Em recuperação, Morato lamenta demissão de Ceni: “Difícil ver a saída dele”

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UOL

Bruno Grossi e José Eduardo Martins

  • José Eduardo Martins/UOL

    Morato ainda usa muletas para se locomover; jogador se lesionou após um jogo

  • Morato ainda usa muletas para se locomover; jogador se lesionou após um jogo

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    Na luta para fugir da zona do rebaixamento, o São Paulo enfrenta o Vasco, nesta quarta-feira, às 21h45, no Morumbi. Longe dos campos até o fim desta temporada, Morato vai torcer pelos colegas. Contratado em abril, o atacante sofreu uma lesão durante um jogo-treino e precisou passar por cirurgia para reconstrução dos ligamentos colateral medial e cruzado posterior do joelho direito. Assim, sem poder atuar, ele viu o time entrar em crise, o ídolo Rogério Ceni ser demitido do Tricolor e Dorival Júnior contratado para ocupar o cargo.

“Para mim foi um pouco difícil, até porque partiu dele [Rogério Ceni] a minha contratação. Eu ver tudo isso acontecer e não poder fazer nada é difícil. Foi difícil ver a saída dele”, disse Morato, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Depois de se destacar pelo Ituano no Campeonato Paulista, o atacante foi indicado por Ceni para ser contratado. Pelo Tricolor, ele teve a oportunidade de disputar apenas uma partida oficial, contra o Cruzeiro, na Copa do Brasil, quando deu uma assistência para Lucas Pratto na vitória por 2 a 1. Já lesionado, ele só pôde observar o time entrar em crise. No momento, o São Paulo soma apenas 12 pontos após 14 partidas no Campeonato Brasileiro.

“Aprendi que o São Paulo é muito grande. A pressão é muito grande. Tem uma frase, que é de um treinador, acho que do Muricy Ramalho, de que isso daqui não é nenhum parque de diversões. É uma empresa gigante, um Boeing, e cobrança todo dia. De fora, eu consigo ver mais isso do que talvez dentro de campo, que é a pressão da torcida. Aqui tem muita gente, é literalmente é uma empresa gigante”, afirmou Morato,

Confira abaixo os principais trechos da conversa com o atacante:

Recuperação e dor

Primeiro mês e meio é complicado. Você sente muita dor, dificuldade. Eu ainda estou largando as muletas, para você ver como a minha recuperação é um pouco diferente de outros casos de cirurgia de joelho. Mas estou evoluindo bem. Hoje (terça-feira, 18) eu larguei uma muleta, acredito que entre sete ou dez dias, no máximo, eu largo a outra. A gente nem tem trabalhado com metas para não se equivocar com algo que venha acontecer neste período. É dia a dia, mesmo. Para dobrar a perna eu ainda sinto muita dor. É minha limitação.

Nota da redação: Morato completou dois meses da cirurgia na última terça-feira (18).

Peso

Aqui no clube tem a nutricionista e não sou nenhum guloso. Então, a gente evita besteiras, mas é complicado porque você tem uma rotina de exercícios exaustiva. No campo, é outra situação e do nada você corta isso. Sinto um pouco, mas não vou ter muito problema com a balança.

Jogos do São Paulo

Nesse início tenho evitado ir ao estádio, porque é desgastante sair de casa. Estou reaprendendo a andar. Então, para eu não me desgastar muito e deixar de fazer algum exercício no Reffis, eu prefiro ver pela televisão.

Dificuldade de ficar longe do time

É complicado ficar fora, ainda mais nesse período que o pessoal tem sofrido bastante, que não consegue vencer – uma das maiores sequências sem ganhar. É triste até para quem está ali, para quem não tem condições de poder ajudar é complicado.

Relação com o restante da equipe

Como são meio vinculados o Reffis da academia, então a galera sempre passa ali e cumprimenta, para saber como estou. Tento explicar como estão as coisas e a galera tenta dar apoio. Só convivo com eles ali.

Clima com a crise

Na verdade, não tenho muito contato com o pessoal que tem jogado. Porque literalmente o pessoal só passa e cumprimenta por educação para saber como estou. Tem um ou outro com mais preocupação, mas o pessoal tem sentido. O pessoal não vê a hora de essa fase, que é meio conturbada, passar. O pessoal tem trabalhado bastante e acho é o caminho para a mudança.

