Marcelo Hazan – GloboEsporte.com
Aos 22 anos, Jean conseguiu no Bahia o que goleiros mais velhos nem sempre alcançam: foi titular nos 38 jogos da equipe na Série A, logo na primeiro ano atuando na elite do futebol nacional.
Essa marca chamou a atenção do São Paulo. Coincidentemente, o maior ídolo da história do clube – o ex-goleiro Rogério Ceni, atual técnico do Fortaleza – é a referência de Jean na posição.
Mesmo evitando falar sobre o futuro, o jovem goleiro, cujo nome foi gritado pela torcida são-paulina no domingo, no Morumbi, apresenta as suas credenciais:
– Não vou falar como se fosse jogar no São Paulo. Independentemente de clube, meu objetivo é sempre dar o melhor para conquistar títulos. É o que me motiva para entrar em campo – disse ele ao GloboEsporte.com.
Tudo indica que Jean vestirá a camisa do Tricolor paulista em 2018. São Paulo e Bahia têm um acerto verbal pela transferência, mas a concretização do acordo só sairá depois da eleição no clube baiano, marcada para o próximo sábado.
GloboEsporte.com – Você jogou todas as partidas da Série A com 22 anos. Como avalia a temporada?
Jean – Foi um ano muito bom. Além de ser novo e jogar as 38 partidas em alto nível, fazendo boas defesas, o que mais me orgulhou foi ter feito a melhor pontuação do Bahia na era dos pontos corridos (50 pontos). Estou muito feliz com o desempenho da equipe e também com o meu pessoal.
Como começou a bater faltas? Alguém sugeriu ou foi uma vontade própria?
– Sempre tive uma qualidade específica de jogar com os pés. Na base, por orientação de um técnico, comecei a treinar e o aproveitamento era bom. Isso foi no último ano de base. No profissional dei uma parada. Você não vai querer chegar ao profissional e já bater de frente com os outros jogadores (risos).
– Depois que eles treinavam comecei a bater. Aquele vídeo que viralizou foi quando estávamos na Série B, em 2016, e viemos treinar no CT do Palmeiras. Eu estava treinando e fiz o gol. Fui e falei aquilo (“Eu sou o novo Rogério Ceni!), mas sem querer desrespeitar a torcida do Palmeiras. Foi um vídeo para o Bahia. E então, em 2017, o Carpegiani chegou. Ele tinha sido treinador do Rogério Ceni e do Chilavert, o que me deu força. Ele me viu treinando e falou: “Vou colocar você para bater, hein?”.
E como foi bater uma falta no Morumbi, onde o Rogério Ceni fez tantos gols e você pode jogar em 2018?
– Foi algo especial bater uma falta onde o Ceni fez história, mas não tenho certeza de nada. Como sou do Bahia, estava tentando ajudar a minha equipe. A bola bateu na barreira, mas foi especial cobrar uma falta no Morumbi.
Desde quando você se inspira no Rogério Ceni?
– Eu acompanhava o meu pai (o ex-goleiro Jean, de Bahia, Vitória, Corinthias e Flamengo, entro outros) desde pequeno e também gostava de ver o Rogério jogar. Ele fez gol no meu pai, mas nunca tive contato com ele. Mas eu via os gols dele. Quando criança, quem nunca fez uma defesa e gritou “Taffarel”? Naquele vídeo, quando eu fiz o gol de falta no treino, o nome do Rogério foi o primeiro que veio à cabeça.
– Rogério é um ídolo para mim, foi pioneiro cobrando faltas no Brasil. Tenho muita admiração. Não quis me comparar a ele. Para mim, o Rogério é único. Teve sua história no São Paulo. Vou procurar fazer a minha no futebol. O meu foco principal não é a falta. Se o time que eu representar tiver outros cobradores de falta, eu não vou querer disputar. Meu foco é ajudar o time… Mas sempre o via jogar pela televisão. Acompanhei o Mundial, lembro aquela defesa dele contra o Liverpool, em 2005. Eu era pequeno, mas ali foi o “start”.
