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Alexandre Alliatti
Livre do rebaixamento, Tricolor não pode apagar os erros de um ano repleto de sustos. Tem que lembrar (e aprender) para não repetir.
O alívio traz uma tentação: tocar a bola para a frente, fingir que não aconteceu, esquecer. É o maior equívoco que o São Paulo, agora livre do rebaixamento, pode cometer. A salvação não deve tornar 2017 um ano a ser apagado. É o contrário: deve fazer com que ele seja lembrado o tempo todo – até que se aprenda com ele. Caso contrário, 2018 pode trazer outro martírio.
O torcedor tricolor, nesta segunda-feira, vai querer repetir aquele lema: “Time grande não cai”. Tem mais é que dizer mesmo – a zoeira é soberana, e Hernanes também tem todo o direito, como na postagem abaixo:
Mas tem um porém: time grande cai, sim. E o São Paulo ficou em vias de cair. Por alguns motivos:
- Porque virou o elenco de ponta-cabeça, com chegadas e saídas, enquanto corria a temporada;
- Porque colocou seu maior ídolo como treinador mais pela idolatria do que por convicção em seu trabalho, como a demissão em julho mostrou;
- Porque teve uma sucessão de diretorias que permitiram que o clube parasse no tempo.
Outros fatores impediram o rebaixamento. Dois são centrais:
- A aposta segura em Dorival Júnior depois da saída de Rogério Ceni. Naquele momento, o São Paulo não poderia errar;
- E, acima de tudo, a chegada de Hernanes.
O Profeta salvou o São Paulo do rebaixamento. Sua chegada revolucionou o time. Com ele, o São Paulo não ganhou só qualidade: recebeu uma liderança, uma referência para um time assustado, um ídolo. É exagero tratar Hernanes como craque do campeonato, mas ele foi o jogador mais importante para uma equipe neste Brasileirão.
Hernanes esteve em campo em 19 partidas com o São Paulo na competição. Fez nove gols, deu três assistências e alcançou 50,8% de aproveitamento (índice de sexto colocado). Sem ele, o rendimento tricolor foi de 33,3% (superior apenas ao Atlético-GO). No domingo, o empate por 0 a 0 com o Botafogo escancarou a falta que o meia faz.
De tão decisiva, a presença de Hernanes deixa uma dúvida: como seria o futuro de Rogério Ceni se ele tivesse a oportunidade de usar o jogador? Ceni foi demitido em 3 de julho; Hernanes reestreou 26 dias depois.
O jogador foi um salvador da pátria para o São Paulo. Mas quando uma pátria precisa ser salva, é porque há algo errado nela. Em um clube que só tem a Sul-Americana de 2012 como título na década, isso parece bastante evidente.
Nas duas rodadas finais do Brasileirão, o São Paulo ainda brigará por uma improvável classificação para a Libertadores do ano que vem. Com ou sem a vaga, o clube passará por nova reformulação no elenco. E é necessário que esse processo esteja resolvido no começo do ano. Assim, será menor o risco de um treinador, lá em novembro, falar o que Dorival falou neste domingo:
– O São Paulo sempre foi uma equipe que brigou pelas melhores colocações e tem que voltar a ser. Tem que protagonizar de novo o campeonato. Contratar por contratar, não sou a favor. (…) Esses sinais negativos têm que ser muito bem avaliados e trabalhados para que não voltemos a tê-los. O São Paulo é muito grande e precisa caminhar de outra forma.