O Mais Querido na Inauguração do Pacaembu

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Por Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube

Foi na inauguração do Estádio do Pacaembu, em 1940, que o Tricolor ganhou uma das alcunhas mais famosas do clube: “O Mais Querido”. A história do nascimento desse apelido é uma prova de adoração e respeito do povo paulista pelo time e pelos simbolos do Estado.

Em 1937, o governo de Getúlio Vargas promoveu, em praça pública, a queima de todas as bandeiras estaduais em um ato extremo de autoritarismo contra o federalismo estadual e outras liberdades constituídas (derrubou também o Congresso e a Constituição). O uso dos símbolos estaduais estava, então, proibido. Nesse contexto, em 27 de abril de 1940, o estádio do Pacaembu foi inaugurado. Getúlio Vargas, como presidente, foi convidado para os festejos. No decorrer das solenidades de abertura, com um público estimado em 60 e 70 mil pessoas, começou o desfile das delegações esportivas pelo novo estádio.

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Esportistas argentinos, uruguaios e peruanos, além de atletas de Coritiba, Portuguesa, Ypiranga, Juventus, Paulistano, Esperia, Corinthians, Germânia e Palestra Itália, dentre outros, já haviam completado o trajeto e adentrado ao gramado quando a comitiva são-paulina surgiu na pista. A delegação são-paulina era pequena, se comparada a Germânia e Tietê (tradicionais clubes poliesportivos) ou aos outros grandes clubes de futebol da Capital, mas não fez feio: ao contrário!

  • “As representações de Corinthians e Palestra Itália foram ovacionadas pelas suas torcidas ao entrarem em campo. Todavia, nada igual à recepção tricolor. O estádio veio abaixo com a entrada da delegação do São Paulo, que, além do nome, trazia na camisa as cores da bandeira paulista. Era uma resposta do público ao presidente Getúlio Vargas, odiado em São Paulo desde a Revolução Constitucionalista de 1932. As manifestações de apoio ao São Paulo vinham de todas as partes, das camadas populares nas arquibancadas ao setores mais nobres do estádio. A multidão em peso se levantou aplaudindo e gritando entusiasticamente: – São Paulo, São Paulo, São Paulo! – apontando para a tribuna de honra, onde estava o presidente Getúlio Vargas.” (Conrado Giacomini, Dentre os Grandes, És o Primeiro).

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A descrição não foi nenhum pouco exagerada. O Jornal Folha da Manhã, do dia seguinte, também registrou o fato. “O público esportivo propriamente dito demonstrou quanto é querido o S. Paulo F.C., pois, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o nome ovacionado deliberadamente”. O diário A Gazeta, corroborando, foi além, e estampou: “O Clube Mais Querido da Cidade” ao lado da foto da delegação tricolor, com placa e bandeira do São Paulo. O mesmo se deu no Diário da Noite, de 30 de abril.

Esse apelido, justamente, teria sido o comentário de Getúlio Vargas aos pares dele ali presentes, ao constatar a reação da população paulista presente no Pacaembu à comitiva são-paulina: – “Ao visto, este é o clube mais querido da cidade”. Se Getúlio Vargas se fez de bobo, ou não, não é possível saber. Mas é fato que a afirmação se espalhou como fogo em rastro de pólvora.

Quase que imediatamente depois, o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) promoveu um um concurso público, aberto a todos os torcedores, para saber, afinal, qual era o clube mais querido da cidade. Os favoritos eram Corinthians e Palestra Itália, com torcidas bem mais numerosas do que a do Tricolor, na época. Porém, o resultado final do referido concurso foi uma surpresa para os incautos!

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Em um universo de 11.528 votos, ao São Paulo foram destinadas 5.523 escolhas (47,90% dos participantes). O Tricolor venceu o concurso disparadamente na primeira posição (com um total de votos maior que a somatória obtida dentre o segundo e terceiro lugar). A classificação final a seguinte:

  • 1º – São Paulo, 5.523 votos;
  • 2º – Corinthians, 2.671 votos;
  • 3º – Palestra Itália, 2.593 votos;
  • 4º – São Paulo Railway, 203 votos;
  • 5º – Ypiranga, 141 votos;
  • 6º – Portuguesa, 138 votos;
  • 7º – Santos, 87 votos;
  • 8º – Comercial, 65 votos;
  • 9º – Juventus, 60 votos;
  • 10º – Portuguesa Santista, 29 votos;
  • 11º – Espanha, 18 votos.

Assim foi oficializado! O São Paulo Futebol Clube é o Mais Querido da Cidade! Com direito a troféu e tudo mais. Em setembro daquele ano, na Revista Arakan, o Grêmio Sampaulino, órgão de apoio do São Paulo, passou a utilizar a frase como epíteto do clube. Em 1941, o Tricolor tornou-o oficial. Esse slogan até hoje figura nos impressos e correspondências oficiais do clube.

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Como já dizia Thomaz Mazzoni: “Brasileiro de São Paulo: O São Paulo FC é o teu Clube, pois tem o nome de tua terra e a alma de tua gente”. Hoje, o panorama do Brasil é outro. O São Paulo rompeu fronteiras: estaduais, regionais, nacionais, internacionais… não pertencendo mais a um único povo, a um único chão. Ainda assim, contudo, teve tradicional berço, ao qual honrou com orgulho – principalmente quando mais precisaram.