UOL
Luciano Belford/AGIF
As aventuras de Pi é um filme norte-americano de 2012. Baseado em livro do mesmo nome, mostra a história de um indiano sobrevivente de um naufrágio na companhia de um tigre em acanhado barco salva-vidas. Mas poderia ser sobre a história de Hernanes, o meia do São Paulo que também é conhecido como Profeta.
Além de Pi ser o apelido do jogador desde a infância, como ele contou nesta entrevista ao LANCE!, a primeira após sua volta ao país, suas passagens flertam com a ficção: de tão formidáveis beiram ao inacreditável. Nos sete anos que passou fora do Brasil, quase todos jogando na Itália, Hernanes aprendeu a falar italiano, inglês, francês e se comunica em espanhol. Arranha mandarim apesar de só seis meses na China. Começou a estudar Engenharia civil e pensa em escrever um livro com uma tese ousada. Tudo isso ele contou em bate-papo de mais de uma hora no CT da Barra Funda.
Mas, no fundo, é parte da realidade de um jogador diferente, obcecado por conhecimento e que conquistou a torcida são-paulina por títulos (bicampeão brasileiro em 2007 e 2008), gols (39) e atuações históricas. Como a do último sábado, quando fez um dos gols na épica virada de 4 a 3 sobre o Botafogo. Resultado que deu novo ânimo ao time, mas não ilude Hernanes. O rebaixamento ainda não está espantado. Profeta também é pés no chão.
“Não (momento ruim passou). Vínhamos em um trem bem decadente, mas chegou um ponto em que a curva começou a mudar. Conseguimos parar, agora estamos nos preparando para inverter a curva. Estamos no ponto da curva, é o momento de começar a pensar que podemos subir”, disse, sobre a fase atual do time.
Subir a curva passa por vencer o Coritiba na próxima quinta-feira, quando Hernanes voltará a atuar no Morumbi após quase exatos sete anos. Antes do reencontro que promete ser emocionante, porém, o Profeta contou o que mudou desde sua saída em 2010, de onde vem sua inspiração para deixar bigode e cavanhaque, deu detalhes de sua conversa com Rogério Ceni no começo do ano e traçou algumas de suas metas: salvar o Tricolor e chegar à Copa do Mundo de 2018 na Rússia.
Na conversa, Hernanes falou “Aqui é São Paulo, Piii” em cinco idiomas diferentes. O “Piii”, no caso, foi a saída encontrada para não falar palavrão, Mas acabou virando mais uma das aventuras de Pi, o Profeta que os são-paulinos tanto gostam. Confira a entrevista:
O que mudou desde 2010, como pessoa e jogador?
Como pessoa… Eu… (Pensando). Posso dizer que, assim… Hoje falo inglês, falo italiano, um pouco de francês, me comunico em espanhol. Primeiramente, é isso. E era até um objetivo meu. Quando cheguei à Itália, eu queria aprender. Sempre gostei de aprender novas línguas, novos idiomas. Eu membro que alguns japoneses, coreanos, sempre vinham ao CT para fazer um período de estágio, e eu sempre me interessava por aprender outras línguas. Então quando cheguei na Itália, fora do país, eu pensei, quando eu acabar minha temporada aqui na Europa, quero voltar ao Brasil falando inglês, italiano, francês e alemão. O alemão não consegui, mas ainda não perdi esse objetivo (risos).
O que aconteceu com o alemão?
Num deu tempo. Porque eu me dediquei bastante, por exemplo, ao francês. Então, para não perder, começar a estudar o alemão, e não ter adquirido bem o francês… Eu não sou tão bom no francês, mas me comunico tranquilamente. Não tive tempo ainda de estudar o alemão, mas ainda tenho como objetivo.
