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- Fabio Braga/Folha Imagem
Há quase 14 anos, o São Paulo escrevia uma das páginas mais memoráveis de sua história em competições continentais. No dia 12 de maio de 2004, o Tricolor vencia, de virada, o Rosario Central, adversário desta noite pela Copa Sul-Americana, por 2 a 1 e, nos pênaltis se classificava para as quartas de final da Copa Libertadores. A partida no Morumbi teve de quase tudo e quem viveu aquele momento não o apaga da memória.
“Sem sombra de dúvida, foi uma das partidas mais emocionantes que tive pelo São Paulo. Se tratando de Libertadores, esse jogo foi até mais emocionante do que a final contra o Atlético-PR no ano seguinte. Aconteceu de tudo naquela partida. Um time como o São Paulo resolver ficar no campo durante o intervalo e com a torcida cantando, acho que não vai ter outro momento como esse”, relembrou o ex-lateral Cicinho, a pedido do LANCE!
Depois de perder, por 1 a 0, na partida de ida em Rosário, o Tricolor precisava de uma vitória por dois gols de diferença para avançar de fase e saiu perdendo no Morumbi. O que parecia difícil ficou ainda pior quando Luís Fabiano desperdiçou um pênaltil. Comandante do Tricolor na época, Cuca colocou o centroavante Grafite em campo e a sorte do São Paulo começou a mudar. Antes do intervalo, Cicinho jogou na área e o próprio Grafite mandou para o fundo da rede. O Morumbi explodiu.
O time não foi para o vestiário no intervalo e permaneceu em campo durante a paralisação. A torcida abraçou a ideia e cantou durante os 15 minutos de paralisação. Era o ânimo que o time precisava.
“A recordação mais impactante do jogo foi quando nós resolvemos ficar ali no banco de reservas, no intervalo, e a torcida começou a cantar. Foram 15 minutos cantando e aquilo nos motivos de uma maneira que nem tem como falar, foi muito forte. Essa é a recordação mais impactante que eu vivi com a torcida do São Paulo. Foi um momento único”, relata Cicinho.
No segundo tempo, já quase no fim da partida, Grafite fez seu segundo gol na partida e levou o Tricolor para a decisão de pênaltis. O São Paulo saiu atrás, com Cicinho desperdiçando a primeira cobrança. Na sequência, a estrela de Rogério Ceni brilhou.
O goleiro-artilheiro foi para a marca da cal precisando converter para que o São Paulo não fosse eliminado e, na sequência, defender o pênalti batido por Gaona para levar o duelo às cobranças alternadas. E foi exatamente o que o ídolo tricolor fez. Depois, ainda pegou o chute de Irace e levou a equipe para as quartas de final daquela edição da Copa Libertadores.
Ao fim da partida, Cicinho e Fabão choravam em campo. Os quase 60 mil são-paulinos que estavam no Morumbi naquela noite explodiam de alegria. A virada diante do Rosario marcou uma era no clube, que foi coroada com as conquistas da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes no ano seguinte.
A passagem de Cicinho pelo São Paulo foi tão significativa que o jogador ganhou uma homenagem do clube quando anunciou sua aposentadoria, no Morumbi. Atualmente, o ex-lateral prepara o próximo passo de sua carreira: trabalhar dando palestras para empresas, escolas e clubes de futebol sobre sua história de vida. A convite da reportagem, o são-paulino falou sobre o jogo.
Você se lembra de conversar com o Rogério antes do início das cobranças de pênalti?
A lembrança de conversa, não. Foi mais a questão que vieram me perguntar se eu bateria o pênalti e eu falei que estava bem. Pedi para ser o primeiro. Eu nunca fui um cara tranquilo para bater pênalti. Para falar a verdade, esse é o único pênalti da minha carreira. Eu tenh o100% de negatividade, digamos assim (risos). Mas ali, com a torcida gritando, eu estava confiante. É que eu bati à meia altura, no lugar que os goleiros mais gostam, e ele (Gaona, goleiro do Rosario) acabou pegando. Mas o importante foi o resultado final. A certeza que eu tenho é de que foi um dos dias que eu mais orei na minha vida (risos).
Qual foi o clima no intervalo do jogo, quando vocês não desceram para o vestiário para sentirem o clima da torcida?
Para falar a verdade, não foi nem para sentir o clima da torcida. Foi mais um desabafo nosso, para mostrar que a gente queria a vaga. Porque é fácil você ir para o vestiário, e naquele momento, se fôssemos para o vestiário, poderia nos esfriar, e naquele calor do jogo não teve tempo nem de pensar em alongar direito. Do jeito que nós estávamos, ficamos. Nem abaixamos o meião, nem nada. Não tiramos a caneleira e não trocamos o uniforme, como é costume. Todo mundo continuou do mesmo jeito. Foi um momento único. Por isso que o São Paulo é paixão e reviver esses momentos é maravilhoso.
Qual era importância do Morumbi para vocês nesses jogos decisivos da Libertadores?
O Morumbi, na verdade é o Morumtri (risos). Naquela época, quando você descia a avenida para chegar ao estádio e já via aquele mar de gente tricolor, batendo no ônibus, cantando o hino, gritando o nome dos jogadores. É uma atmosfera única. Eu acho que não tem outro time no mundo que vive a expectativa de um jogo, de uma competição, como os torcedores do São Paulo vivem na Libertadores. É inexplicável. Só quem vive e veste essa camisa sabe.