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Time que perde ou está no Z-4 não tem padrão de jogo, certo? E sempre joga mal, afinal, se está no rebaixamento, é porque seus jogadores não se esforçaram o suficiente para ganharem, certo? Falta qualidade, raça, técnico experiente ou sal grosso para tirar a “zica” que acomete essas equipes.
Bom, nem sempre. E o Majestoso de maior público no país em 2017 mostra que times que lutam contra o descenso podem sim jogar (muito) melhor que seus oponentes, como o São Paulo fez contra o líder Corinthians: domínio absoluto da partida inteira, mudando os “tempos” de acordo com as circunstâncias. E o que parecia a esperança no gol de Petros significou, ao fim da rodada, a volta à zona de rebaixamento com apenas uma finalização, de Clayson.
Isso acontece porque jogar bem não significa vencer. Um time se aproxima da vitória quando tem uma ideia clara de jogo e quando aplica ela em campo. Isso, normalmente, é chamado de jogar bem. Mas o resultado é determinado sempre pelo número de bolas que entra em cada gol – o que depende de muitas, mas muitas variáveis além do jogar bem. Tanto Corinthians como São Paulo iniciaram o jogo apostando em seus modelos, apostando nesse “jogar bem”: o Corinthians entregou a bola, o Tricolor buscava as triangulações e a inversão de eixo para a bola chegar na área.
Melhor para o São Paulo, que apresentou movimentos muito fluídos de aproximações, flutuações e muita intensidade com e sem a bola. Na imagem, você vê o Corinthians todo no campo de defesa, montando as famosas 2 linhas de 4. E 8 jogadores do São Paulo ocupam esse mesmo espaço de jogo, todos com funções claras para desestabilizar a organização do outro lado: Petros (teoricamente o 1º volante) com a bola, e Cueva logo recua para dar opção. Pratto sai da área, buscando o levar um zagueiro e quebrar a quase inquebrável linha do São Paulo. Time próximo, jogando curto e chegando na área com muita gente.
Foi assim em todo o 1º tempo, quando o São Paulo ditou o ritmo das ações e fez, talvez, seu melhor começo de jogo no ano. Na segunda etapa, o Tricolor preferiu lidar com o jogo de outra forma, “copiando” o Corinthians e recuando suas linhas, com a mesma intensidade que teve quando estava com a posse: 2 linhas de 4, defesa posicionada para “atacar” a bola e fechando a área, Pratto e Cueva intensos no combate aos volantes, como na imagem – que é do 1º tempo, mas resume bem a estratégia do 2º.
E aí entram as variáveis incontroláveis do jogo. Afinal, o futebol é feito por humanos – seres dotados de grande capacidade criativa, mas também de pouca previsibilidade de comportamentos. É essa brecha, a quem nem o consciente da mente controla, que muitas vezes define o resultado de uma partida, de um campeonato…a bola esteve na área do São Paulo por um tempo antes de ser belamente finalizada por Clayson. Quem, em sã consciência e com o time nessa situação, não iria querer ela fora dali, afastando o perigo?
Sabe quando tem momentos que um time que está vencendo conta com aquela “sorte de campeão”? O lado racional da vida nos fala que sorte é probabilidade. Ou seja: tudo pode acontecer, e tudo tem suas chances. A explicação mais racional possível é a da concentração. Fazer um 1º tempo tão bom como o São Paulo fez exige um esforço mental muito físico, o que provoca desgaste, levando à falta de concentração. Dorival Jr. Precisou fazer as substituições para manter esse nível de “pegada”, e o Corinthians foi extremamente feliz e concentrado ao aproveitar uma de suas raras chances.
É o famoso “acontece”. Muitas vezes, jogar bem não é o suficiente para vencer. Uma lição que São Paulo e Corinthians terão que levar debaixo do braço para continuar com os objetivos no ano – bons desempenhos são menos lembrados que grandes resultados.