A minha informação é de que há um acerto verbal do São Paulo com o Bahia por você…
– Estou sabendo por você. Para mim, não chegou nada. Sempre fiquei concentrado no Bahia. Meu empresário (Paulo Pitombeira) e o (presidente) Marcelo Sant’Ana estavam cuidando. Vi algumas coisas pela internet que a minha família me mandou. Pelo meu empresário e pelo presidente do clube, não chegou algo concreto.
O que representaria para você jogar no São Paulo?
– Não vou falar como se fosse jogar no São Paulo. Independentemente de clube, meu objetivo é sempre dar o melhor para conquistar títulos. É o que me motiva para entrar em campo. Trabalhar a cada dia mais para voltar à seleção brasileira. Quero voltar um dia. Para a Copa do Mundo de 2018, (o grupo) está praticamente fechado, mas vou trabalhar para um dia voltar. Joguei na Seleção de base o Mundial (Sub-20) de 2015. Os goleiros que estão lá têm histórico de base. Dificilmente um goleiro vai chegar sem isso. Tenho experiência, mas sem pressa. Quando acharem que devo ir, eu vou.
Como recebeu o interesse do São Paulo no seu futebol?
– Fico feliz não só pelo interesse do São Paulo, mas também de Benfica, PSG e Real Madrid… Vi que saíram algumas coisas. Isso mostra que o meu trabalho está sendo visto, não só no Brasil como em outros lugares, por clubes gigantes.
Você sonha em jogar no São Paulo?
– Sou bem profissional. Claro que fico feliz porque o São Paulo estar atrás de mim, mas onde estiver vou dar o meu melhor para ajudar o time. O time que eu estiver representando vou mostrar amor à camisa. Onde estiver, o que o torcedor pode esperar do Jean é garra, raça e um cara sempre querendo ganhar. Sou um cara competitivo, que não gosta de perder.
A torcida do São Paulo gritou o seu nome durante o jogo no Morumbi. Escutou?
– Eu estava concentrado no jogo, mas escutei, sim, uma parte da torcida gritando. Independentemente de gritar o meu nome, a torcida do São Paulo fez uma linda festa com 60 mil torcedores. Mesmo representando o Bahia vi que foram fundamentais para o São Paulo sair dessa situação. Nunca tinha vivido isso. Foi legal, mas ali no momento do jogo não dá para curtir.
Hoje você se vê pronto para ser titular de qualquer time da Série A?
– Sou um cara competitivo. Quando vejo um goleiro mais novo do que eu jogando, e eu fora, penso que tenho de jogar. O que aconteceu com o Donnarumma, no Milan, me mostrou um diferencial de estar jogando. Não me acomodei só por estar no profissional. Conseguir jogar todas na primeira Série A é motivo de orgulho para mim. O Donnarumma é de 1999, e eu sou 95. É mais novo do que eu. Acompanho futebol de todos os lugares, na concentração e tudo mais.
– Minha mulher brinca comigo dizendo que eu vivo futebol. Vi que ele surgiu novo. Na época, tinha 16 anos quando estreou no profissional do Milan. Foi algo que me motivou a querer jogar de qualquer jeito. Pensava: “Ele é quatro anos mais novo do que eu e está jogando, e eu não. Tem algo errado”. Se ele pode, eu também posso. Me espelhei nele.
Da onde vem essa personalidade? Tem a ver com seu pai, o ex-goleiro Jean?
– A personalidade vem desde criança. Meu pai tem influencia, sim, mas também aprendi muito. Apanhei bastante. Aprendi a tapar o ouvido para as críticas e seguir em frente trabalhando. Os elogios também não podem tomar conta de você. Sou um cara de personalidade forte: me incomodo com críticas e gosto delogios, mas não dou ouvidos.
Nas redes sociais, a torcida do São Paulo tem dado boas-vindas a você…
– Por enquanto, não tem nada concretizado. O papel não está timbrado. Estão dando “bem-vindo”, mas é aguardar a eleição e o ano acabar.