Estudei também, um sonho antigo. Eu também nunca falei para ninguém, mas na Itália comecei a estudar engenharia, sempre uma vontade que eu tinha. Uma universidade à distância. Comecei fazendo um ano, estou no segundo ano. Foi algo também que me acrescentou no meu crescimento como pessoa. Futebolisticamente, mudou meu conceito. Porque antes aqui no Brasil, você pensa que um bom jogador de futebol é o que tem capacidade para driblar um, dois, de técnicas elevadas. Mas na Itália principalmente mudou completamente o meu conceito de um bom jogador. Na Itália vi jogador que não sabia dar um drible, mas que era muito útil à equipe, jogava taticamente, inteligente, aproveitava as outras capacidades para ser bom para a equipe. Então hoje para mim, para ser um bom jogador, o conceito mudou bastante… Claro, se você pega um Messi, um Neymar que têm capacidade de resolver sozinho, esses não são bons jogadores, são fenômenos que aparecem um a cada dez anos. E hoje para mim o conceito de bom jogador é que joga em dois toques, sabe se posicionar, entender a leitura do jogo, sabe entender o momento do jogo, de acelerar… Essa leitura, esse conceito meu mudou bastante. Foi algo que aprendi lá fora, de ver o futebol de maneira diferente.
Os idiomas você aprendeu sozinho?
Sim, aprendi sozinho. Aprendi… É, não posso falar que é sozinho. Eu tenho um método que utilizo. Por exemplo, queria mandar um abraço para meu amigo Ederson (meia do Flamengo). Agora lembrei dele. Ele morou na França, no período lá, e ele me ajudou muito no francês. Companheiro de quarto, eu perguntava: “Ederson, como se diz apaga a luz, como se diz pega isso, apagar isso”, e ele com uma paciência incrível, me ajudava muito. Meu coração fica muito dolorido assim com a história dele. Porque é um cara sensacional, joga muito, e sempre teve muitos problemas físicos. E sempre superou, nunca desmotivou, e agora mais esse. Fiquei bem sentido, triste por ele. Mas estou na torcida, na esperança, orando para que ele vença mais essa.
Ainda está fazendo engenharia?
Sim, comecei lá. Continuei estudando na China, com aulas por Skype (Programa que permite conversas em vídeo no celular ou computador). Aqui no Brasil ainda não deu para saber se estou fazendo ainda. Mas tenho o objetivo de continuar a engenharia Civil.
A engenharia te traz algo para o campo também?
Cara, tem a ver. Tem a ver assim. Porque quando você gosta de engenharia, você estuda física, química, matemática. E estudando física, eu tive uma fórmula, me deparei com uma fórmula que foi motivo para mim de uma percepção incrível, que me ajudou a descobrir um caminho. Dar um exemplo para ficar mais simples. Tinha certos tipos de treinamento que eu fazia, na parte física isso, e eu me sentia bem. E às vezes eu falava para o preparador físico: “Deixa eu fazer esse tipo de treinamento?”. E ele: “Não, não precisa. Aqui estamos no meio de temporada e tal”. E ele dava as teorias dele, mas eu sentia que fazia bem para a mim. Mas por respeito, eu não fazia. E quando eu me deparei com a fórmula de potência, que é igual a força mais velocidade dividido pelo tempo. E eu sempre quis ser mais forte, veloz. Fazia muito trabalho de velocidade, pique a curta distância e eu sentia que não melhorava. E quando eu fazia o outro tipo de trabalho, eu me sentia melhor. E aí com essa fórmula, eu descobri o porquê de eu sentir aquilo. Porque no futebol, o que conta é a potência. Ou seja, é o jogador fazer uma distância em menor tempo. Quando menor for o tempo de percorrer aquela distância, mais potente você é. Só que a potência tem duas variáveis, a força e a velocidade. E velocidade é algo puramente genético, ou você tem a fibra rápida ou você não tem. Não adianta, eu posso treinar o que for, que você vai ganhar muito pouco. Então ainda bem que existe a força. Então eu parei, para focar na força. Eu fiquei tão contente, tão importante para mim… Eu estudo a engenharia não foi por causa disso. Porque eu amo as construções. Uma coisa que gosto de fazer, que eu gosto. Mas quando eu me deparei com essa coisa que me ajudou com o futebol foi algo bem legal.
