalho é sempre feito da melhor maneira buscando o crescimento da equipe – afirmou Ceni.

Nos últimos dias, devido à queda de rendimento da equipe, o treinador também vem dedicando parte de seu tempo a conversas individuais com alguns jogadores. Ele tenta entender o momento de resultados ruins que o fizeram passar até a ser questionado pela torcida, algo impensado há poucas semanas. Maicon e Cueva foram dois que tiveram um papo reservado com o “chefe” por conta da queda de rendimento.

Ceni também já mostrou seu lado mais explosivo em alguns momentos. No clássico contra o Corinthians, no duelo de ida da semifinal do Campeonato Paulista, ele desceu enfurecido em direção ao vestiário, após o rival ter marcado o segundo gol no último lance do primeiro tempo. Deu bronca em Rodrigo Caio pelo gesto de fair play com Jô e ainda chutou o quadro onde faz anotações táticas. O objeto acabou atingindo o volante Cícero.

O treinador deixa claro que, ao longo dos cinco meses na nova função, a exposição tem sido bem maior do que nos tempos de jogador, o que encara de maneira natural. O discurso é de que prefere ser sempre analisado, para o bem ou para o mal, a expor seus jogadores publicamente.

– Exposição sempre existiu. Tem o julgamento para coisas boas, para grandes feitos, como erros simples viraram falhas grandes. O treinador é sempre o responsável. Que continuem assim. Que, nas vitórias, o elenco seja o responsável e, na derrota, coloquem a responsabilidade em cima de mim – pediu o comandante.

As três eliminações na temporada (Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana) somadas à derrota para o Cruzeiro por 1 a 0, na estreia do Campeonato Brasileiro, trouxeram um peso extra sobre as costas do treinador. Ceni e o São Paulo precisam de uma resposta imediata e apostam nisso para a partida contra o Avaí, na próxima segunda-feira, às 20h, no Morumbi.

– Uma vitória trará paz momentânea, deixará os atletas com mais confiança, o que é importante, já que, na sequência, teremos o clássico contra o Palmeiras (no sábado, dia 27). No último mês, não apresentamos um futebol digno de elogios. Temos de melhorar nosso nível de jogo para que os elogios voltem. Todos estão felizes. Que possamos levar essa confiança para os jogos. Falta demonstrar na hora da partida – ressaltou o técnico.