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A rodada poderia ter sido melhor para o São Paulo não fosse o empate em casa com o Fluminense por 1 a 1, no último domingo (2). Mas a partida no Morumbi representa mais do que um resultado dividido entre a frustração por não vencer em casa e a euforia por uma reação aguerrida, saindo em desvantagem e com um jogador a menos. O duelo com os cariocas foi mais uma demonstração de como o Tricolor – clube, time e torcida – não aceitam mais as derrotas e problemas do futebol como se tornou rotina nos últimos anos.
E o próprio São Paulo já comemora essa revolução. Conquistar o Campeonato Brasileiro seria um prêmio para toda essa mudança, mas já há uma satisfação de que, enfim, o clube voltou aos trilhos. Os resultados, é claro, ajudam a dar essa sensação de paz, a unir mais tudo o que forma uma equipe de futebol. Mas o consenso é de que os processos escolhidos foram os melhores e que a execução tem sido bem feita. Da parte administrativa ao dia a dia dos jogadores.
Se há dúvidas sobre essa mudança, basta comparar como os tricolores têm reagido a adversidades em 2018 e como isso acontecia nas temporadas anteriores. Jogos fora de casa eram um tormento. Fossem contra grandes, como Cruzeiro e Flamengo, ou times menores, como América-MG. O São Paulo entrava desligado, apático e desmoronava com falhas individuais. O rival quase sempre conseguia sufocar e vencer. Os paulistas eram presas fáceis, quase indefesas.
Agora, até mesmo em derrotas como contra Palmeiras e Grêmio, o elenco dá mostras de que se entregou, que não facilitou para o adversário, que não desistiu. Um retrato do que foi o duelo com o Fluminense no último domingo. Sete desfalques, incluindo o camisa 10 Nenê, uma expulsão no primeiro tempo e um gol contra. Era a receita para uma goleada dos cariocas e um fim de jogo cercado por protestos da torcida, opositores ensandecidos nos bastidores. O time, entretanto, lutou, trouxe os torcedores para dentro do campo, buscou o empate e terminou a partida com uma felicidade de vencedor.
As derrotas que o São Paulo deixou de aceitar também estão fora de campo. Quantos jogadores foram negociados porque “queriam sair, não tinha como segurar”? Thiago Mendes, Luiz Araújo, Lucas Pratto são alguns exemplos. Para evitar outros casos do tipo, não bastava a diretoria argumentar com palavras diante de atletas seduzidos por boas propostas ou menos pressão. Era preciso provar que o clube estava diferente, mais organizado, mais sério e com dirigentes prontos para dar suporte ao elenco.
Foi assim que Santiago Tréllez, herói contra o Flu, rejeitou duas propostas na última janela de transferências. Foi assim que Diego Souza, um quase-vilão no domingo pelo polêmico cartão vermelho, permaneceu após interesse do Vasco da Gama. Raí e o técnico Diego Aguirre condicionaram o atacante a ficar com diálogo, mas acima de tudo, com atitude.
Também pode ser enquadrado nesse caso o lateral-esquerdo Reinaldo. Se tivesse voltado antes de seus empréstimos, em períodos mais obscuros do clube, dificilmente teria sido bancado para prosperar como o jogador mais ovacionado da equipe. Seria mais fácil ceder às reclamações da torcida de que ele “não era jogador para o São Paulo” e sair por aí gastando para contratar um novo lateral.
Todo esse terreno mais seguro começou a ser assentado quando Raí assumiu a diretoria de futebol. Tê-lo como grande figura do clube já causava impacto, trazia mais respeito e abria caminho para que uma identidade fosse construída. É verdade que o mesmo já havia sido tentado com Rogério Ceni, como técnico, na temporada passada, mas os problemas do São Paulo há tempos gritavam por mudanças internas, e não somente no campo.
Raí trouxe credibilidade no trato com outros clubes e com empresários. Alguns chegam a comemorar a presença do ex-jogador pela forma clara como são feitas as conversas. No próprio Tricolor, entre subordinados do ídolo, há essa sensação. Algo que cresceu conforme as contratações foram conseguindo deslanchar na equipe e, principalmente, pela unidade criada após a comissão técnica de Diego Aguirre ser contratada. O treinador se sente respaldado, a diretoria se sente representada. No campo, o time se sente respaldado, o comandante se sente representado.
“Mais uma vez me senti identificado com a entrega do time, com a forma como lutamos e saímos para pressionar. Não jogamos tanto futebol, mas demos tudo no campo. Esse desejo de comemorar com eles na hora do gol foi pelo jeito como atuaram”, desabafou Aguirre após o empate contra o Flu, quando praticamente invadiu o campo para vibrar com Tréllez e companhia.
A identidade sonhada por Raí desde a primeira entrevista como dirigente do São Paulo foi estabelecida por Aguirre e estancou uma busca falha dos últimos anos. Os últimos treinadores eram contratados para dar cara ao Tricolor, mas sofriam com vendas ou com contratações indesejadas. Mais seguro financeiramente, o clube conseguiu ser mais cuidadoso no mercado, é verdade, mas não bastava mais só investir em nomes fortes.
Era preciso criar o ambiente necessário para que eles rendessem. E evitar a eleição de heróis intocáveis, como foi feito com Pratto ou Maicon, o “God of Zaga”. O São Paulo hoje se exalta como um todo, com unidade. Como “time de guerreiros mesmo, todos pensando em uma coisa só”, poderia definir o capitão Hudson: “Quem está no banco entra e faz a diferença, como foi com o Régis e o Tréllez contra o Fluminense”.