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A vida do torcedor do São Paulo não tem sido fácil nos últimos anos. Desde 2008, a exceção do título da Copa Sul-Americana de 2012, o Tricolor do Morumbi não ergueu nenhuma outra taça. Pior, acumulou vexames diante de equipes modestas e assistiu o crescimento de seus principais rivais. A angústia por uma retomada é grande e a tolerância é cada vez mais curta. Por isso o ano de 2018 tem sido especial. Apesar das três eliminações até aqui, a retomada de um protagonismo há tempos não visto foi o suficiente para a esperança e o orgulho serem resgatados. Os atritos políticos diminuíram, a cúpula do clube passou por uma transformação, uma nova comissão técnica chegou e o planejamento para o time vingou. O resultado de tudo isso é a liderança no Campeonato Brasileiro e o sonho do hepta latente entre os tricolores.
Uma análise mais simplória pode apontar méritos ao treinador Diego Aguirre, a Nenê ou ao trio de ídolos que hoje compõem o departamento de futebol. Obviamente os personagens citados têm suas parcelas de contribuição, mas um fator distante dos holofotes e pouco percebido interferiu fundamentalmente na mudança de rumo do São Paulo: o novo estatuto, aprovado no fim de 2016 e que passou a ser colocado em prática durante a última temporada.
O texto em vigor, que ainda deve passar por análises e estudos em 2023, destituiu os vice-presidentes, que normalmente não passavam de braços políticos, muitas vezes sem qualquer formação na área atribuída a eles e que ainda dividiam o tempo diário entre atividades pessoais e as funções no clube.
O São Paulo profissionalizou seus departamentos. Os diretores passaram a ser contratados e remunerados para trabalhar integralmente pelo clube, com a devida responsabilidade de acordo com sua área de estudo e atuação. A agilidade nos processos também aumentou dada a autonomia a esses diretores, não mais subordinados a vice-presidentes. E os conselheiros convidados a compor a diretoria executiva tiveram de se licenciar do órgão fiscalizador.
Um exemplo prático e que está profundamente ligado ao campo está em Raí. Depois de concluir mestrado em gestão esportiva pela UEFA, o ex-camisa 10 tricolor assumiu o comando do departamento de futebol do São Paulo. Pelo antigo estatuto, Raí sequer poderia ser convidado para exercer tal função. No máximo, teria uma posição de retaguarda, sem carta branca para executar o trabalho que vem desenvolvendo. O próprio ex-jogador, questionado pela Gazeta Esportiva, admite que seria muito difícil ter o mesmo desempenho como gestor.
“Acredito que não! Isso não quer dizer q o resultado seria necessariamente diferente. Mas o novo estatuto induz a uma dinâmica diferente, que obviamente passa por um período de transição, que tem de ser bem pensado e executado, com todos seus desafios e cuidados”, explica, em dúvida até se toparia o desafio diante de um estatuto como o que dava norte ao São Paulo até então.
“Difícil dizer. Provavelmente eu nem receberia o convite. Até porque, o que me reaproximou do clube foi o novo estatuto, um dos mais modernos e atuais do futebol brasileiro. Isso me motivou bastante, porque, além de mudanças importantes, abriu uma nova perspectiva para o futuro do clube”.
Primeiramente, Raí acompanhou todo o desenrolar sobre as diversas variantes que envolveram a reforma do estatuto do clube paulista como membro do Conselho de Administração. Ao seu lado agora ele tem o gerente Alexandre Pássaro, o coordenador Ricardo Rocha e Lugano, superintendente de relações institucionais e voz ativa internamente.
“Eu vivi, joguei e estudei em alguns países diferentes, inclusive meu mestrado foi em cima do modelo alemão. E o que eu acho mais interessante no momento atual do São Paulo é que foi um estatuto que deixa vivo para qualquer adaptação. A maior parte dos países, Espanha, França e até mesmo a Inglaterra, foi a legislação, o governo que induziu os clubes a se transformarem. O São Paulo já saiu na frente, pois, se caso tiver uma mudança na legislação, o estatuto é flexível e adaptável a qualquer modelo mais atual, mais moderno”, completa.
Resumindo, o São Paulo tem hoje profissionais preparados para suas respectivas atribuições, com autonomia setorial, trabalhando integralmente pelo clube e em contato direto com o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.
O clube diminuiu sua dívida substancialmente, fechou parcerias com novas marcas, passou a contratar menos e melhor, criou uma identidade para o time e a briga pelo título do Campeonato Brasileiro sucede duas campanhas seguidas em que a zona de rebaixamento assombrou a equipe. Não fosse a mudança no estatuto, talvez nada disso faria parte da realidade são-paulina nesse momento.