Chulapa perdeu Copa por agressão, mas se arrepende é de não ter batido mais

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Felipe Pereira
  • Antonio Pirozzelli/Folhapress

    Serginho Chulapa Serginho Chulapa

Serginho Chulapa estava voando em 1977. Artilheiro do Campeonato Brasileiro, vaga cativa na seleção e na boca de ser o camisa 9 na Copa da Argentina. Tudo desmoronou quando deu um bico no bandeirinha que anulou um gol dele. O gancho foi tão grande que perdeu o Mundial. Sabe o que ele pensa disso? “Não tenho arrependimento. Só me arrependo de não ter batido mais nele”.

Serginho também não tira o corpo fora e diz quem foi o causador do problema. Afirma que poderosos do futebol aproveitaram para beneficiar outro atleta. Na visão dele, o tribunal sediado no Rio de Janeiro deu uma suspensão grande para Roberto Dinamite, do Vasco, ser titular na Copa de 1978.

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O lance que tirou Serginho da Copa aconteceu na partida contra o Botafogo de Ribeirão Preto válida pelo Brasileirão. Uma roda de jogadores se formou ao redor do auxiliar e o atacante aproveitou para dar um biquinho no bandeirinha. Esperava um gancho, mas não os 12 meses a que foi condenado. Perdeu a Copa e a final Brasileirão. Abaixo o relato do ex-jogador fala sobre a situação.

Almeida Rocha/Folha Imagem

A perda da Copa

Tinha as rivalidades Rio, São Paulo, Minas. Eu dei mole também. Tudo é julgado no Rio e aproveitaram a chance para levar o outro (Roberto Dinamite) lá e me deram um gancho. Acho que esses caras que me julgaram já morreram tudo, com certeza já tão no inferno.

É que nessas coisas de julgamento no Rio existe um peso e duas medidas. Se for um jogador de outro estado e eles puderem ferrar, ferram mesmo. Se for do Rio, eles amenizam. Agora, acho que mudou a mentalidade, mas na minha época era assim.

Não vi nada (da Copa). Assistir o quê? Não me frustrei porque eu não fui não. Mas a minha Copa era a 78, na Argentina porque foi de choque, mais física. A Copa de 82 (Serginho foi titular) talvez não. Era um time técnico. Mas não tem arrependimento.

Recebi a notícia da suspensão em Campo Grande. Tava no hotel concentrado para jogar com o Operário no outro dia. O Chicão me avisou. Eu tava sabendo que os caras iam fazer isso, aquela velharada do Rio do Janeiro. Eu dei chance e tinha que arcar com as consequências. Mas não achei que ia ser um ano. Uns quatro meses, cinco meses eu esperava. Um ano, não.

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A confusão com o Botafogo (SP)

Fiz o gol e o bandeirinha anulou. E se eu soubesse que ia tomar um ano, cumpri acho que sete meses, eu tinha dado mais nele. Arrancado a cabeça dele fora se soubesse que um biquinho ia dar um ano. Mas é outra coisa que não tenho arrependimento. Só me arrependo de não ter batido mais nele.

Fiquei treinando no São Paulo. E graças ao São Paulo, se fosse outro clube, talvez eu seria até vendido, sei lá… Mas me pagaram direitinho. Esperei minha volta, teve uma anistia. Hoje nego joga drogado e pega 50 dias, 100 dias. As vezes não pega nada. Infelizmente é assim. Não tem uma coisa exata.

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Mesmo suspenso, foi a final

Eu tava em casa. Em casa não, no bar. Então o Minelli (treinador do São Paulo) cismou que tinha que ir lá. Ligou pro Muricy (Ramalho) pra me achar. Ele procurou a manhã todinha e foi me achar era meio-dia. O jogo era as 4h. “O Minelli quer você lá. Tem passagem comprada e tudo”.

Eu falei ‘fazer o que no Mineirão?’ E ele respondeu ‘você tem que ir’. Me levou pro Aeroporto em Congonhas. Fui num aviãozinho pequenininho, chovendo pra caramba. Me viram chegando. Quando coloquei a roupa e comecei a aquecer, o Minelli abriu a porta do vestiário. Foi aquele alvoroço todo.

A imprensa foi pro vestiário do Galo: o Serginho tá de uniforme. E foram atrás do Reinaldo (atacante do Atlético MG), que não podia jogar. Ele também vai jogar também. Depois fechei a porta, coloquei a roupa e fui para a arquibancada ver o jogo. O Mineli só queria fazer essa bagunça. Pelo menos valeu a pena. Se eu fosse lá e não ganhasse o jogo ia ser diferente.

A volta aos gramados

Eu tava com vontade a mais. Voltei bem, no meu peso e dei sequência na minha vida normal. Aqueles facínoras do Rio que me julgaram aproveitaram a chance para levar o outro. Não mudou nada no meu jeito de jogar, voltei a ser a mesma coisa que antes. Na verdade, arrumava contusão, mas pensava um pouquinho mais, controlava um pouco mais.

Quando tava parado, fiquei jogando na várzea. O clube não ligava de jogar para manter o ritmo. Domingo era fatal e eu não me machucava. O São Paulo foi correto, ficou me pagando sem eu jogar. Voltei e tive de retribuir. Fomos bicampeões Paulista 80/81.

Retribui sendo o maior artilheiro da história de um clube como o São Paulo. Não é pra qualquer um. Fui artilheiro dos campeonatos de 80 e 81. Fiz gol nas duas decisões, paguei até dobrado.

Não posso reclamar de nada na minha vida. Arrependimento comigo não existe.