Sport e São Paulo opõem nesta quarta-feira, às 19h30 (de Brasília), na Ilha do Retiro, um duelo de gerações no banco de reservas: Vanderlei Luxemburgo contra Rogério Ceni. O confronto travado tantas vezes entre treinador e ex-goleiro agora mudou: será entre técnicos. O ídolo do Tricolor iniciou a carreira no fim do ano passado. Vanderlei, por sua vez, começou a carreira solo como treinador em 1983.
Para se ter uma ideia da diferença de gerações, Luxemburgo foi campeão brasileiro com o Palmeiras em 1993, ano em que Rogério Ceni estreava como jogador profissional do São Paulo. Agora, os dois exercem a mesma função. Luxa, aos 65 anos, e Ceni com 44.
Uma parte do “estilo Luxa” foi demonstrada na última terça-feira. O técnico usou uma declaração de Gilberto, atacante do São Paulo, para convocar a torcida do Leão a incentivar o time na Ilha do Retiro. Veja abaixo traços dos perfis dos dois treinadores, adversários nesta função pela primeira vez nesta quarta-feira à noite.
Vestiário
Talvez seja esse o critério em que Luxemburgo é mais “old school”. O próprio treinador já afirmou, em entrevistas recentes, que a geração atual é muito melindrada. O estilo direto de se comunicar com jogadores ficou claro nos vídeos de bastidores em que o próprio Sport divulgou, após a vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo. Luxa não tem aliviado. E também vem apostando em um discurso fortemente motivacional antes dos jogos.
Rogério Ceni tem estilo diferente. Em vídeo divulgado pelo clube antes do duelo com o Vitória, por exemplo, usou tom bem diferente do adotado por ele mesmo na época de goleiro, quando suas palavras inflamavam os companheiros. Enquanto Luxa usa palavras como “esporro”, “frouxo” e “m…”, Ceni fala em “nível de concentração”, “pegada” e “desejo de vencer”.
No entanto, o são-paulino também teve momento de fúria. Ele cobrou fortemente os jogadores no intervalo do clássico entre São Paulo e Corinthians, pela semifinal do Paulistão. O episódio ficou marcado por bronca em Rodrigo Caio por gesto de “fair play” e chute em um quadro que resvalou involuntariamente em Cícero.
Relação com a imprensa
O veterano tem lidado bem com a imprensa pernambucana. Já foi confrontando com assuntos que lhe incomodam (como a falta de títulos nos últimos anos), voltou a rejeitar que esteja ultrapassado e se livrou bem de um tema espinhoso: o título brasileiro de 1987.
Flamenguista confesso, Luxemburgo foi questionado a respeito de quem é, em sua visão, o campeão daquela edição. Entre o clube de coração e o que atualmente dirige, saiu pela tangente – e foi aprovado pelos rubro-negros. Como tem pouco tempo no cargo, ainda não conviveu com nenhuma grande polêmica – que não são raras ao longo de sua carreira.
Rogério Ceni mostrou diferentes maneiras de lidar com a imprensa. O ex-goleiro e técnico teve momentos pontuais de embates com jornalistas, mas mantém respeito aos profissionais. O ponto de maior tensão em uma entrevista coletiva do treinador ocorreu após a eliminação para o Defensa y Justicia, da Argentina, na primeira fase da Sul-Americana.
No entanto, essa conduta não é um padrão do técnico. Depois dessa entrevista, inclusive, ele parou de usar números de estatísticas dos jogos, segundo ele, por orientação interna. “Dizem que vocês não gostam”, brincou, ao justificar a mudança.
Opções táticas
No comando do Sport, o técnico ainda não teve tempo de experimentar muito. Jogou, basicamente, com apenas um esquema desde o início. É um 4-3-3 tradicional, que pode variar em 4-1-4-1 na fase defensiva – desde que os pontas recomponham e um dos volantes afunde para ficar entre a linha de meio-campo e a defesa. Normalmente, sem Diego Souza, tem atuado com três volantes no meio. Isso dá mais proteção, mas também limita a criação do Sport, que passa a depender mais das jogadas de lado.
