Como o cartola que salvou o Atlético-PR quase foi diretor do São Paulo

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Napoleão de Almeida
  • Arquivo Pessoal Valmor Zimmermann

    Valmor Zimmermann impediu a falência do Atlético-PR: laços com a diretoria do São Paulo

    Valmor Zimmermann impediu a falência do Atlético-PR: laços com a diretoria do São Paulo

Hoje rivais com várias rusgas extracampo, Atlético-PR e São Paulo já foram muito próximos em suas diretorias. Corriam os anos 60 quando um dirigente histórico do Furacão vivia por São Paulo. Era Valmor Zimmermann, que naqueles tempos de pouco dinheiro, patrimônio quebrado e domínio do Coritiba em campo, organizou a Retaguarda Atleticana, um grupo de empresários que pagou dívidas do Furacão e montou as equipes campeãs estaduais de 1982, 83, 85 e 88, além do time semifinalista do Brasileiro de 1983.

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Adesivo da Retaguarda Atleticana: Zimmermann levou Petraglia para o Furacão

Zimmermann trabalhava com alimentos e morou em São Paulo, o que acabou lhe aproximando do time do Morumbi. “Eu fiz amizade com o pessoal, com o Henri Aidar, visitava o Morumbi, fiquei amigo do Carlos Miguel (Aidar, filho de Henri, ambos dirigentes do Tricolor Paulista em épocas diferentes)”, contou. Na época, o São Paulo trabalhava para a conclusão do estádio. “Eu conheci o Laudo Natel (ex-presidente do SPFC), ele era já Governador de São Paulo, são-paulino, participava da vida do São Paulo. E eu o conheci através do Hélio Setti, que fez promoções para a construção do Morumbi e que era atleticano.”

Com atleticanos vivendo junto à diretoria do São Paulo, numa época em que o futebol não era nacionalizado como hoje, não havia rivalidade. “Certamente se eu quisesse participar de alguma coisa eles aceitariam, por que a gente estava muito junto”, relembrou Valmor, sobre ser diretor do São Paulo. Ele não quis, voltou à Curitiba e organizou a Retaguarda, com nomes como Mario Celso Petraglia, Onaireves Moura e Marcos Isfer.

Lugar VIP na inauguração do Morumbi

Valmor Zimmermann estava nas arquibancadas do recém-construído Morumbi em 1960. “Eu participei inclusive da inauguração do Morumbi, do jogo em que eles trouxeram o Benfica de Portugal para o jogo, e durante a construção deram carros pros jogadores venderem. E o José Poy, que era goleiro, foi o maior vendedor. Tinham outros jogadores, como Bellini na época, que pediam para o Poy vender. Ele pegava e ia vender”, contou, “Teve um pedido de um torcedor que queria comprar cadeiras e ele chegou lá e era festa de aniversário do filho. E ele pensou, “que fria”. Mas aí tirou fotos, autógrafos e sentou negociar: o cara comprou um camarote e 12 cadeiras!”, lembrou aos risos.

José Poy dirigiu o Atlético como técnico duas vezes. “Era um baita cara”, afirmou.

Como cartola, entrada livre no Morumbi

Se hoje diretores de Atlético e São Paulo vivem estremecidos, nos anos 70 e 80, o contato era cordial, de parceria. “Éramos companheiros, os clubes sempre tomavam decisões juntos”, disse Valmor. Ele presidiu o Furacão entre 1984 e 85, mesma época em que Carlos Miguel Aidar presidia o Tricolor paulista pela primeira vez. “Eu já presidente do Atlético tive muito contato com ele, muitas negociações. Eu trouxe o Agnaldo, um centroavante que foi campeão com a gente em 1985.”

Anos mais tarde, Valmor foi decisivo para o pontapé inicial para a construção da Arena da Baixada. Além de articular a compra do Parque Aquático, que futuramente seria desapropriado pelo Governo do Paraná e que renderia a construção do CT do Caju, Valmor foi buscar no Morumbi um jogador que seria vendido e daria os primeiros recursos para a reforma da Baixada, na primeira versão da Arena em 1999.

Marlene Bergamo/Folhapress

“Eles levaram o Paulo Rink, bem garoto, júnior nosso, os pais deles levaram ele lá. E o Carlos Miguel era o presidente. Aí o pessoal do amador não queria devolver, mas eu falei com o Carlos Miguel e disse “olha, eu não vou assinar a liberação” e aí ele me mandou o Rink de volta”, contou. Hoje aposentado e longe do Atlético, rompido com Petraglia, Zimmermann vê apenas de longe a relação entre os clubes: “Pelo que eu tenho acompanhado, está ruim né? Desde aquela ida do Dagoberto para lá.”