São Paulo: Amizade entre técnicos aproxima os surpreendentes líderes SP e Inter

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UOL

José Eduardo Martins e Marinho Saldanha
  • Marcello Zambrana/AGIF

Não são apenas as crises vividas nas últimas temporadas e a volta por cima no Campeonato Brasileiro deste ano que aproximam o líder São Paulo do vice Internacional. No comando das duas equipes estão dois amigos. Desde que dirigiu o Colorado, em 2015, Diego Aguirre passou a ter laços com Odair Hellmann.

Na época, o uruguaio fora contratado para assumir o time de Porto Alegre, enquanto Odair era o seu auxiliar. De lá para cá, muita coisa mudou. Aguirre passou pelo Atlético-MG, pelo San Lorenzo-ARG antes de ser contratado em março pelo Tricolor paulista para substituir Dorival Júnior. Em menos de seis meses no cargo, ele deu sua cara para o time e ajudou na reconstrução da imagem do clube, que em 2017 teve a sua pior campanha na história do nacional e havia brigado para fugir do rebaixamento.

Já Odair era integrante da comissão permanente do Internacional desde 2013, quando recebera convite de Dunga. Por isso, foi trabalhar com Aguirre. Vale destacar que o uruguaio, ao contrário de outros treinadores, não se opõe a contar com funcionários do clube em sua comissão – no São Paulo, André Jardine cumpre tal função hoje em dia.

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“Ele foi meu auxiliar, é um cara que tenho muito carinho e respeito. Um profissional competente, que vem desenvolvendo um grande trabalho no Internacional”, disse Aguirre ao UOL Esporte.

A relação é tão boa que nem a distância entre os dois nos últimos anos nem a rivalidade entre os clubes os afastou. No primeiro turno, após o empate por 0 a 0, no Morumbi, Odair, ou Papito, como Aguirre e os funcionários do Inter carinhosamente gostam de chamá-lo, foi até o vestiário do adversário para que a conversa fosse colocada em dia.

“Mantemos contato até hoje, trocamos mensagens, procuro parabenizá-lo quando obtém bons resultados. É um cara superdivertido, alto astral, que contagia”, completou Aguirre.

No Inter, Odair foi o responsável por passar um diagnóstico do elenco para Aguirre. Com a morte do vice de futebol daquele ano, Luiz Fernando Costa, o auxiliar virou o principal contato do treinador no clube. O então presidente do Colorado, Vitorio Piffero, não era entusiasta do trabalho do uruguaio e, na primeira oportunidade, o demitiu.

Justamente com a saída de Aguirre, abriu-se o caminho para Odair ter a sua primeira oportunidade como técnico de um time profissional. A lembrança não é das mais positivas, com o 5 a 0 para o Grêmio. Ainda assim, permaneceu no clube como auxiliar de seis treinadores (Argel, Falcão, Celso Roth, Lisca, Antônio Carlos e Guto Ferreira).

Depois de sofrer com as crises e o rebaixamento, ele voltou a ter uma chance. Comandou o time entre a saída de Zago e a chegada de Guto Ferreira e depois da demissão do último foi responsável por treinar o time no retorno à Série A. Em seguida foi efetivado como técnico.

Apesar da desconfiança de muitos, imprimiu também o seu estilo no time e ajudou a levá-lo para as primeiras colocações no Brasileiro com uma campanha consistente no primeiro turno (dos últimos 15 jogos, o Inter perdeu apenas um). Agora, na segunda metade do nacional, as duas equipes voltam a se enfrentar no dia 14 de outubro, em Porto Alegre, e, mesmo com uma eventual disputa pela liderança, a amizade continuará intacta.

Estilos de jogo e psicológico

As propostas de cada treinador, porém, não são tão parecidas. Logo quando assumiu o São Paulo, Aguirre detectou a necessidade de arrumar o sistema defensivo. Quando conseguiu fazer com que a equipe não levasse tantos gols, ele passou a dar mais enfoque também ao meio de campo e ao ataque.

O treinador costuma atuar com um time veloz e muito eficiente nos contragolpes. O Tricolor sabe deixar o adversário ficar com a posse de bola e aproveitar os espaços deixados para, de maneira objetiva, construir o placar. Em geral, a equipe conta com uma linha de quatro na defesa, três jogadores no meio de campo e outros três no ataque, sendo que Everton e Joao Rojas são peças fundamentais para ajudar ofensivamente sem deixar de lado a marcação.

Outro ponto bastante trabalhado por Aguirre é o aspecto psicológico. Com muita conversa, o treinador uruguaio conseguiu contribuir na recuperação de jogadores como Diego Souza, por exemplo, que já era considerado quase um caso perdido no São Paulo.

Já Odair monta o Inter totalmente diferente dentro e fora de casa. Mesmo que embasado na mesma formação tática, o 4-1-4-1, os movimentos coletivos da equipe são bastante diferentes dentro e fora do Beira-Rio.

Enquanto como local, o Colorado trata de manter a posse de bola e marcar alto, forçando a utilização do pivô do centroavante e alternando a criação de jogadas com o toque curto, drible e batida de Nico López ou a enfiada em profundidade com Pottker, fora de casa a ideia é postar-se com as linhas próximas, recuadas, abrir mão da posse e utilizar a progressão rápida ao gol.

Em ambos os casos, porém, chama atenção a transição defensiva extremamente rápida. É raro ver o Internacional com espaços nas últimas linhas dada recomposição veloz trabalhada repetidamente pelo comando técnico.

O modelo de jogo sólido e com comportamentos forjados em treinamentos da semana, o Inter de Odair define-se como um time que ‘sabe o que faz’. Sem destaques individuais, o trabalho coletivo com uma ideia sólida é o principal trunfo da equipe gaúcha no brasileiro.

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