Choro, blindagem e futuro no São Paulo: falamos com Brenner, a joia que ainda não brilhou

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GloboEsporte.com

Leandro Canônico e Marcelo Hazan

Veja como foi o bate-papo com o atacante de 18 anos, que tem sido emprestado aos aspirantes do Tricolor para ganhar ritmo de jogo.

Promovido ao elenco profissional do São Paulo em junho do ano passado, Brenner iniciou a atual temporada com a pressão de ser a principal aposta das categorias de base do Tricolor. Atualmente, porém, o jovem atacante de 18 anos é uma das últimas opções do técnico Diego Aguirre para o ataque.

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Confiante de que ainda tem um futuro muito promissor no elenco do São Paulo, Brenner projeta dias melhores. Depois de mais de um ano como profissional, o garoto vê as dificuldades que teve como ensinamentos e não quer deixar o Tricolor para ganhar mais experiência fora.

No ano passado, Brenner fez quatro jogos e um gol pelo São Paulo. Nesta temporada, são 16 partidas e três gols. Muito pouco para quem tinha a missão de ser a joia do Tricolor em 2018. Na última segunda-feira, aliás, ele foi emprestado aos aspirantes para ganhar ritmo de jogo.

Nesta entrevista ao GloboEsporte.com, Brenner faz um balanço do seu primeiro ano como jogador profissional, admite que o choro ao ser substituído contra o Paraná, na estreia do Brasileirão, foi “infantil”, e lembra de como treinar com a seleção brasileira lhe deu sobrevida na temporada.

Brenner faz linda jogada em treino do São Paulo — Foto: Reprodução SPFCtv

Brenner faz linda jogada em treino do São Paulo — Foto: Reprodução SPFCtv

Veja abaixo a entrevista com Brenner:

GloboEsporte.com: Você está há mais de um ano no elenco profissional, mas ainda não se firmou. Como tem lidado com a falta de oportunidades e que balanço faz dessa passagem
Brenner:
– Sou muito grato ao clube pelo que aprendi nesse período. Mas claro que tinha uma expectativa de jogar mais vezes nesta temporada. Acho que é natural.

Sua promoção foi direta do sub-17 ao time profissional, sem passar pelo sub-20. Acha que pulou etapas e por isso teve mais dificuldade?
– Eu subi por mérito meu. Estava bem na base… No começo no profissional eu correspondi bem pela minha pouca idade (17 anos à época), consegui jogar, desenvolver, fazer gols. Mas a gente vai amadurecendo, sabendo como funcionam as coisas no profissional e acho que tudo está normal.

Você sentiu muita diferença da base para profissional?
– Quando fui promovido, achei até mais fácil para me adaptar. Foi meio na correria. Cheguei, treinei, joguei e praticamente entrei no ritmo do pessoal. Creio que esteja bem adaptado até hoje.

Quando você foi promovido era considerado um fenômeno das categorias de base e chegaram até a compará-lo com o Gabriel Jesus, que também tinha feito muitos gols na base do Palmeiras. Você lembra dessa comparação? E o que acha sobre ela?
– Eu não gosto muito de comparações. Eu procurava evitar ver esses comentários e jogar pela base normalmente. E continuei fazendo os gols que me trouxeram ao profissional. O Rogério (Ceni) me deu uma oportunidade, trabalhei e fui para o jogo.

E quando mudou do Rogério Ceni para o Dorival Júnior?
– Saiu o Rogério, ficou uns dois jogos sem treinador e estava um pouco preocupado se eu voltaria a ter chances. Aí logo que o Dorival chegou conversou comigo, gostou dos meus treinos e tirei muito proveito e aprendizado.