Quais eram os exercícios?
É… Não, aí vou ter de parar um pouco (risos). Porque não posso dar o ouro, os tesouros (risos). Foi muito legal essa descoberta dessa fórmula, e até penso de escrever um livro depois, com essa fórmula como base para um estilo de vida, do homem potente. Foi tão legal, porque eu tinha começado também lendo a bíblia, algo me chamou a atenção, que foi um versículo que falava do homem potente. E eu, poxa, vou estudar quais são os atributos que fazem de um ser potente. Comecei a estudar sobre isso, pesquisar, ler mais. Aí, de repente, me deparo com essa fórmula. Ai encaixou perfeitamente.
Você hoje é mais potente do que saiu?
Eu acho, eu acho.
Tem dados que comprovam isso? Está melhor?
Por exemplo… Para dizer que sim sem antes comparar os dados, teria de comparar. Mas me sinto. Mas o sentir não quer dizer que os dados comprovem isso.
Tem alguma fórmula para manter essa potência por muito tempo? Porque a idade cobra. E você tem 32 anos.
É o que penso. Quero jogar em alto nível, continuar. E se eu não conseguir mais executar esse tipo de treinamento que falei. Enquanto eu conseguir executar, significa que ainda existe potência, força para me manter potente, bem. Mas vendo o exemplo do Zé Roberto, claro que geneticamente ele tem algumas qualidades que eu não tenho. Mas ele é um exemplo de que se pode chegar bem longe. Tempo, ele não… Não sei, estou falando assim. Mas me lembro de dores que hoje sinto e não sentia antes. Estava pensando, meu filho está com dez anos e tem algumas dores em partes dos corpo. E eu tinha as mesmas e falavam que era da fase do crescimento. Depois essas dores passaram. E eu passei a ter outras dores, e agora é fase do envelhecimento (risos). Mas é impressionante como você pode manter.
Desenvolveu outras técnicas?
Na verdade, eu tentava escrever com o pé esquerdo, baseado em uma teoria que eu pensava. Se eu conseguir desenvolver a escrita com o pé esquerdo, a capacidade do meu cérebro será incrível. Porque eu dominando uma técnica como essa… Mas aí depois eu desisti. Porque aí entra o J. Alves (Nota da redação: amigo de Hernanes, ex-treinador da base do São Paulo que procurava aplicar métodos científicos para fazer o “jogador perfeito”. Faleceu há dois anos), que já tinha estudado mais do que eu, e falava que as técnicas para o futebol e teu ofício, são específicas. Se eu fosse muito bom em escrever com o pé, não queria dizer que dentro de campo eu seria bom no passe ou no chute de pé esquerdo. Mas descobri outra coisa. Técnicas parecidas você consegue melhorar.
Por exemplo, eu hoje escrevo com as duas mãos. Treinei para isso também, que eu queria. Uma técnica que desenvolvi. Tanto que meus últimos contratos eu escrevi com a mão esquerda.
Inclusive o do São Paulo?
Inclusive o do São Paulo (risos). E eu treinava bastante. Caligrafia, fazia isso. Mas chegou certo ponto que eu não melhorava mais. Para melhorar, tinha de escrever bastante tempo. Mas eu percebi que, uma semana, estava na concentração, toquei violão, toquei bastante. E toca as notas com a mão esquerda. E depois, quando fui escrever, estava melhor. Aí me veio uma dúvida. O J.Alves tinha me falado que uma habilidade não melhorava a outra, mas eu tinha melhorado. Então pensei que eu tinha de estudar mais, porque ele me confundiu. Mas era uma técnica parecida, porque uso os dedos. Tinha alguma coisa a ver com o movimento.
