Marcello Zambrana/AGIF
Aguirre soma 15 jogos à frente do Tricolor e só foi derrotado três vezes
Virou quase automático atribuir o crescimento do São Paulo na temporada à presença de Diego Aguirre. O discurso mais básico é de que o técnico mudou a atitude da equipe em relação ao que era visto com Dorival Júnior. Além da mudança comportamental, porém, muito mais foi feito pelo uruguaio e seus auxiliares, que podem fazer com que o Tricolor assuma a liderança do Campeonato Brasileiro neste meio de semana.
Para isso, é preciso vencer o Botafogo no Morumbi, às 21h desta quarta-feira, e torcer por tropeços de Flamengo, Fluminense e Atlético-MG. Eles enfrentam, respectivamente, Bahia, Grêmio e Sport.
Se tudo der certo para os são-paulinos, será a primeira vez do clube na liderança do Brasileirão depois de três anos. O UOL Esporte, então mostra os fatores que deram essa chance para o Tricolor mudar sua história recente, graças ao trabalho de Diego Aguirre:
Lealdade
Em todas as relações que têm, tanto com dirigentes quanto com jogadores, mostrou ser uma pessoa leal e transparente, mesmo nos momentos mais conflituosos. Por exemplo, quando Diego Souza estava em baixa, ele nunca escondeu do próprio jogador a sua posição, a cobrança por um melhor rendimento. Quando o diretor-executivo de futebol Raí o convenceu de que o camisa 9 poderia ser importante, encampou a ideia de recuperá-lo e conversou com o atleta. Diego Souza em suas entrevistas faz questão de ressaltar a importância dessa transparência em sua recuperação: “Ele foi homem”.
Respeito
Assim, Aguirre conquistou a confiança dos jogadores. Isso também passa pelo fato de o treinador se manter convicto de suas ideias, sem reclamar ou expor qualquer situação publicamente. No caso do peruano Christian Cueva, com vasto histórico de problemas no clube, ele jamais reclamou publicamente da postura extracampo do meia. Mas, sim, o tirou da equipe titular. Os antecessores (Rogério Ceni e Dorival Júnior) fizeram o contrário, não tiveram resposta e seguiram dependentes do peruano. Hoje, quase ninguém repara quando o camisa 10 é ausência.
André Jardine e segurança
O técnico uruguaio conta com o auxílio no dia a dia de André Jardine, que conhece muito bem os jogadores da base e o clube. Logo quando assumiu o comando do time, viu com bons olhos a parceria, inclusive dando aval para a diretoria promovê-lo do sub-20 para o profissional. Os antecessores não tiveram tal postura. Dorival Júnior, por exemplo, não se mostrava aberto à possibilidade de trabalhar com Pintado – então auxiliar do time profissional. Por isso, o São Paulo não quis promover Jardine antes. Já Aguirre nunca temeu ter o assistente do clube como uma sombra, mesmo com o plano público da diretoria de preparar Jardine para sucedê-lo, o que foi encarado como uma espécie de demonstração de confiança em seu próprio trabalho.
Nenê
O meia era pouco utilizado por Dorival Júnior. Até mesmo por já ter trabalhado com meia atacante no Al-Gharafa, do Catar, o treinador confiou no potencial do pupilo e apostou em sua recuperação. Aguirre sabia em qual posição Nenê poderia render mais e o camisa 7 passou a ser uma das peças mais importantes da equipe – tanto que é o único até agora a disputar todas as partidas em que Aguirre trabalhou no São Paulo. Nesse período, marcou quatro gols e deu duas assistências.
Harmonia com diretoria
Não que Dorival Júnior não fosse benquisto pela diretoria de futebol. Mas Aguirre jogou com Raí e Ricardo Rocha e foi indicado por Diego Lugano, seu amigo e compatriota. Há uma sinergia maior entre o técnico e os dirigentes. Isso permite que o treinador foque mais no trabalho de campo e não se desgaste com assuntos mais burocráticos.
Rodízio
Apesar de a equipe ter uma espinha dorsal (Sidão, Militão, Jucilei, Everton, Nenê e Diego Souza), ele dá oportunidade para quase todos no elenco, o que faz com que os reservas fiquem motivados a mostrar serviço. Foi assim que Lucas Fernandes, Shaylon e Araruna foram usados em momentos improváveis e conseguiram corresponder com boas atuações. Além disso, gosta de provar que jogador não atua com nome, como na entrada de Bruno Alves na zaga.
Mistério e treinos intensos
Sempre que vai fazer seus treinos táticos e os trabalhos específicos, ele fecha as atividades para a imprensa. Tudo por uma maior privacidade para lidar com os atletas. Também não gosta de revelar os seus sistemas, com a intenção de confundir os adversários. Muitas vezes muda a tática pouco antes dos jogos e até chegou a manter o time em segredo dos próprios jogadores antes da partida contra o Ceará, na segunda rodada do Brasileirão. Os treinos costumam ser intensos e, assim como acontece nos jogos, ele gosta de cobrar o empenho de todos.