Brenner chora no banco de reservas ao ser substituído por Aguirre na vitória sobre o Paraná — Foto: Marcos Ribolli

Brenner chora no banco de reservas ao ser substituído por Aguirre na vitória sobre o Paraná — Foto: Marcos Ribolli

Sua última grande chance foi como titular na estreia do São Paulo no Brasileirão, contra o Paraná, no Morumbi. Mas, quando você foi substituído, chorou no banco de reservas. De lá para cá, as chances diminuíram. Como foi esse momento para você?
– Foi um momento de aprendizado. Eu me cobro bastante e acho que eu poderia dar o melhor. Eu estava um tempo sem jogar e não correspondi à altura do que eu posso. Na hora ali, foi um momento infantil mesmo. Mas ao mesmo tempo serviu como muito aprendizado para mim e também para saber lidar com as adversidades.

Desde então, o que mudou para você em relação ao seu futuro no São Paulo?
– Aquele momento foi importantíssimo. Cheguei em casa, pensei bastante no que fiz, conversei com os meus pais também. E estou no profissional, né. Não dá mais para ter um pensamento de menino que joga na base. Eu vi também que preciso trabalhar mais para voltar a ter chances.

Quem conversou mais com você depois desse episódio para ter dar forças?
– Os jogadores me apoiaram bastante. Falaram que isso é normal, para levantar a cabeça. Somos muito unidos aqui e por isso as coisas estão dando certo. Mas meus pais mesmo é que foram o principal suporte.

Brenner fez o gol da vitória do São Paulo, contra o Madureira, na estreia da Copa do Brasil — Foto: Robson Vilela/Futura Press

Brenner fez o gol da vitória do São Paulo, contra o Madureira, na estreia da Copa do Brasil — Foto: Robson Vilela/Futura Press

Em algum momento você pensou em procurar outro caminho, talvez ser emprestado a algum clube para ganhar experiência, como fizeram outros jogadores da base?
– Não, meu foco é o São Paulo, e o máximo que eu tirar de proveito aqui e tiver êxito, eu vou estar feliz. Quero ganhar o Brasileirão, continuar fazendo uma bela campanha e sair com o título. Sou cria da casa e mereço também, porque estou aqui desde criança. E o clube também merece. Os atletas e comissão trabalham muito, todos estão fazendo um belo trabalho.

Você acha que é mais difícil para o jogador da base se firmar e conquistar espaço?
– É mais difícil, porque está tudo no começo. Mas o São Paulo dá muitas oportunidades para gente que vem da base. Isso está melhorando a cada dia.

E como você vê outros jogadores da base tendo mais chances, se firmando mais rapidamente, e você, que era tido como promessa, ficando para trás? Isso frustra?
– Não! De maneira alguma. Eu fico feliz por eles. Os moleques vieram do mesmo lugar que eu e estão tendo oportunidade. Eu também tive a minha. Espero que eles tenham muito sucesso. E sei que o meu momento vai chegar.

Você fez muito gol na base e isso ficou na memória do torcedor. É muito diferente quando chega ao profissional? É muito mais difícil fazer gol no profissional?
– É claro que é muito mais difícil. No profissional tem jogadores de 20, 28, 30 anos, com experiência incrível e nível de atenção altíssimo. E na base, queira ou não, os moleques estão no aprendizado e, jogando no São Paulo, você tem um pouco mais de qualidade.

Você acha que a expectativa criada este ano em relação a você acabou atrapalhando e jogando uma pressão que talvez você não tivesse?
– Não. Eu tive o suporte necessário para jogar e estar feliz dentro e fora de campo. Eu acho que essa pressão também, no caso, ajuda a amadurecer, ter mais responsabilidade. Querendo ou não, quando você é promovido, deixa ser der um menino. Ano passado, por exemplo, eu convivi com Lugano, Hernanes, e você tem de entrar na mentalidade deles. Isso serve para firmar o cara.

O Lugano, por sinal, foi um dos caras que, no ano passado, deram muita força. Agora que ele está como dirigente, como tem sido essa relação?
– O Lugano, no ano passado, era como um paizão de todo mundo. Ajudava muito. Este ano ele está em outra função, mas continua nos ajudando conversando, cobrando.

