A derrota para o São Paulo no sábado passado, pela terceira rodada do Brasileirão, ainda remói Cuca. Não pelo resultado no Morumbi em si, mas porque o técnico do Palmeiras até agora não se conforma com o fato de o adversário ter se armado com três zagueiros, assim como ele.
Cuca jura não ter espelhado o desenho tático de Rogério Ceni. Ao contrário. Suspeita que o treinador rival é que possa ter obtido informação privilegiada. Suposição que não é sequer levada a sério no Tricolor.
– Aqueles prédios lá na frente do Palmeiras, não sei, não… (risos) Porque quem espelhou meu esquema foi o São Paulo. Faz parte. Se botou (espião) ou não, faz parte do jogo. Ele disse que teve uma intuição, mas que intuição forte – disse Cuca, em entrevista ao SporTV, na quarta-feira, depois de classificar o Palmeiras para as quartas de final da Copa do Brasil, contra o Internacional, no Beira-Rio.
No final de semana, logo após a vitória do São Paulo por 2 a 0, Ceni afirmou que supunha algumas situações do Palmeiras – como as novidades nas laterais –, mas disse ter se surpreendido, por exemplo, com a escalação de apenas dois atacantes. A imprensa não teve acesso ao ensaio tático de nenhum dos times às vésperas da partida.
– Não tinha uma ideia exata de como o Palmeiras jogaria, porque não consegui informações suficientes. Tinha minhas convicções, como o Michel (Bastos) na esquerda. O Mayke na direita, eu já não tinha tanta certeza. Não achava que ele (Cuca) iria tirar um jogador de frente, manter dois atacantes e jogar com mais um homem no meio-campo. Mas acho que ele imaginava um São Paulo com três volantes – disse Ceni, depois do clássico de sábado.
Vizinhos de muro, os centros de treinamento das duas equipes atualmente são rodeados por edifícios residenciais – veja gráfico:
A reportagem do GloboEsporte.com esteve na região nesta quinta-feira. Conversou com moradores e funcionários dos prédios mais próximos ao centros de treinamentos dos rivais, além de pesquisar imagens publicadas na internet.
Nos prédios mais próximos ao CT do São Paulo, alguns apartamentos mais altos têm vista parcial para os campos da Academia de Futebol do rival – veja reprodução:
Já dos prédios frontais ao CT do Palmeiras, a visão dos campos onde Cuca trabalha é privilegiada – veja reprodução:
Embora tenha dito na entrevista coletiva de sexta-feira passada que escalaria o Palmeiras mais à base de conversa, Cuca ensaiou os titulares a portas fechadas. Uma única vez, pela tarde. Segundo ele, com três zagueiros (o volante Felipe Melo na sobra de Yerry Mina e Juninho). No São Paulo, que encerrou a preparação mais cedo, pela manhã, a informação dos bastidores é de que o esquema 3-4-3 não foi usado de última hora. Mas sim trabalhado quinta-feira e sexta-feira, dias anteriores ao Choque-Rei de sábado.
– A montagem do treinamento desta semana eu aprendi muito com o Cuca, porque era assim que ele montava. Uma coincidência. Tenho certeza de que o Felipe Melo não iria jogar como terceiro zagueiro. Isso foi, provavelmente, na minha modesta opinião, uma reação de último momento através da escalação – comentou Ceni, goleiro de Cuca no São Paulo em 2004.
Para a comissão técnica palmeirense, o treinador são-paulino sabia, sim, sobre Felipe Melo. Há quem diga na Academia de Futebol ter ouvido, depois do clássico, que o São Paulo havia ensaiado na sexta-feira com um volante a mais (João Schmidt) e um zagueiro a menos (Lucão) em relação ao time que acabou indo a campo.
Houve um tempo, quando o muro entre os dois CTs era menor, em que espionar o rival era tarefa fácil. Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores de 1999 pelo Palmeiras, aproveitando-se do terreno mais elevado da Academia de Futebol, já deu suas conferidas a olho nu. A exemplo de seu amigo Milton Cruz, auxiliar técnico do São Paulo por mais de duas décadas. Hoje em dia, com uma lente fotográfica potente ou um par de binóculos e subindo “naqueles prédios lá”…