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Bruno Grossi, Eduardo Ohata, José Eduardo Martins e Ricardo Perrone
Mike Coppola/Getty Images/AFP
U2 fará três apresentações no Morumbi no mês de outubro
Tida como uma das áreas mais eficientes no São Paulo desde o início do ano passado, o marketing do clube voltou a sofrer um baque causado por acusações de corrupção. Após investigações internas, o Tricolor demitiu por justa causa o gerente da pasta, Alan Cimerman, por interferência no processo de venda de ingressos de camarotes para os shows da banda irlandesa U2, marcados para 19, 21 e 21 de outubro no Morumbi. O ex-gerente, por meio de seu advogado, nega as denúncias, mas o episódio foi levado até a polícia.
A demissão de Cimerman foi consumada há exatamente uma semana. O São Paulo tem evitado expor o caso, mas comemora que tenha conseguido identificar o problema. Já o antigo gerente, que era alvo de críticas de conselheiros pelos processos carregados por sua ex-empresa por acusações de calotes na organização de eventos para a Copa do Mundo, preferiu não falar muito sobre o ocorrido. Resumiu-se a uma mensagem falando em “muitas mentiras” e pediu que a reportagem entrasse em contato com seu advogado, Daniel Bialski – recentemente, defendeu o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, em processo de impeachment.
As denúncias contra Cimerman envolvem boicotes a camarotes do Morumbi para os shows do U2. Normalmente, os proprietários dos camarotes têm direito a ingressos de pista e cadeiras nas apresentações musicais realizadas no estádio. Desta vez, porém, apenas os bilhetes para pistas foram repassados e Cimerman, segundo as acusações, alegava que os demais estavam retidos a pedido da produção do show. O ex-gerente, ainda pelos depoimentos colhidos, repassava para uma empresa que vendia os ingressos e recebia dinheiro.
“Não é verdade, são fatos e condutas que não ocorreram. Há contratos de cessão de espaços e, ainda, os ingressos também seriam todos comprados do São Paulo. O Alan tem documentos, e-mails e gravações evidenciando que não houve qualquer fraude, sendo que toda negociação foi transparente e correta. As locações de espaço faziam parte das funções dele, assim como encaminhar a compra de ingressos. O clube assinou todos os contratos de cessão de espaço. Tudo era transparente e os contratos elaborados pelo departamento jurídico do São Paulo”, disse o advogado de Cimerman.
Esse foi o resultado das investigações iniciadas após o Conselho de Administração (CA) do São Paulo levantar dúvidas sobre o modelo de negócio feito para os shows do U2. Os membros do órgão questionaram primeiro as razões para o aluguel do estádio ter sido R$ 500 mil menor do que costumava ser praticado (de R$ 1,2 milhão para R$ 700 mil) e ouviram de Cimerman que a diferença seria recuperada com um lucro variável na venda de água durante as apresentações. A justificativa não convenceu o CA, que começou a ouvir relatos de pessoas comercialmente envolvidas com a organização do show.
“Fui chamado pela diretoria e pelo Conselho de Administração para falar. Sempre tive direito a 600 cadeiras em shows, mas no do U2, misteriosamente, fiquei apenas com a pista. Fui muito prejudicado. Tem ainda uma série de outras coisas, mas tudo está sendo muito bem investigado”, disse Marcelo Izar Neves, dono do camarote Espaço Unyco, ao UOL Esporte.
Após o alerta feito pelos membros do CA, entrou em ação um trabalho minucioso de Marcio Aith, diretor-executivo de comunicação e marketing. Aith é um dos contratados pelo presidente Carlos Augusto de Barros e Silva para formar a diretoria do São Paulo nas bases do novo estatuto, que exige profissionais especializados em cada setor.
Segundo relatos colhidos pela reportagem, Aith “colocou a mão na massa” para descobrir se havia, de fato, alguma irregularidade na organização dos shows do U2. O executivo procurou provas, conversou com os donos dos camarotes e outras partes envolvidas no processo e conseguiu cercar Cimerman. Agora, o executivo está concluindo procedimentos policiais.
O advogado afirmou o cliente irá a sindicato para homologar a rescisão com o São Paulo. Ao ser questionado sobre o porquê do ex-gerente ter assinado a demissão por justa causa mesmo alegando inocência à reportagem, Daniel Bialski respondeu: “Assinou porque seria irrelevante assinar ou não. Não significa admitir que tenha cometido um erro. Não falamos sobre isso (entrar com uma ação contra as acusações), mas, dependendo, creio que sim. O São Paulo não sofreu qualquer prejuízo e o Alan não cometeu qualquer ilícito. Questões comerciais mal resolvidas não podem ser resolvidas na policia. E nem podem elegê-lo como bode expiatório.”.
É a Casa da Mãe Joana.
Não é a toa que a divida só faz crescer, por mais que entre dinheiro com a venda de jogadores, esses canalhas roubam na cara dura o clube