E você seguia a cartilha dos 10 mandamentos do Lugano, que ele costuma manter segredo?
– Sigo até hoje. Tem que seguir.

Brenner completou 18 anos em janeiro e foi "homenageado" pelos companheiros de time — Foto: Érico Leonan / saopaulofc.net

Brenner completou 18 anos em janeiro e foi “homenageado” pelos companheiros de time — Foto: Érico Leonan / saopaulofc.net

Qual o principal aprendizado que você teve com essa cartilha?
– São várias, pô. Das mais sérias não lembro, só das mais engraçadas, como “quando uma mulher te disser que você é bonito, não acredita” (risos). Essa não tem como esquecer. Ele dizia que se a mulher falar que você é “educado, simpático”, tudo bem.

Quando você faz gol, começa a aparecer muita gente para ficar perto de você?
– Não. Quanto a isso eu me blindo muito bem. Então, pessoas que nunca tiveram participação na minha vida, quando eu estou num momento bom também não participam.

Nós vimos recentemente que alguns jogadores, como o Paulo Bóia e o Lucas Fernandes, foram para um time modesto da Europa (Portimonense, de Portugal). Você acha que esse é um caminho para você também ou acredita que seu futuro é no São Paulo mesmo?
– Sinceramente, eu sou muito feliz no São Paulo. Venho treinar com uma felicidade enorme. Não acho que seja o momento de sair. Estou focado. Claro que se acontecer com o decorrer do tempo e for uma coisa boa para mim e para o São Paulo, vai ser bom. Mas no momento eu quero ficar e procurar ajudar de alguma maneira.

Depois daquele momento difícil, em que você chorou ao ser substituído contra o Paraná, a comissão técnica do São Paulo decidiu que você iria ser emprestado por alguns jogos para o sub-20, mas você não gostou. Como foi isso?
– Foi normal. Eu não estava bem. Sou funcionário do clube e tenho que acatar. Foi um momento que passou e agora é bola para frente. Não me chateou, mas ficou claro que eu poderia dar mais, né. Acho que isso me ajudou também. Tenho 18 anos, é uma coisa normal que levei com certa tranquilidade.

Logo depois disso, antes mesmo de ter alguma oportunidade de jogar no sub-20, você foi chamado para completar os treinos da seleção brasileira na preparação para a Copa do Mundo. E lá foi elogiado. Acha que isso ajudou a mudar sua imagem naquele momento?
– Quando estava nessa de eu ir ou não para o sub-20, recebi esse convite da Seleção. Fiquei felizão. Fui bem, deu tudo certo, peguei um aprendizado incrível. Isso ajudou a mostrar o meu valor e o clube viu isso também.

Brenner entre Gabriel Jesus e Neymar: atacante do São Paulo completou treinos da Seleção pré-Copa do Mundo — Foto: Arquivo pessoal

Brenner entre Gabriel Jesus e Neymar: atacante do São Paulo completou treinos da Seleção pré-Copa do Mundo — Foto: Arquivo pessoal

Quais foram os jogadores que mais ajudaram na seleção brasileira?
– Casemiro, Fernandinho, Douglas Costa, Gabriel Jesus, Danilo… O grupo era muito bom. Eles me aconselhavam e cobravam também para fazer um bom trabalho nos treinos.

Como era para você estar ao lado das estrelas que você usava para jogar no videogame?
– No começo você fica meio deslumbrado, né. Fiquei uns três dias deslumbrado. Mas depois tentei agir naturalmente. Foram 17, 18 dias maravilhosos que me ajudaram muito.

Você acha que foi um momento importante para você reagir?
– Foi um momento muito bom para pegar força e confiança. Logo em seguida voltei, joguei contra o Vitória e fomos para a pausa da Copa do Mundo. Aquele momento ali serviu para ficar gravado como renascimento.

