GloboEsporte.com
Marcelo Hazan
Pivô de renúncia de Aidar, zagueiro vive boa fase no Paraná e ainda não sabe se voltará ao Morumbi em 2018.
Caro leitor, faça o seguinte exercício de imaginação: você tem 19 anos e é contratado para jogar no time profissional do São Paulo. Ao treinar no CT da Barra Funda, depara-se com Rogério Ceni, Alexandre Pato, Ganso e Luís Fabiano, entre outros.
Nas semanas seguintes, o então presidente do clube, Carlos Miguel Aidar, renuncia sob denúncias de corrupção. Um dos episódios cruciais para o ex-dirigente se desligar do São Paulo, no dia 13 de outubro de 2015, é justamente uma suspeita sobre a sua transferência.
O acordo envolvendo Tricolor, Monte Cristo (clube da Terceira Divisão goiana) e Criciúma é denunciado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). A sanção máxima da entidade pode até causar um inédito rebaixamento do clube.
No mês seguinte, sem nem sequer ter estreado pelo time profissional, você é colocado para voltar a treinar nas categorias de base.
Agora, volte para a realidade: depois de tudo isso, você ainda teria cabeça para dar a volta por cima no futebol?
Esse foi o cenário encarado por Iago Maidana. Dois anos depois, ele é um dos destaques do Paraná, terceiro colocado da Série B e na luta para voltar à elite nacional após dez anos. O atleta, agora com 21 anos, soma a maior sequência de jogos da vida profissional: 16 partidas. Marcou quatro gols e vive o auge da ainda curta carreira.
– O pior momento foi quando torcedores julgaram o meu caráter, dizendo que eu iria rebaixar o São Paulo. Falaram muita coisa e tive de aceitar, provar que a culpa não era minha. Eu tinha sido vítima. Queria ir para um grande clube como o São Paulo. Todos sonham com isso. O mais difícil foi julgar meu caráter, mas eu, minha família e Deus superamos tudo isso juntos – disse Maidana, ao GloboEsporte.com.
O problema na transferência ao São Paulo se deu da seguinte maneira: uma empresa chamada Itaquerão Soccer tirou o zagueiro do Criciúma ao preço de R$ 800 mil e o registrou no Monte Cristo por dois dias. Depois, 60% de seus direitos econômicos foram vendidos ao Tricolor por R$ 2 milhões.
Novos ares
Mais de dois anos depois, Maidana deixa a polêmica para trás. No Paraná, foi acolhido e é grato ao técnico Matheus Costa pela chance no time profissional. Hoje, vive a inusitada situação de ter as torcidas de Paraná e São Paulo querendo seu futebol.
O vínculo com o Paraná vale até o fim do ano e, com o São Paulo, até setembro de 2018. O clube do Morumbi monitora a situação. Para a próxima temporada, qual é o desejo de Maidana?
– Não tenho (uma decisão). Quero atingir o objetivo do Paraná. Quero escrever história e depois no ano que vem pensar nisso. Ajudar quem me ajudou: a torcida e o clube. Tenho contrato com o São Paulo. Minha palavra não é a última. Se quiserem minha volta, eu terei de voltar. Se o São Paulo quiser renovar empréstimo, vou renovar. É uma incógnita. Não sei o que vai acontecer. Estou feliz. Ouço pela imprensa (o interesse do São Paulo no retorno), mas não chegou nada. Mesmo que chegasse, estou concentrado demais no Paraná para dar a volta por cima que sempre quis.
Na última segunda-feira, questionado sobre Maidana, o técnico Dorival Júnior fez elogios ao zagueiro. Rodrigo Caio, Arboleda, Bruno Alves, Lugano e Aderllan são as opções no elenco.
– O Maidana vem fazendo um bom campeonato e estamos acompanhando, mas não tem definição nenhuma – afirmou o treinador.
– Sempre foi o meu objetivo. Fui (para o São Paulo) confiante de que teria uma sequência. Claro, é um desejo meu vestir a camisa do São Paulo. Quem não quer? Até porque quero retornar para a seleção brasileira, a principal, e vou fazer de tudo. Gostei demais de vestir a camisa mesmo sendo da base. Esse é o meu objetivo: voltar para a Seleção, e acredito que seja vestindo a camisa do São Paulo. Sempre, claro, com muita gratidão ao Paraná. Serei eternamente grato, pois foi onde tudo começou.
Veja outros trechos da entrevista de Maidana:
Como foi retornar para a base do São Paulo
– Fiquei chateado, sim, porque estava no profissional do Criciúma. Achava que ia jogar no profissional do São Paulo. Para quem está no profissional e desce para a base, ainda mais que morava na Barra Funda… Tinha de pegar o carro todo dia e ir para Cotia. Mas não foi um passo para trás, porque a base do São Paulo em Cotia é muito conhecida e formadora de craques. Foi um aprendizado. O (André) Jardine é um baita treinador. Aprendi muito com ele. Como um cara grande, não tinha muita técnica. Hoje sou muito mais técnico e aprendi com ele. O Gustavo (Vieira, ex-gerente) me comunicou e disse que eu iria para ganhar ritmo de jogo e para me verem, porque não tinha jogado ainda. Aceitei e fiz meu trabalho. Fomos campeões da Libertadores (sub-20), Copa do Brasil e outros torneios.
Relação com Rogério Ceni
– Como goleiro, ajudou muito. Ele conversava comigo na época em que estourou a polêmica na mídia e dizia para seguir firme, levantar a cabeça, pois não era nada. Lembro que deu uma entrevista me elogiando. Como técnico, não tive a oportunidade (de trabalhar com ele).
Rodrigo Caio
– Converso sempre com ele. Na última vez em que estive na Barra Funda, conversamos muito. É um cara que me respeita muito e vice-versa. Admiro demais. Com certeza, quero jogar com ele um dia. Admiro pela postura fora de campo. É humilde, tem caráter e é um homem de verdade. Joga muito.
Carlos Miguel Aidar
– Não guardo rancor de ninguém. Sou bem de boa. Se vier conversar comigo, não vou ter rancor nenhum dele. Sim, prejudicou minha carreira… não sei se foi ele. Soube das coisas via imprensa, não sei até hoje o que foi ao certo. Não tenho rancor. Só quero trabalhar e continuar trabalhando.