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Após deixar o clube em julho de 2017 alegando falta de clareza em sua função, Pintado reencontrará o São Paulo como técnico do São Caetano no duelo que abre as quartas de final do Campeonato Paulista, neste sábado, às 16 horas (de Brasília), no Estádio Anacleto Campanella.
Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o ex-volante de 52 anos garante não estar magoado com o clube pelo qual foi bicampeão da Copa Libertadores, em 1992 e 1993. Mas tampouco se diz motivado em um dia ser o seu treinador. “Não tenho mais esse sonho, não”, admitiu.
Ex-auxiliar da comissão técnica fixa do Tricolor, Pintado vê André Jardine ocupando o cargo que era seu até pouco tempo atrás. Torce para que o amigo faça boa parceria com o uruguaio Diego Aguirre, mas com uma ressalva: “Espero que dê certo. Mas não neste momento, mais para frente”.
Responsável por reerguer o Azulão no Estadual, Pintado assumiu o time na lanterna, há menos de dois meses, e o levou ao mata-mata da competição com a pior campanha dentre os classificados, no segundo lugar do Grupo B, com 15 pontos, dois a menos que o seu próximo adversário. “Tudo mostra que o São Paulo é o favorito. Essa história de crise… não temos nada a ver com isso”, eximiu-se.
Abaixo, confira a primeira parte da entrevista com Pintado. A segunda pode ser acessada aqui, enquanto a terceira será publicada na manhã deste sábado, dia do duelo de ida entre as equipes. A volta está marcada para terça-feira, às 21 horas, no Morumbi.
Gazeta Esportiva – Você conhece a maioria dos jogadores do São Paulo. Isso pode contribuir na preparação do São Caetano para as quartas de final?
Pintado – Claro que conhecendo… Sei das qualidades, das condições. A maioria dos jogadores do elenco do São Paulo ou estão na seleção de seus países ou vão ser convocados. Então, por mais que eu conheça, é sempre uma dificuldade muito grande. Vamos ter que jogar no nosso limite para conseguirmos um bom resultado. Conheço também os pontos negativos, mas não conto com erros, com pontos fracos, porque é sempre bom o rendimento desses jogadores.
Gazeta Esportiva – O São Caetano vai procurar se aproveitar deste início de temporada turbulento do São Paulo?
Pintado – Sem dúvida que o momento do São Paulo não é bom, mas isso não é de hoje também, né. O São Paulo já vem tendo problemas há alguns anos, e isso tem dificultado, sim, principalmente para os jogadores dentro de campo, tem atrapalhado muito o trabalho da comissão técnica. Mas nós não temos nada a ver com isso, temos de pensar na gente. E eu sei que nem tudo está errado no São Paulo, nem tudo é ruim. Mas vamos fazer a nossa parte para chegarmos o mais longe possível.
Gazeta Esportiva – O São Caetano tem chances de título?
Pintado – Confesso que seria um otimismo exagerado da nossa parte falar em título. Com pés no chão, a gente vai fazer o que vem fazendo até agora, melhorar o que gente fez até agora. Mas temos que sonhar. Para quem saiu de uma situação difícil como nós saímos, temos de sonhar.
Gazeta Esportiva – Então o São Paulo é o favorito do confronto?
Pintado – Sem dúvida nenhuma. Tudo mostra que o São Paulo é o favorito. Essa história de crise, de momento ruim… não temos nada a ver com isso, não levamos em consideração. O São Paulo quer o resultado importante para sair do momento difícil, mas a gente não vai oferecer nada disso para eles, não. Vamos lutar muito porque queremos chegar longe.
Gazeta Esportiva – O que você acha da parceria entre André Jardine e Diego Aguirre no São Paulo?
Pintado – Tive muito contato com o André. Quando ele assumiu interinamente uma vez, eu fui auxiliar dele. E quando eu assumi interinamente, ele também foi meu auxiliar lá. A gente se conhece bem. O André é um jovem que está iniciando, já tem grandes conquistas, grandes trabalhos. Este é um dos grandes acertos do São Paulo: dar essa oportunidade ao Jardine para crescer ali dentro e buscar um dia um posicionamento que ele merece.
Para o Aguirre vai ser muito importante. O Jardine tem muito a oferecer ao Aguirre. Com certeza o André também vai ter boas condições de aprender um pouco mais com o Aguirre. Espero que dê certo não neste momento, mais para frente.
Gazeta Esportiva – Você sonha em um dia voltar ao São Paulo como treinador?
Pintado – Não tenho mais esse sonho, não. Sou profissional, me preparei muito para fazer o que estou fazendo aqui no São Caetano. Não consegui fazer isso no São Paulo, mas não tenho esse sonho de voltar ao São Paulo.
Gazeta Esportiva – Você carrega alguma mágoa do clube?
Pintado – Não, nenhuma mágoa. Pelo contrário, só tenho amigos dentro do São Paulo. Grandes amigos que eu respeito muito e jamais vou colocar uma pedra para atrapalhar.
Gazeta Esportiva – Nem com a diretoria?
Pintado – Não, nada. Nunca mais tive contato com o (presidente Carlos Augusto de Barros e Silva) Leco. Aliás, sempre tive pouco contato com ele. Não tenho mais contato com ninguém da diretoria, só com o Raí.
Gazeta Esportiva – O que você acha da nova diretoria do São Paulo, com Raí (diretor-executivo de futebol), Ricardo Rocha (coordenador de futebol) e Diego Lugano (superintendente de relações institucionais), todos ídolos do clube, sob o comando do Leco?
Pintado – Tenho certeza que vão ajudar, são profissionais que conhecem muito o ambiente do São Paulo. Claro que ainda vão passar por muitas coisas, existem alguns imprevistos no caminho que eles vão ter de saber lidar. Mas o mais importante é que eles são profissionais confiáveis e que vão tomar as decisões de uma maneira consciente, sem nenhum outro interesse a não ser fazer o bem do São Paulo.
Gazeta Esportiva – O São Caetano tem sido uma oportunidade para você se recolocar no mercado de técnicos. Como tem sido o aprendizado?
Pintado – Já não é aprendizado mais. Estou colocando em prática tudo o que aprendi, tudo o que observei. Claro que a gente sempre aprende e observa, sempre em evolução, mas eu quero praticar o que eu aprendi com grandes profissionais que eu trabalhei.
Gazeta Esportiva – Quais são suas inspirações como treinador?
Pintado – Eu tive a oportunidade de trabalhar com (Vanderlei) Luxemburgo e (Carlos Alberto) Parreira no Bragantino, com o (Mário Jorge Lobo) Zagallo na Portuguesa, com o (César Luis) Menotti no México. Trabalhei com treinadores que acrescentaram muito para mim profissionalmente. Mas consegui também, nos estudos, na parte teórica, com o investimento que fiz na minha carreira, de ir para outros países. Estou colocando em prática tudo o que tenho de referência desses monstros do futebol e também do que observei.