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Salve, devotos do maior Ronaldo,
Que sufoco foi esse? O futebol sabe mesmo fazer suas sacanagens: contra Ponte, Vitória e Corinthians, o São Paulo fez 3 jogos em que demonstrou uma evolução tangível, com atuações convincentes e correndo muito menos riscos do que seu habitual da temporada. Apesar da evidente superioridade sobre os adversários nessa trinca de rodadas, neste período a equipe treinada por Dorival “Situações” Júnior somou apenas 5 pontos em 9 possíveis, colecionando dois empates frustrantes justamente nos duelos em casa, quando saiu em vantagem e cedeu a igualdade em lapsos na segunda etapa. Resultados que, ao contrário de muitos merecidos insucessos em 2017, foram bastante mentirosos.
Frente ao cada vez mais desesperado Sport, quando todo o universo esperava a confirmação da “boa fase” (aspas mais que necessárias aqui), o Tricolor mostrou que sua velha irregularidade ainda o atormenta, voltou a gerar mais calafrios em sua torcida do que os cardiologistas recomendam e teve uma atuação pra lá de pálida. A bem da verdade, em boa parte do jogo, foi envolvido pelos rubro-negros, que não tiveram competência para superar sua seca de gols. Mas – e isso hoje é o mais importante – o São Paulo finalmente saiu do Morumbi vencedor, numa rodada em que os astros parecem ter se alinhado para combinar resultados bons que lhe permitissem sair deste pântano amaldiçoado para o qual nenhum turista jamais quer retornar: a zona de rebaixamento.
Desfalcado de Diego Souza, o vanguardista Vanderlei Luxemburgo decidiu vir ao Sacrossanto num 4-2-3-1 com os ex-são-paulinos Wesley, Rogeymar e Mena alinhados atrás de André, o centroavante. A ordem expressa era avançar a marcação e pressionar a saída de bola tricolor. E aí, o grande personagem do jogo começou a escrever sua curiosa história nesta tarde: Sidão, cuja contratação por Rogério Ceni foi alegadamente por “saber jogar bem com os pés”, demonstrou imensa insegurança toda vez que foi requisitado a fazer isso. Entre uma rateada e outra, bolas na fogueira e devoluções perigosas ao adversário, os pernambucanos iam ganhando terreno enquanto o São Paulo pouco produzia. A cada recuo para Sidão, um frisson aflito ecoava nas arquibancadas. A torcida, com boa dose de razão, temia pelo delivery da paçoca de seu camisa 12.
É preciso reconhecer que a fraquíssima jornada do excelente trio de meio-campistas são-paulino formado por Petros, Hernanes e Cueva teve influência direta sobre o domínio rubro-negro. Erros e mais erros de passes simples, dribles que não entravam, lançamentos inócuos: em sua própria casa, o Tricolor esteve quase sempre incômodo e arredio. Quando Lucas Fernandes conseguiu encontrar Marcos Guilherme livre para finalizar, a brisa calorenta da primavera tratou de derrubar o ponta antes do arremate, que veio manso. Anselmo, um volante à moda antiga, controlou Cueva e até se atreveu a visitar o ataque e soltar um míssil que Sidão desviou levemente para o travessão, impedindo assim que um golaço calasse os 43 mil espectadores. Seria esta bela defesa o ato máximo de redenção do nosso goleiro ou haveria mais por vir?
E foi então que, quando tudo parecia mais feio do que o horrendo uniforme com que jogamos, Hernanes acreditou numa bola perdida, deu um carrinho e a ganhou uma, duas vezes para entregá-la a Edimar, que chuveirou na área. Magrão, Henríquez e Ronaldo Alves decidiram encarnar Didi, Mussum e Zacarias, e a pelota sobrou límpida para o iluminado Marcos Guilherme conferir para as redes: 1×0, num momento em que o eterno goleiro do Sport já começava a pensar em deixar o Morumbi sem precisar nem tomar banho. Se não dá na boa, tem de ser na marra, e ninguém melhor que o Profeta e capitão do Tricolor para representar esse espírito. Assim, e só assim, o gol saiu, graças à persistência de Hernanes e à sorte da trapalhada alheia.
Na segunda etapa, o panorama da partida ficou cristalinamente claro: os visitantes, com a entrada de Osvaldo e o recuo de Mena à lateral, decidiram se lançar à frente, mantendo seu 4-2-3-1 e obviamente apostando no poder de urucubaca da clássica Lei do Ex, que no Morumbi costuma valer mais do que a própria Lei da Gravidade. Em contrapartida, o temeroso Tricolor (alô, Leco, pegou o trocadilho?) se fechou e se limitou a buscar os contragolpes, que eram sempre barrados por erros no passe final. Num duelo de poucas emoções, coube a parte da torcida na arquibancada azul se agarrar à bandeira do mítico Paulão Desmaio, na esperança quase irônica de que o time acordasse. Jonathan Gomez entrou fazendo jonathangomices, distribuindo trombadas, piques incansáveis e dessa vez até chegando bem à frente. Pratto, novamente um leão no ataque, ganhou da zaga do Sport e deixou Shaylon livre para marcar, mas o garoto parou nas mãos de Magrão.
O ápice de um espetáculo até então chocho estava mesmo reservado para o final. Aos 49 minutos, Osvaldo mandou um chuveirinho desses de deixar o futebol inglês dos anos 80 com inveja, Thomás venceu o hipnotizado Arboleda, meteu a testa na bola e obrigou o cornetado Sidão a fazer bonita defesa, espalmando para escanteio. Com os batimentos a milhão, na cobrança de Mena, Rithely desviou e achou Henriquez, deixado livre pelo ainda mesmerizado Arboleda. A cabeçada no cantinho, a queima-roupa, foi novamente salva por Sidão, desperto, esperto e abençoado pelo espírito de Paulão Desmaio. Fantástico! Apito final, 1×0, no sufoco, na raça, mas sem boa atuação. O futebol é lindo quando não faz o menor sentido e vemos uma multidão entoar “Sidão! Sidão!” até a voz acabar, menos de 1 hora depois de resmungar a cada toque na bola dele.
O sinal de alerta precisa ficar ligado, pois as rodadas anteriores deixaram nítido que o time pode e deve jogar mais que essa amostra grátis frente o Sport. O resultado, porém, é digno de festa e alívio. Aquelas 43 mil pessoas não mereciam novamente ir para casa frustradas. Num campeonato maluco em que 4 (QUATRO!) pontos separam o oitavo do décimo oitavo colocados, a 14a posição não permite que ninguém durma sossegado. Contudo, o peso simbólico de emendarmos quatro jogos de invencibilidade e de, após longo tempo, termos deixado o Z-4, não pode ser desprezado. Chega de alarmes falsos. Chega de dupla personalidade durante e entre os jogos. Chega de mentiras. Mesmo com toda a oscilação do mundo, as evidências apontam que o lugar do São Paulo em 2017 é bem longe da zona.