Beting: Virando o jogo. Voltando Corinthians 1 x 0 São Paulo (5 x 4 nos pênaltis)

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(Abaixo você lerá, a partir do próximo parágrafo, o que seria o texto que estava escrito até os 46 minutos do segundo tempo de mais um jogo chocho do SP-18. Mais uma partida fraca da fase final. Empate sem gols e sem graça em Itaquera que valia apenas pelo nervosismo natural de um Majestoso, e pela importância de uma semifinal. Até Rodriguinho marcar um belo gol de cabeça para o Corinthians e…).

Se o São Paulo não é aquele, e não tem sido mesmo, pelo menos mereceu a classificação. Voltou a uma decisão paulista onde não chegava desde o último título, em 2005. E segurando o empate sem gols e sem grande futebol contra o atual campeão paulista e brasileiro. Em Itaquera onde ainda não venceu. Mas já tem um Majestoso para dizer que é dele na Arena Corinthians. Classificado. Sem contestação.

Aguirre manteve o desenho e a ideia que deram certo no primeiro tempo no Morumbi. Jucilei, Petros e o ótimo Liziero marcando mais à frente no começo, Marcos Guilherme e Tréllez abertos, Nenê liberado para ser ou o meia-atacante ou mesmo o centroavante. O São Paulo começou melhor o Majestoso. Aos 6, Nenê só não fez olímpico porque Cássio estava mais esperto que o Corinthians no início do clássico que foi melhor que o jogo de ida. Com 8 minutos, mais infantil que a polêmica entre Carille e Aguirre no Morumbi, só a treta entre Pedro Henrique, Tréllez e Gabriel. Lance que a arbitragem preferiu contemporizar. E não esfriar os ânimos.

Carille teve Fágner de volta para dar melhor saída pela direita, em parceria com Matheus Vital. Gabriel e Maycon refizeram o meio mais leve e criativo, com Sheik e Rodriguinho adiantados, e Clayson de volta à esquerda. Só faltou Balbuena. Ausência sensível na defesa e também no ataque.

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Mas faltou mais coisa. E sobrou ao São Paulo aquilo que também faltava. Mais luta, interesse, intensidade. Marcando mais á frente. Com mais fome. O Corinthians errou muitos passes nos primeiros 20 minutos. Ficou mais com a bola, como o esperado. Mas, também, teve dificuldades para criar. Como se imaginava. A primeira chance foi um tiro de Sheik para fora, depois de escanteio, aos 23. Era pouco. Mas começou a ser mais com o recuo do São Paulo mais do que o crescimento do próprio Corinthians. Tanto que, nos primeiros 45 minutos, foram apenas três chances alvinegras (e nenhuma defesa difícil de Sidão) e o escanteio fechado de Nenê, uma bola esticada para Tréllez que Cássio evitou muito bem, aos 40, e mais uma boa defesa do goleiro em mais um grande lance de Liziero, aos 44. Um jogo melhor nos últimos 10 minutos do que o pavoroso de domingo.

No segundo tempo, Nenê de novo assumiu a bronca e os melhores lances e mandou um balaço na trave de Cássio. O Corinthians só respondeu aos 15, quando Carille enfim apostou em Pedrinho pela direita, recuando Rodriguinho, saindo o nervoso Gabriel. Na primeira bola ele ajudou a criar o primeiro lance de perigo alvinegro da segunda etapa. Aguirre perdeu Nenê aos 19 e colocou Lucas Fernandes para segurar a bola e o jogo. O Corinthians teve mais a posse. Pressionou mais. Mas só aos 22 Sidão fez uma defesa. Muito pouco. E foi no mesmo minuto em que, no Morumbi, o goleiro tricolor fez a única defesa difícil. Quase nada.

Diego Souza entrou aos 25 no lugar do estafado Tréllez. Caíque tentou resgatar velocidade no lugar de Marcos Guilherme, aos 29. Mantuan substituiu Fagner que acabara de chegar da Alemanha, aos 31.

Mas pouco fez o Corinthians. Também porque o São Paulo terminou se fechando em um 6-3-1-0. Só o Diego atrás do grande círculo. No desespero, Carille apostou aos 37 no talismã Danilo no lugar de Sheik. Para ser o centroavante que o Corinthians não tinha. Não tem. E tem faltado.

No frigir das bolas, o São Paulo teve oito chances contra apenas seis do Corinthians em duas partidas. Foi merecido. Foi mais feliz. Só as duas torcidas mereciam mais futebol.

(O texto era esse. Esperava apenas o apito final. O ponto final já estava escrito. Faltava o título. A manchete. Como parece faltar algo além mesmo para o São Paulo além dos títulos estaduais que não chegam desde 2005. Têm faltado mais atenção. Qualidade. Entrega. Sorte. Não sei. E parece que sabem ainda menos no Morumbi.

A torcida em Itaquera estava calada. O Corinthians atacava mas parecia entregue. Não jogava bem. Já havia atuado mal no Morumbi. Bem na volta contra o Bragantino. Mal na ida, no Pacaembu. Parecia que já havia feito muito mais do que se esperava no SP-18.

Até que acontece algo que não se sabe. Existem times que vivem anos que não se reconhecem. Com gente que não conhece. Escanteio pela direita, Rodriguinho subiu bonito entre a hesitação de Militão e Bruno Alves e fez um gol de Paulinho em 2012 contra o Vasco, pela Libertadores.

Um daqueles gols que o Corinthians faz e nem o Corinthians sabe. Um daqueles gols que só o São Paulo parece sofrer nesses anos em que não sabe mais nada o São Paulo.

Pênaltis em Itaquera. Onde os rivais têm se saído melhor. Onde Cássio foi maior. Defendeu a cobrança de Diego Souza como se Diego Souza fosse o Diego Souza do Vasco no Pacaembu, em 2012. Senhora defesa.

Rodriguinho perdeu o dele. Mérito de Sidão. Como Cássio seria ainda maior do que já é ao defender o pênalti do jogador que não merece ser cobrado. Do garoto que joga como gente grande. Não merecia perder o pênalti. Como o são-paulino não tem merecido tantos sonhos perdidos. A dor de Liziero é septicemia de vários tumores no Morumbi. Ele não merecia isso. Mas muitos que lá estão, e sobretudo os que já não estão mais, são responsáveis pela maior fila estadual do clube. Quando eram 23h58, o São Paulo entrou em seu maior jejum de títulos paulistas.

Um texto que, diferentemente do início desta postagem, jamais poderia ter sido escrito antes. Porque não havia como imaginar tamanha seca.

Mas há como imaginar e respeitar sempre a superação corintiana. Clube com menos time e elenco hoje que o Palmeiras. Com campanha inferior no SP-18. Mas que só tem sabido vencer o rival nos últimos quatro jogos. Pode fazer a diferença no primeiro Derby e jogar fechado como sabe na finalíssima na casa do adversário. Deve se desgastar menos sem Libertadores na próxima semana. E, no fundo, como é o futebol, e como tem sido o Corinthians, pode ainda mais no final.

FONTE: MAURO BETING – UOL

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