E essa fissura pelo lado esquerdo fez você fazer algo inédito: um gol de falta com a perna esquerda, depois de fazer um gol com a direita (Nota da redação: No dia 10 de maio de 2015, ele fez os dois gols da vitória da Inter de Milão sobre a Lazio por 2 a 1 pelo Italiano. Ambos de falta, com cada um dos pés).
Foi muito legal. Porque eu na base, no sub-15, fiz um de direita e um de esquerda. Mas no profissional não tinha conseguido fazer isso. E não sei se no futebol brasileiro ou italiano alguém tinha feito isso. É muito legal. Porque algumas pessoas na história foram ambidestro na mão, parece que Napoleão Bonaparte. Deve ter. Mas alguém ambidestro com os pés e com as mãos, são poucos. Quando comecei não pensava nessas coisas, mas hoje acho muito legal.
Quantas tentativas tinha feito até o gol?
Nos treinos sempre bati. Mas nos jogos, eu tinha tentado uma contra a Lazio. E naquele jogo, foi algo legal porque pensei, “ele me conhece, o goleiro da Lazio, e ele não vai desconfiar que vou bater de esquerda”. E eu falei, deixa eu pegar de esquerda que ele não vai esperar. Então foi também uma estratégia que usei e deu certo.
Aqui você batia menos falta por causa do Rogério, né? Não tentou nenhuma, né?
Não, aqui não.
E seleção brasileira. Você fechou um ano de contrato, até julho, que vai estar definida a lista. Você tem o plano de disputar a Copa?
Tenho. Tenho um plano, e não é sonho. Porque sonho e algo que a gente sonha, mas planejamento é algo que você quer chegar, tem as etapas, sabe o que tem de fazer para chegar lá. E está tudo traçado, vou executar e depois ver o que acontece. Faz parte do meu planejamento.
Na época do 7 a 1 para a Alemanha comentou-se que haviam indicado você para o Felipão colocar no lugar do Neymar. Soube disso?
Não. Sei que ele testou muitas coisas, eu também fui testado. Não lembro de nada falado, só desse trabalho.
Além da seleção, o que mais estipulou para esse um ano?
São 21 jogos, né? Estipulei de ter um segundo semestre espetacular em torno de resultados. Não enxerguei nem um ano, enxerguei agosto, setembro, outubro, novembro e alguns dias de dezembro. Quatro meses de resultados, de conseguir o maior número de pontos possíveis. Isso que visualizei, que planejei. Não tem esse objetivo de lutar por isso, por aquilo. Nem vi ainda a tabela, porque o que importa é o próximo jogo, é o planejamento.
Mas tem uma particularidade. Pelo calendário brasileiro, as competições estão decididas mais no segundo semestre. E ano que vem, só terá o Paulista no primeiro semestre. Vai brigar apenas por isso, é isso? Pensou nisso?
Não pensei, porque como falei meu planejamento foi só quatro meses, não enxerguei o próximo ano. São esses quatro meses. Não consegui ainda visualizar o segundo semestre.
Em 2008, você chegava falando “bom dia, tricampeões”. Usou algo agora?
Não, ainda não. Aquele foi algo de inspiração, inspiração mesmo e perceber o momento. Eu sempre fui ligado a isso, de fazer algo que ninguém fez, fazer algum tipo de história. E como vi que a gente estava ali para ganhar o tri brasileiro, percebi que tínhamos de ganhar, não podíamos falhar. Acho que dessa vontade, percepção, que veio isso.
Mas quando começou a falar estava longe, não?
Longe, não… Estava ali, acho que foi o jogo contra a Portuguesa, os 3 a 2 contra a Portuguesa. Foi a partir dalí.
Na Copa das Confederações em 2013 também teve algo, né?
Sim, verdade. Eu entreguei a foto do troféu para cada um. Antes da competição.
Avisou o Felipão antes?
