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- Marcello Zambrana/AGIF
Jovem defensor completará a 57ª partida pelo Tricolor antes de se despedir
Neste domingo, às 16h, o São Paulo enfrenta o Vasco da Gama pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro. O jogo no Morumbi será o último do jovem Militão com a camisa Tricolor. Aos 20 anos, ele tentará a sorte no Porto para realizar seu desejo irredutível de atuar na Europa. E também para cumprir uma profecia de pouco mais de um ano atrás, feita pelo ídolo Rogério Ceni.
“Vai ter um futuro brilhante, mas acho que não vai demorar muito aqui”, disse Ceni, treinador do clube no primeiro semestre do ano passado, após atuação de destaque de Militão contra o Vitória, pelo Brasileirão. A partida foi vencida pelos tricolores por 2 a 0 e já mostrava o que seria o grande trunfo do garoto em 14 meses de profissional e para atrair o interesse de gigantes do futebol mundial.
Defensor chegou a ser ovacionado por torcedores em clássico contra o Corinthians
Naquela partida, Militão começou como zagueiro e depois avançou para o meio de campo. As duas funções marcaram sua trajetória na base são-paulina e eram desempenhadas com naturalidade. Mas a grande chance de se firmar exigiu ainda mais do defensor. Já sob o comando de Dorival Júnior, precisou quebrar galho como lateral-direito em partida contra a Ponte Preta, quando o time patinava na zona de rebaixamento, e nunca mais deixou a formação titular.
Polivalente, jovem, força física e mental. Atributos que o acompanham desde o primeiro time na infância, o Camisa 10, em Sertãozinho, e que fizeram o Porto pagar por sua contratação mesmo podendo levá-lo de graça em janeiro. Havia o temor de que as sondagens de Paris Saint-Germain, Juventus e Manchester City se convertessem em concorrência, justificando os mais de R$ 17 milhões investidos – incluindo ainda a cessão de 10% de uma eventual venda para os cofres são-paulinos.
Futebol era só um passatempo na infância
Militão não era do tipo de criança que dormia com uma bola de futebol, que sumia por horas em campinhos. O esporte para ele era apenas mais um dos passatempos da infância, como soltar pipa e andar de bicicleta. Nem mesmo um antigo projeto de seu pai, o ex-jogador Valdo Militão, foi suficiente para prendê-lo ao futebol.
“Tem coisas que estão no sangue, porque no começo o futebol não era o negócio dele. Eu não achava que ele ia jogar. Mas de repente ele quis tentar, disputou campeonatos na região e um amigo nosso o levou para treinar”, relembra Valdo, que foi lateral-direito e chegou a defender o Corinthians.
Militão se destacou na Copa Coca-Cola de 2011
Brilho no primeiro campeonato deu certeza a descobridor
Além de seu pai, Militão foi acompanhado de perto desde a infância por Agnello Souza, um entusiasta do futebol em Sertãozinho. Valdo começou a reparar que o filho jogava cada vez melhor e pediu ao amigo que tentasse levá-lo ao projeto Camisa 10, que até hoje se divide entre atividades particulares e sociais. Militão topou e, finalmente, abraçou o que seria sua carreira.
“Ele via o futebol apenas como algo recreativo. Até que conseguimos puxá-lo para o Camisa 10. Ele tinha 11 anos e já atuava nos times de 14, 15 anos. E no primeiro campeonato, a Copa Coca-Cola, ficou claro que tinha muito potencial. No seguinte já estava sendo monitorado pelo São Paulo e, aos 14, foi morar em Cotia”, conta Agnello, que também levou o meia-atacante Helinho, do sub-20, ao Tricolor.
Porto permitirá reencontro com melhor amigo…
Outra peculiaridade de Militão é não gostar dos holofotes. Em 14 meses no profissional do São Paulo, falou pouquíssimas vezes em entrevistas. Era comum vê-lo, inclusive, interrompendo conversas e brincadeiras quando percebia que estava sendo observado ou filmado pela imprensa. Mas, segundo Agnello Souza, não é um sinal de marra, mas apenas a postura que o garoto mostra desde pequeno.
