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Humberto Peron
Para torcedores e críticos sempre há desconfiança, mas quando são os jogadores e a comissão técnica da equipe que não sentem convicção no goleiro a situação piora muito.
Quem escolhe jogar no gol sabe que receberá algum tipo de crítica a cada gol tomado, mas a situação fica ruim mesmo quando o goleiro percebe que os companheiros – aqueles que convivem com o arqueiro no dia a dia do clube – não demostram qualquer segurança com quem está sob as traves.
Agora, Sidão (São Paulo) é um exemplo disso. Ele até perdeu a posição para Jean na partida contra o Internacional. Muralha, em um passado recente no Flamengo, passou pela mesma situação.
Lógico que ninguém dirá abertamente que não confia no goleiro do time, mas há vários sinais que demonstram isso. Por exemplo, os jogadores de linha se jogam em qualquer lance para cortar a finalização, alguns até se posicionam atrás do arqueiro para tentar defender a meta. Os zagueiros nunca esperam a atuação do goleiro e já vão dando um chutão para o lado e para cima e os companheiros fazem de tudo para a bola não chegar ao goleiro, mesmo nos lances sem nenhum perigo e o guardião gritando para o beque sair da bola.
Isso sem dizer nos comentários que sempre brotam dizendo que os outros arqueiros do time estão em grande fase e que já merecem uma chance. Também há uma cara de alívio dos companheiros em qualquer bola defendida e não há mais nenhum elogio em qualquer intervenção. Até os olhares mudam, sempre há um ar de desconfiança, parecendo dizer “vai complicar nosso time hoje?”. Não faltam declarações de “perdemos em uma falha individual”, quando há algum erro do goleiro e a equipe sai derrotada.
Por mais que o goleiro tenha experiência e saiba qual é a sua capacidade, a desconfiança dos companheiros atrapalha muito. Quando o arqueiro sente que a confiança dos colegas com ele está lá embaixo, ele, institivamente, começa a jogar apenas por ele. Por isso, o goleiro começa a sair em bolas, quando o correto seria proteger sua meta, se chocando com os zagueiros constantemente.
O goleiro pressionado começa, até para mostrar que todos estão errados, fazer coisas que não deveria e que só o atrapalham ou, que é bem pior, termina em um gol do adversário. Em uma bola recuada, tenta fazer uma “gracinha” ou mostrar que tem condições de sair jogando com categoria ou, em chutes ao gol, busca fazer uma defesa mais rebuscada ou dar um salto acrobático quando não é necessário.
Quando o goleiro está na situação que nem os companheiros confiam nele, primeiro ele precisa treinar ao máximo e procurar os líderes do time, questionando qual o motivo da desconfiança. Por fim, muitas vezes é melhor pedir para sair do time para o treinador, para ficar na forma ideal, se afastar de todas as críticas e recuperar a moral com os demais integrantes do time – o fato de aceitar o mau momento renderá pontos com os demais atletas.
É melhor ficar cinco ou seis jogos sem atuar e ter a chance dar a volta por cima, do que arriscar acabar com sua carreira.