Nem avisei, não. Era para visualizar o objetivo.
E na Copa não fez?
Pior que fiz. E não deu certo (risos).
Algo explica aquele 7 a 1?
Não, não tem explicação. Na vida e no futebol, acontecem coisas aleatórias, e aquilo foi um fato aleatório que acontece em determinadas ocasiões. Racionalmente, é difícil buscar logicamente alguma explicação. Não tem. Tivemos duas perdas importantes, que foram Neymar e Thiago Silva, mas não há justificativa. Foi algo aleatório, casual, que acontece de vez em quando.
Aquele resultado reflete a distância do futebol brasileiro para o europeu?
Existe essa distância, mas, se você pegar os jogadores que estavam atuando, a maior parte veio do futebol europeu. Isso não justifica. É fato essa distância do futebol brasileiro, que sempre teve como ponto forte a individualidade. Nos últimos tempos, se pegarmos as Copas entre 1994 e 2006, a Seleção tinha muitos jogadores que eram fenômenos. Em 2010, já teve um pouco menos e, em 2014, tinha o Neymar. Esse nosso ponto forte caiu nos últimos anos. Então, o Brasil teria que ter se preparado para isso do ponto de vista técnico e tático. Isso é um fato. Mas aquele resultado não explica esse fato, porque a maioria dos jogadores estava no futebol europeu.
Nessa sua volta, você percebe que o futebol brasileiro mudou?
Eu tenho que ver mais jogos. Eu não via os jogos pela diferença do fuso horário, teria que ficar acordado, e nem tinha TV brasileira na minha casa lá fora. Vi um jogo no Morumbi e participei de outro. Tenho que ver mais para ter algum parecer. Mas a primeira impressão é que se corre mais lá fora. Aqui, se compacta muito bem o jogo na intermediária defensiva. Na Europa, se joga mais alto, a pressão começa já no alto. Então, automaticamente, você tem que correr mais porque, quando o time está atacando, os zagueiros já compactam na frente e, quando o adversário vai sair com a bola, já tem uma barreira em cima. Aqui, o jogo vai, o zagueiro não vai tanto e já começa a recuar um pouco para esperar o adversário na intermediária defensiva. Fica bem difícil o jogo nessa faixa do campo aqui no Brasil.
O São Paulo está tentando te trazer desde o fim do ano passado e esteve bem perto de trazê-lo no início deste ano, pelo que você disse…
Perto, não. Foi a primeira vez em que disse: se der certo, vou. Mas não ficou perto porque chegou a China, fez a proposta e a Juventus já tinha acertado tudo. Não ficou perto, mas foi a primeira vez em que me dispus a voltar.
Por que essa disposição a voltar?
Porque tenho meus objetivos no futebol. Fui para a Juventus porque queria jogar uma Champions League, que eu não tinha jogado ainda por Lazio e Inter, e queria jogar, não participar. Só que comecei a ficar no banco e percebi que poderia até participar, entrando de vez em quando, mas não era esse o meu objetivo. Quando percebi que aquela porta se fechou, que não alcançaria meu objetivo, eu teria que dar uma replanejada, porque, por ali, não daria mais certo. Comecei a querer sair da Juventus e apareceu o São Paulo. Foi incrível. Em um treinamento, caiu aquela coisa e pensei ‘tenho que sair daqui’. Aí recebi um contato do São Paulo.
Quem te ligou?
O Rogério, e foi no mesmo dia. Nós já tínhamos nos falado antes e ele voltou a me contatar naquele dia que eu tinha decidido que queria sair.
O que ele te disse?
Ele perguntou como estava a minha situação, se a minha postura era a mesma de quando tínhamos nos falado anteriormente. Falei que minha postura mudou e que viria se desse certo.
Quanto te motivou ter sido o Rogério que te ligou?