Na última segunda-feira, no entanto, você foi emprestado ao time de aspirantes do São Paulo para uma partida contra o Atlético-PR. Acha que isso foi importante para você?
– É como eu sempre falo. Sou funcionário do clube e estou disposto a ajudar da melhor maneira possível onde a comissão técnica pedir. Fui, joguei, ajudei o time a ganhar e já estou pronto para contribuir no final de semana, caso o treinador achar necessário. Recentemente, já tivemos outros atletas que foram lá, jogaram e depois tiveram chances no profissional. Estou me dedicando a cada dia e tentando absorver todos os conselhos do pessoal pra melhorar e ganhar mais oportunidades.

Agora sobre sondagens: teve alguma proposta concreta para você sair do São Paulo este ano?
– Concreta assim, eu não sei. Fico meio por fora, porque costumo manter o foco nos treinos. Meu pai também procura sempre esconder as coisas de mim, evitar que eu saiba. Eu vi que tinha algumas sondagens, mas eu mantive o foco aqui. E sobre isso não tenho muito a falar.

Seu último jogo pelo São Paulo foi a derrota para o Colón, no jogo de ida da Copa Sul-Americana, no Morumbi. E você foi expulso. Acha que isso fez com que você ficasse para trás no elenco?
– Eu vinha de um jogo contra o Grêmio, no qual fui elogiado pelo pessoal. Estava confiante que iria entrar contra o Colón e entrei. Só que o jogo estava quente, eu no banco já estava bem agitado, e num momento ali fui infeliz. Quis revidar uma coisa que não era necessário. Mas o treinador viu e achou da melhor forma não me colocar nos outros jogos. Agora é esperar outra oportunidade.

Mas não acha que agora ficou difícil, principalmente em um elenco tão competitivo?
– A concorrência é boa para o São Paulo também, porque todos querem mostrar serviço. E pelo que eu tenho visto nos jogos quem entra dá a vida. Alguns estão aproveitando. Claro que é muito difícil, mas isso estimula você a trabalhar e evoluir. É uma briga sadia em prol do clube.

Quando você conversa com o Aguirre e com os diretores do São Paulo, o que eles dizem para você? Eles apontam mais chances no futuro?
– Claro. Eles me dizem que se treinar bem, a oportunidade vai vir. Eu não posso é deixar a peteca cair. Tenho que trabalhar e trabalhar. Se eu treinar bem, o treinador também vai querer me colocar para jogar. O pessoal conversa comigo para ter mais intensidade.

Brenner foi promovido por Rogério Ceni. Garoto escreveu mensagem após a demissão do ídolo — Foto: Reprodução/Instagram

Brenner foi promovido por Rogério Ceni. Garoto escreveu mensagem após a demissão do ídolo — Foto: Reprodução/Instagram

E o Aguirre já teve alguma conversa com você?
– Já, sim. Ele pediu para eu continuar firme. Eu acho até que ele está querendo me colocar, mas em alguns jogos não dá. Mas entendo perfeitamente e continuo trabalhando.

E qual a projeção que você faz para sua carreira até o fim do ano e o quanto você amadureceu nesse período como profissional?
– Desde a minha chegada ao profissional até agora, eu amadureci e evoluí bastante, como pessoa e como jogador. As coisas acontecem muito rápido. O que planejo até o final deste ano é que a gente tenha uma boa sequência, com belo trabalho e, claro, planejo jogar também.

O que você acha que é fundamental para dar o pontapé numa retomada?
– Primeiro entrar e fazer um bom jogo. Se fizer um gol, melhor ainda. Importante ganhar minutos de jogo e quando você vê já está jogando bastante. Tenho de focar para entrar, ajudar, ganhar a confiança de novo, pegar ritmo.

Por fim, como você consegue manter essa chama acesa mesmo sem ter oportunidade?
– Eu me cobro muito. O que eu quero é jogar. Se não jogar uma partida, tenho de trabalhar firme na semana para tentar jogar na outra. E isso vai seguindo. Só de ir para o jogo, já tem uma motivação de ver os companheiros. Jogo a jogo você cria a expectativa. Isso não pode acabar.