Frustração

Prefiro não falar em frustração. Porque só foi interrompida minha história aqui. Acho que tem muita coisa para eu evoluir aqui dentro. Acho que tinha de aprender um pouco mais o que é o São Paulo para depois estar lá no campo. Para mim não é uma frustração, é um aprendizado. Esse tempo é bom para ver outras coisas não no trabalho, mas fora. A gente consegue perceber algumas coisas que eu prefiro não comentar.

Pressão aumentou com a falta de resultados?

Com certeza, sem dúvida. A galera, queira ou não, sente um pouco. A fase é ruim para todo mundo, até para quem está no departamento médico. Não tem como. Mas o pessoal vai passar por isso. É mais um obstáculo.

Primeira e última conversa com Ceni

Quando soube da notícia [da contratação], ele não tinha me ligado. Ele ligou depois de uns dois dias. Foi como passar no vestibular, que felicidade. Ainda mais pelo que ele representa. Foi muito especial, vai ficar marcado na minha carreira. Um dia desses, ele passou no CT e consegui me despedir dele. Muito triste, mas é o futebol.

Renovação de contrato

Para falar a verdade, não tem nada decidido. É mais uma coisa conversada do que escrita. Não penso nisso, para falar a verdade. Estou muito focado no meu joelho. Na hora certa, eles vão tocar nesse assunto da renovação ou não. Vamos ver isso mais para frente. O negócio agora é cuidar o joelho.

Nota da redação: Morato está emprestado ao São Paulo até o fim deste ano, mas o clube já demonstrou interesse em renovar o vínculo.

Recepção e mudanças no elenco

Na minha recepção, achei que iria sentir um pouco. Querendo ou não, tem um pessoal com nome. Você chega devagar, mas todos eram gente boa. Todos conversavam. Pessoal é brincalhão e naquela fase estava tudo bem. Classificado no Campeonato Paulista, tinha passado fase na Copa do Brasil, jogado Sul-Americana… O calendário era um. O pessoal é receptivo e me adaptei muito rápido. Não tenho o que falar do grupo. Do ambiente não posso falar muito [sobre mudança], porque fico isolado na fisioterapia. Trocaram bastante [os jogadores], mas nada que seja tão diferente assim. Não vejo tanta diferença.

Série B

O risco é para os 20 que disputam o campeonato. Os que se encontram naquela zona são os que vão cair. É realidade para todo mundo a zona do rebaixamento. Hoje é a nossa mas amanhã pode ser para as outras equipes.

Deixou boa impressão?

Tive bons treinos e fiz um bom um jogo. Mas não é suficiente, para falar a verdade. Mas é uma sementinha que plantei, vamos ver se isso semeia em dezembro.

Coreia

Fui com 17 anos. Era muito jovem e fui sozinho, ninguém da minha família junto. Tem certas coisas que você aprende na raça. A minha maior dificuldade não foi a língua, que você acaba se virando. O problema foi a pimenta. É até engraçado, mas não encontrava nada para comer. Ia na lanchonete, era com pimenta, em restaurantes com carnes de porco, que tinham pimenta… Eu era novo e não sabia cozinhar, era uma luta para comer. De vez em quando encontrava um restaurante que não tinha pimenta, tinha acho até que fazer reserva para mim. É cultural. Para mim, as dificuldades foram essa e o frio. O campo cheio de gelo. Sofri pouco, fiquei só um ano. Fui um dos estrangeiros mais novos no campeonato lá. Para mim, foi bom, como experiência. E o pessoal lá é muito profissional. Falam que o nível do futebol de lá é fraco, mas eu não acho. Eles têm as técnicas deles e se dedicam muito. Evoluíram bastante. Aprendi a falar algumas coisas, mas não me lembro direito.

Nota da redação: Morato defendeu o Gyeongnam, em 2010.

Ficha técnica

SÃO PAULO X VASCO DA GAMA

Local: Morumbi, em São Paulo (SP)
Data/Hora: 19 de julho de 2017, às 21h45
Árbitro: Wagner Reway (MT)
Assistentes: Fabio Rodrigo Rubinho e Marcelo Grando (ambos do MT)

SÃO PAULO: Renan Ribeiro, Bruno, Arboleda, Rodrigo Caio e Júnior Tavares; Jucilei e Petros; Lucas Fernandes, Cueva e Gómez; Pratto. Técnico: Dorival Júnior.
VASCO DA GAMA: Martín Silva, Madson, Rafael Marques, Paulão e Ramon; Jean, Bruno Paulista, Yago Pikachu, Wagner e Escudero (Guilherme Costa); Thalles. Técnico: Milton Mendes.