Motivou bastante. É muito legal o seu trabalho ser apreciado pelas pessoas, mas, quando é apreciado por pessoas que você reputa como de alto gabarito é motivo de maior inspiração, dá um sentimento de prazer. Saber que um cara como o Rogério, como pessoa e conhecedor de futebol, queria contar comigo foi importante. Eu me senti motivado.
Vocês conversaram depois que ele saiu?
Não.
Em seu último jogo no Morumbi, em 5 de agosto de 2010, o São Paulo foi eliminado pelo Inter na semifinal da Libertadores e ficou marcada uma imagem sua chorando e abraçando o Rogério Ceni no campo. Agora, você vai voltar a jogar no Morumbi em 3 de agosto, quase sete anos depois exatamente.
Sete anos depois, show de bola. Aquele foi um momento bem marcante. Eu queria muito ganhar a Libertadores. Assisti à final da Libertadores em 2005 no Morumbi, ainda em transição da base para o principal, e vi como o torcedor são-paulino se identifica com a Libertadores. Como não consegui, foi motivo de frustração, e também por estar deixando o São Paulo, clube em que me criei. Para falar a verdade, sempre gostei do São Paulo, é incrível a minha identificação. Mas agora, nessa volta, pensei: poxa, caramba, eu não sabia que gostava tanto assim do São Paulo. Essa volta foi bem legal porque eu não sabia que gostava tanto desse lugar e dessas pessoas. Aquele foi um momento marcante em 2010.
Como você define seu sentimento pelo São Paulo?
Eu me sinto em casa aqui. Eu estava falando com um amigo: sentir-se em casa é se sentir confortável, você poder ser você mesmo, não ter que mostrar nada para ninguém, porque as pessoas te conhecem. Isso pode até ser perigoso, porque você pode se acomodar. Mas me sinto em casa, esse é o sentimento que aflora.
Você imagina como vai se sentir jogando de novo no Morumbi na quinta?
As coisas mudam muito rapidamente no futebol. Você está me escalando, mas ainda não temos a escalação oficial para saber. É necessário ter cuidado porque as coisas no futebol, como vimos no sábado, mudam muito rapidamente, o futebol é dinâmico demais. Se eu entrar em campo, vai ser mágico. Espero ver o Morumbi lotado depois da vitória como foi e esse momento interessante que o grupo está vivendo, porque vem de vitória contra o Vasco, o empate contra o Grêmio, que é uma grande equipe, e a vitória espetacular de sábado. O torcedor vai lotar o Morumbi e tem que lotar para nos dar força e apoiar. Será mais um momento marcante. Será mágico, mágico.
Se você pudesse escolher só um jogador que foi campeão brasileiro com você em 2007 e 2008, quem seria?
É, essa pergunta é difícil… Contrataria o Rogério. Já que ele quis me contratar (risos).
Por quê?
Porque ele foi um ícone em todos os sentidos. Quando eu estava subindo para o profissional, ele foi em um programa de televisão e me deu moral. Para mim, foi muito satisfatório. O Rogério Ceni falando bem de tu… Foi um dos momentos com ele que me marcou.
Pela sua relação bem próxima, pensei que você falaria o Jean.
Pensei nele também. Mas, agora, é meu rival (risos).
Ainda fala com ele?
Sempre mantivemos contato. Ele até brincou que, quando eu chegasse, ele viria ao São Paulo me receber. Somos irmãos, mais do que amigos. Vai ser legal jogar contra ele, nunca fizemos isso. Vai ser legal.
E por que você deixou essa barba?
Sempre gostei muito de cavanhaque e espero muito para deixar crescer, mas nunca crescia. Eu era fã do Felipe, ex-jogador do Vasco, que era canhoto e tinha o cavanhaque. Pô, eu era fã dele em todos os sentidos. Sempre quis ter, mas nunca cresceu. Sempre tirei durante a semana de jogo para aparecer bem. Agora, na China, que fiquei um pouco sem jogar, sem aparecer, eu deixei. Na hora que cresceu, falei: olha, ficou bonito.