“Não tenho nem como contar histórias engraçadas dele, porque ele não se abre com todo mundo. Ele só é brincalhão com quem é próximo, com quem confia”, lembra o antigo técnico. Em Cotia, esse perfil também era identificado e reforçava a imagem de “tranquilão”. O defensor estava sempre quieto e não se deixava abalar em situações extremas. Positivas ou negativas. “Essa característica o ajuda a ter um nível de concentração muito alto, inclusive nos jogos. É difícil vê-lo sendo vencido por um atacante ou errando posicionamento”, defende Agnello.
Sair do Brasil e mudar de time ainda aos 20 anos poderiam implicar em dificuldades de adaptação no Porto diante do jeito de ser de Militão. Mas o clube português terá um trunfo: o volante Luizão, também revelado pelo São Paulo e contratado na negociação que deixou o zagueiro Maicon no Tricolor há dois anos. “Ele sempre foi muito amigo do Luizão, o chamava de irmão. A relação deles sempre foi muito próxima, e agora vão poder voltar a conviver juntos”, exalta Valdo Militão.
Militão visita a escolinha de futebol que o revelou em Sertãozinho
Mas outras “paixões” podem ficar mais distantes
A presença de Luizão pode até ajudar Militão a se sentir em casa no Porto. Só que mais elementos podem fazer falta na rotina do atleta: pipa e feijão. Brincar com pipas e papagaios era o principal lazer de Militão na infância e persistiu durante os anos de São Paulo, principalmente na área do CFA Laudo Natel, em Cotia. Nas férias, quando volta a Sertãozinho, ainda se diverte com amigos no passatempo.
Já na culinária, o pai já sabe que as dificuldades serão grandes: “É claro que uma das preocupações com a adaptação no exterior é sempre a comida, mas ele é um menino muito simples também neste sentido. O que não pode faltar só é o feijão, para ele. O negócio dele é o arroz com feijão”.
Apego às raízes foi obstáculo para renovação com o São Paulo
O São Paulo pode ter demorado para iniciar as negociações para renovar com Militão. Poderia ter cedido mais para tentar ficar com o garoto por mais tempo. Mas a ideia de rumar para a Europa sempre esteve muito clara na cabeça do jogador, que falava abertamente na vontade de se transferir rapidamente. Esse desejo tem a ver com a fidelidade a quem o acompanha desde sempre, como o pai e o empresário Ulisses Jorge, incentivadores da aventura no Porto.
Militão abraçou o plano de carreira que foi apresentado por eles e se tornou irredutível sobre deixar o Tricolor. O clube paulista cogitava segurá-lo até o fim do contrato para se beneficiar da boa fase do atleta no esquema de Diego Aguirre, mas viu os portugueses resolverem investir pesado mesmo a seis meses de uma contratação de graça. A saída que já era iminente se tornou irreversível.
Militão e Agnello Souza, responsável por levá-lo ao São Paulo
Despedida “neutra” é esperada no Morumbi
A postura de Militão ao longo de todo processo de saída deixou o São Paulo bastante satisfeito. O jogador nunca baixou seu nível de intensidade, não reclamou de nada e ainda conseguiu jogar em bom nível. Isso impede que haja qualquer mágoa pelos avisos frequentes de que gostaria de ser negociado, mas também não deve trazer nenhuma despedida calorosa do Tricolor.
Não está prevista nenhuma homenagem formal para o defensor. Entre a torcida, sempre houve uma divisão entre quem via culpa na demora para renovar somente no atleta ou somente nos dirigentes. Depois, com o profissionalismo de Militão, a caça às bruxas diminuiu. Contra o Corinthians, quando o São Paulo venceu por 3 a 1 no Morumbi com grande atuação do garoto, torcedores na arquibancada amarela chegaram a ovacioná-lo.
Mentor na carreira prevê explosão na Europa
Agnello Souza acredita que Militão tem uma “reserva de projeção” muito grande. Ou seja, aposta que ele ainda está longe de seu máximo potencial no futebol. “Desde pequeno eu tenho essa impressão, mesmo quando ele jogava contra os mais velhos. Parece que está sempre guardando algo. Creio que na Europa isso será desenvolvido de vez, completando o trabalho perfeito de formação do São Paulo e nas seleções de base”, opina.
Sucesso garoto… faz parte. Sempre foi compromissado e íntegro com o clube… faça uma excelente etapa no Porto que contamos com esses 10%.