Kaká joga cada vez menos tempo, mas foge de lesões e ainda decide

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    Kaká em ação no último jogo em casa pelo Orlando City, contra o Columbus CrewKaká em ação no último jogo em casa pelo Orlando City, contra o Columbus Crew

Se são as preocupações com o rendimento físico e técnico que fazem Kaká refletir se encerra a carreira neste ano, essas dúvidas sobre o desempenho do craque também afetam os fãs do futebol. Principalmente os torcedores do São Paulo, que vivem a expectativa de ver o ídolo defender a camisa do clube pela terceira vez em 2018. O UOL Esporte, então, ouviu pessoas que acompanham de perto a rotina do meia nos Estados Unidos e os números pelo Orlando City para saber se ainda é possível vê-lo jogando em alto nível por mais uma temporada.

Kaká não quer manchar uma carreira que conta com títulos como Copa do Mundo, Mundial de Clubes, Liga dos Campeões e um prêmio de melhor do mundo da Fifa, concedido em 2007. Muito menos quer arranhar a imagem no Tricolor, que foi fortalecida pelos efeitos positivos que levaram o clube ao vice-campeonato do Brasileirão em 2014. Se é para seguir atuando, o jogador quer conseguir ajudar em campo, e não somente tornando melhor o ambiente e a relação entre os atletas.

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“Aquelas jogadas de área a área, as arrancadas que nos acostumamos a ver, ele já não tem a mesma facilidade para realizar. Mas tecnicamente segue brilhante, com uma visão excepcional, poder de liderança. Ele, mais do que ninguém, sabe o quanto pesa colocar em risco a própria imagem se continuar a jogar e, principalmente, se voltar ao São Paulo. A pressão sobre ele sempre será grande pelo tamanho que tem e ele não quer diminuir o que foi para o futebol”, diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros, amigo da família e que acompanha a carreira de Kaká de perto desde os primeiros passos no São Paulo, na década passada.

Em três temporadas pelo Orlando City, Kaká reduziu quase em mil minutos seu tempo de jogo por ano: 2.439 em 2015, 1.955 em 2016 e 1.564 em 2017, quando ainda pode disputar mais uma partida. A quantidade de vezes em que foi reserva ou substituído também cresceu. Em 2015, atuou 30 vezes e foi substituído em seis. Na temporada passada, fez 24 jogos, saiu uma vez do banco e foi trocado em outras sete ocasiões. Por fim, neste ano, em que ainda pode somar mais uma atuação, apareceu em campo em 23 partidas, com cinco saindo do banco e seis sendo substituído.

Essa diminuição na carga de jogos fica ainda mais evidente quando são inseridos os dados referentes a 2014, quando Kaká dividiu a temporada entre Milan e São Paulo. Foram 46 jogos – dois saindo do banco e 20 sendo trocado -, totalizando 3.808 minutos. A queda pode ser explicada por uma recente declaração do craque à TV Globo, em que fala sobre como tem demorado para se recuperar a cada jogo: “O corpo começa sentir. Não é mais tanto prazer. Tem a parte de ser trabalho, profissão. Moleque joga hoje e amanhã de novo. Estou com 35, demora mais para recuperar. Você vai sentindo que está chegando a hora”.

O parecer clínico

“Pela idade (35 anos), ele está bem. Não sofre lesões além do que é considerado natural pela faixa etária. E ainda leva vantagem em relação a outros veteranos porque nunca teve ganho de peso na carreira, tem a vida profissional e a vida pessoal controladas, regradas. E treina mais que os outros, por isso é exemplo de dedicação. No tempo em que está nos Estados Unidos, sofreu apenas lesões musculares. Mais nada relativo a joelho, púbis, quadril, como sofria antes”, explica Turíbio.

Esse tipo de preocupação com o corpo não é algo novo para Kaká, que fez questão de montar uma operação especial para se manter saudável no Orlando City. Por sugestão de Turíbio Leite de Barros, por exemplo, indicou ao clube americano a contratação de Silas Waszczuk. O fisioterapeuta, que formalmente ocupa o cargo de “especialista em performance esportiva”, faz o acompanhamento diário de do meia para prevenir lesões, acelerar e otimizar a recuperação física.

Para reforçar ainda mais esse trabalho, o astro viajou ao Brasil no ano passado e passou por avaliação na clínica que Turíbio ainda mantém em São Paulo – o fisiologista, que mora há um ano e dois meses em Boca Ratón, na Flórida, pretende implantar projeto semelhante nos Estados Unidos: “Ele me ligou, pediu e o Orlando City liberou. Fizemos uma avaliação detalhada para entender os motivos das lesões musculares e a equipe montou um programa de reequilíbrio muscular. Foi como se ele tirasse os problemas com a mão”.

Técnica ainda se sobressai

Não é só Turíbio, amigo da família e de Kaká há mais de dez anos, que acredita que o desempenho técnico do craque ainda pode fazer a diferença. O volante brasileiro Artur, que está emprestado pelo São Paulo ao Columbus Crew, enfrentou o ídolo tricolor no domingo passado e, mesmo ganhando por 1 a 0, reforçou o que já havia observado ao longo da temporada regular da Major League Soccer (MLS): Kaká ainda pode fazer a diferença em campo.

“Com a qualidade que ele tem, de passe, de finalização, ele tem conseguido superar a diferença na intensidade, que é alta aqui (nos Estados Unidos). Mas do corpo dele, só ele mesmo pode falar o que sente. Tecnicamente segue um craque”, diz Artur. A opinião ganha força com as estatísticas. Nesta temporada, Kaká deu cinco assistências e fez seis gols em 23 atuações. Ou seja, a cada dois jogos participou diretamente de um gol – mesmo que tenha completado somente metade dos confrontos.

Nas temporadas anteriores, a média era ainda maior. Em 2016, em 24 jogos, fez nove gols e deu dez assistências. Já em 2015, no primeiro ano em solo americano, foi às redes em nove ocasiões e deu sete passes para gols. O menor nível técnico da MLS pode ser usado como atenuante sobre esses números, principalmente se comparados aos dados das últimas temporadas por São Paulo e Milan. No Tricolor, em 2014, deu uma assistência e fez dois gols em 18 atuações. No Milan, na temporada 2013/14, foram cinco assistências e nove gols em 43 partidas.

Na avaliação do São Paulo, é possível confiar na técnica de Kaká e há a consciência de que não será possível aproveitá-lo em jogos completos com frequência, ainda mais com o calendário apertado devido à Copa do Mundo de 2018. O clube acredita que vale mais respeitar os limites do corpo do ídolo, até o aproveitando como um reserva de luxo, que pode decidir um jogo ao entrar no segundo tempo, do que abrir mão de vê-lo encerrar a carreira no Morumbi.

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