Fale mais dessa inspiração no Felipe (Ex lateral-esquerdo de Vasco, Flamengo, Palmeiras, entre outros).
Mais do que tudo, além de ser craque, ele tinha um estilo só dele. Muito estilo, muito estilo.
No sábado, foi emblemático você falando ‘Aqui é São Paulo, pi’, para não falar um palavrão.
E meu apelido de infância é Pi. Meu pai que colocou esse apelido. Eu e meus irmãos temos apelidos que não têm explicação.
E tem o filme ‘Aventuras de Pi’. Já viu?
Não, mas eu estava lendo o livro até um tempo atrás. Parei na metade. Estava na parte em que teve tragédia no mar e ele estava sozinho no barco com o tigre.
Onde o São Paulo vai chegar neste Campeonato Brasileiro? Você tem como objetivo deixar o time na Libertadores?
No momento que estávamos vivendo, não dá para falar disso. Você precisa ter uma lógica para planejar as coisas, senão vira sonho, que é um negócio meio utópico. Planejamento é algo mais concreto que você vai para execução imediatamente. Meu planejamento era jogo após jogo, ganhando resultados, sem olhar a tabela. Neste momento, ainda não sei onde vamos chegar. Mas quero ganhar o maior número de pontos possível.
Você acha que o momento ruim já passou?
Não. Vínhamos em um trem bem decadente, mas chegou um ponto em que a curva começou a mudar. Conseguimos parar, agora estamos nos preparando para inverter a curva. Estamos no ponto da curva, é o momento de começar a pensar que podemos subir.
Você temeu vir para um clube que pode ser rebaixado?
Eu temi. Quando vi o São Paulo na zona de rebaixamento, até falei para o Aloisio, que jogou aqui e estava jogando comigo: ‘Não, o São Paulo não pode cair, está louco’. Alguns dias depois, apareceu um novo contato e a primeira coisa que pensei foi na minha história, que é tão bonita. Se eu viesse e caísse, poderia manchar. Eu estava em um momento bem complicado pessoalmente, porque as portas se fecharam para mim e eu buscava a reviravolta. Amigos meus estavam preocupados que eu não jogava, mas avisei que estava treinando e me preparando para jogar. Mas uma coisa é planejar e outra é fazer. Aí o São Paulo me chama. Pensei: ‘pô, eu que estou precisando de ajuda, por que o São Paulo vai querer minha ajuda’. Temi por isso. Pensei: ‘vou lá e, de repente, caímos juntos, mancha a minha história’.Mas minha esposa falou: ‘o São Paulo está precisando de tu’. Então, aquilo me fez abraçar isso. Se cairmos juntos, caiu, ferrou. Mas, depois que voltei á consciência de tudo que estava me preparando para fazer, percebi que era uma oportunidade fantástica que eu precisava. O São Paulo me ajudou quando eu precisava. Foi um encontro das coisas.
O que você pode dizer às pessoas que duvidam de você, que dizem que você não joga há dois anos e foi parar na China?
Nada. Foi um jogo só, não quer dizer nada. Só que não é assim, que não jogo há dois anos. Na Inter, tive uma passagem legal. A Juventus me comprou por isso, não foi lá comprar um jogador e só. No final da temporada 2014/15, eu estava em um momento muito bom na Inter e vivi um bom momento na Juventus. Nesses últimos seis meses, realmente joguei muito pouco. Mas é assim mesmo. Se você passar em uma obra, o que acontece: primeiro, fecham, isolam, não deixam ninguém ver o que estão fazendo, como era o meu momento sozinho, isolado na China, em processo de construção. Agora é continuar construindo, um tijolo de cada vez. Para fazer um prédio.
Outro patamar!
Mas esse bigodeco aih compete com o do Fred na Copa d 2014 pra fazer duplinha de ator pornô dos anos 70 hahaha