Rogério Ceni moldou suas ideias ao elenco que tem à disposição. No começo do ano a proposta era clara: atacar, propor o jogo e marcação alta para, se possível, roubar a bola no campo de ataque e fazer o gol. A filosofia do novo treinador foi implantada e o São Paulo se tornou um time de extremos.
No Paulistão, marcou 33 gols e sofreu 23. A palavra da ordem depois das eliminações na Sul-Americana, Paulistão e Copa do Brasil era buscar equilíbrio. Aos poucos, Ceni está conseguindo. No Brasileirão, o time fez oito gols e sofreu cinco (até o clássico de domingo, na arena, tinha a defesa menos vazada da competição, com dois gols sofridos).
Comissão técnica
Luxemburgo levou três profissionais consigo para o Sport. O experiente Antônio Mello é o coordenador da preparação física. Mais jovem, Diogo Linhares – com início na base do Flamengo – é preparador físico. O auxiliar técnico é Júnior Lopes, filho do experiente Antônio Lopes. A relação entre eles é curiosa – já que, no início da carreira, Luxa foi auxiliar do hoje gerente de futebol do Botafogo.
Ceni escolheu seus auxiliares para virar técnico. O inglês Michael Beale, ex-Liverpool, e o francês Charles Hembert formam a comissão do treinador. Além deles, Pintado trabalha no dia a dia. O ídolo da torcida era técnico até aceitar o convite do Tricolor e foi contratado pelo São Paulo antes de Rogério Ceni, cuja trajetória na nova profissão foi iniciada no fim de 2016.
Treinos
Ainda é cedo para avaliar o método de treinamento de Luxemburgo. O técnico chegou ao Sport há menos de um mês – e, desde então, dificilmente tem tempo para trabalhar a equipe. A cada duas sessões de treinamentos, o Leão vem tendo jogos. Muitas das movimentações são fechadas à imprensa. Entre as que foram abertas, destacam-se os trabalhos táticos e os coletivos de campo inteiro. Nesse último tipo, o treinador está sendo bem participativo. Para bastante e aproveita erros e acertos para orientar ou elogiar os atletas.
Rogério Ceni é muito elogiado pelos jogadores do São Paulo por tornar os treinos dinâmicos. E mais do que isso: não repetir atividades no dia a dia, algo considerado inédito por alguns atletas. O técnico se destaca pelo estilo exigente e cobra muito de perto nas atividades. Em vésperas dos jogos, Ceni prefere fechar os treinamentos táticos para a imprensa, como na última terça-feira, antes de enfrentar o Sport.
Negociações
Com o sonho de se tornar manager, Luxemburgo não mostrou essa faceta ainda no Sport. O clube tem uma estrutura bem definida, com diretores amadores e um executivo remunerado, Alexandre Faria. E costuma trabalhar assim, com o treinador indicando e só participando diretamente dos negócios em situações específicas.
Quando tem relação muito boa com um atleta desejado, por exemplo. Mas, com parte do orçamento comprometido com o alto investimento feito no início do ano, o Leão ainda não foi com muita fome ao mercado para dar opções a Luxemburgo. Os nomes que chegaram para a Série A são, majoritariamente, atletas pouco conhecidos ou consagrados no cenário nacional – como o lateral-esquerdo Sander e o volante Patrick.
Ceni participa do processo de contratação indicando nomes e por vezes recebe sugestões do departamento de análise de desempenho do São Paulo. O treinador participou, por exemplo, da negociação de Sidão.
Ele ligou para o agora goleiro reserva e falou do seu desejo de contar com ele no Morumbi, ainda que não tenha lhe prometido uma vaga de titular. Ele também manteve contato com Cícero antes da contratação do volante do Fluminense. Os dois têm boa relação desde os tempos de jogador do ex-goleiro.
Estilos
Vanderlei Luxemburgo diz ser pioneiro como técnico brasileiro a usar terno e gravata nos estádios. De volta ao futebol no Sport, no entanto, ele tem adotado visual mais simples: ou camisa normal ou o agasalho do próprio Leão. Rogério Ceni, por outro lado, só usa o uniforme do Tricolor nos treinamentos. Nos jogos, ele adotou estilo clássico: roupa social. Curiosamente, a vestimenta lembra o antigo estilo de Luxemburgo, mas sem a gravata.