O São Paulo iniciou a temporada 2018 com muitas caras novas no elenco. Entre jogadores conhecidos e contratações de peso, como a de Diego Souza, Anderson Martins e Nenê, o clube traz novidades moldadas em Cotia ao longo dos últimos anos. Não à tona o elenco são-paulino traz hoje 18 jogadores oriundos da base do clube. Dessa lista, que inclui o “veterano” Rodrigo Caio, oito foram incorporados ao grupo principal no começo deste ano, sob o comando do técnico Dorival Júnior.
Na primeira parte de uma entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o treinador do São Paulo fala sobre o espaço dado aos jovens no elenco e descartou que a escolha esteja ligada a alguma necessidade da equipe. Para justificar o pensamento, Dorival lembrou de outras oportunidades em que fez a mesma opção.
Além disso, o treinador são-paulino falou sobre a situação do atacante Brenner, que estreou no time profissional em novembro passado. Titular de Dorival nos primeiros jogos da temporada atual, o atleta de 18 anos marcou o segundo gol pela equipe de cima contra o Corinthians, no último sábado. Nesta quarta-feira, o espaço dado aos garotos ganhará mais um capítulo: Brenner e mais dez jogadores da base estarão à disposição de Dorival na estreia do São Paulo na Copa do Brasil, diante do Madureira, em Londrina, no Paraná.
Confira as respostas de Dorival Junior:
UOL Esporte: Por que outros técnicos e clubes não lançam jovens? E por que quem lança, como você, o Santos e o São Paulo, toma essa atitude?
Dorival Júnior: Me desculpa. Aí é uma questão de coragem, de ter sensibilidade e acreditar no trabalho de garotos que não tenham talvez o nome, a experiência e a vivência de outros profissionais. Não é característica de equipe, não é necessidade de equipe. Até porque já lancei jogadores onde eu tinha outras opções, já lancei onde faltavam opções. Tudo é questão de acreditar neste tipo de trabalho acima de tudo e ter a sensibilidade de, de repente, no momento certo, na hora e no instante que esse atleta esteja e você o sinta preparado, você apenas dê o empurrão necessário para que ele possa seguir.
UOL Esporte: Qual tamanho projeta para o Brenner? O que ele pode dar de tão diferente para haver tanta expectativa sobre ele?
Dorival Júnior: Se o Brenner mantiver tudo o que vem nos mostrando, não tenho dúvidas de que será um grande jogador, um jogador para grandes times europeus. Ele tem um potencial de definição muito bom, inteligência para jogar futebol. São aspectos importantes e fundamentais para quem recém-completa 18 anos e já começa sentir as responsabilidades que tem e as obrigações que terá a partir do momento que vestir uma camisa tão pesada como a do São Paulo, tendo que fazer o melhor e deixar um recado ao torcedor.
UOL Esporte: E na parte comportamental, como ele é?
Dorival Júnior: Ele é bem tranquilo. É um garoto que é atencioso, muito preocupado em querer melhorar, um fator importante. Se não perder essa essência que apresenta neste momento, não tenho dúvidas de que o caminho dele será brilhante.
UOL Esporte: A vontade de usar garotos tem relação com a falta de vícios deles em campo? Isso facilita moldá-los a uma função?
Dorival Júnior: Eu acho que não, porque têm muitos garotos que já sobem com muitos vícios. A formação no país nunca foi, nunca demos atenção, e estendo ao trabalho das categorias de base, que de alguns anos para cá começaram a se preocupar um pouco mais. Mas a nossa formação ainda não é das melhores. Ainda que tenhamos grandes profissionais, interessados, buscando um novo espaço, acrescentando muito em algumas equipes de trabalho e já começamos a ver resultados desse trabalho que se estende há alguns anos, mas não massificamos tudo isso. Não temos uma formação por completo, um conceito de formação difundido em todos os clubes. Ainda é uma carência. Pegamos jogadores que têm vícios, que são difíceis de ser trabalhados, mas tem aquilo que o jogador brasileiro tem de diferente dos outros. A adaptação, o poder de sintetizar e resolver em pequenos gestos. Isso aí ainda temos de muito positivo e precisamos ter em uma quantidade maior.
UOL Esporte: Melhorar a formação é uma maneira de recuperar a hegemonia no mundo? Tem jogador sem tanta habilidade na Europa, mas que não erra passe, chuta de longe…
Dorival Júnior: Fundamentos, fundamentos. Antigamente, nossa formação acontecia porque não tínhamos outro brinquedo em casa. Nosso brinquedo era a bola. Então você estava chutando uma bola, uma laranja, ou você tava chutando uma bola de borracha ou jogando com uma bola um pouquinho maior. Aquilo, inconscientemente, ia te dando uma experiência que sem querer completava tua formação; Nos clubes, pouco era acrescentado. Uma noção tática talvez, ganhava um pouquinho de velocidade, um pouco talvez de massa muscular. Era muito pouco. Nossa verdade formação era o terrão, os terrenos de quarteirão, que a gente ia lá, limpava o terreno, botava dois tijolos e começava o racha. E passava o dia todo lá brincando. E brincar com bola é que faz com que você aprenda. Eu acho que esse talvez tenha sido o maior quesito que fez com que a nós sempre tenhamos gerações diferenciadas. O futebol brasileiro sempre foi reconhecidamente o futebol mais vistoso e o futebol mais agradável de ser ver ao longo de décadas e décadas.
UOL Esporte: No trabalho com os mais jovens, qual a importância de um trato mais humano?
Dorival Júnior: Isso aí em qualquer área de ação, faz parte da sua formação, do seu caráter. Eu nunca achei que você tirasse alguma coisa de alguém no grito, no palavrão. Nas ações bruscas. Acho que esse não é o caminho. Eu prefiro acreditar que de uma maneira educada, equilibrada, mas com rigor, você consiga atingir os objetivos que qualquer outro tipo de ação lhe desse. Assim deve acontecer. A educação começa desde que você entra no CT. O mais simples funcionário é tão importante quanto nós nesse contexto.
Fonte: UOL