“Acredito que devo ter mudado de patamar”, diz zagueiro Bruno Alves

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UOL/LancePress

Bruno Alves chegou ao São Paulo no segundo semestre de 2017
  • Marcello Zambrana/AGIF Bruno Alves chegou ao São Paulo no segundo semestre de 2017

O zagueiro Bruno Alves chegou ao São Paulo no segundo semestre de 2017, quando a equipe ainda brigava contra o rebaixamento, como uma aposta da diretoria e desconhecido de grande parte da torcida. Última opção do elenco nesta mesma época do ano passado, o defensor ganhou espaço na equipe, elevou seu moral com os companheiros e reconheceu que passou a ser reconhecido pelos são-paulinos depois de seu desempenho em 2018: ‘acredito que devo ter mudado de patamar’.

Nesta entrevista concedida ao “Lance!”, o dono da camisa 34 do Tricolor falou sobre a felicidade de ter feito uma das melhores temporadas de sua carreira, confessou a ansiedade por ver o Morumbi lotado em uma partida de Libertadores e explicou alguns hábitos diários que lhe ajudaram a ganhar uma maior projeção no cenário nacional.

Aos 27 anos, Bruno Alves iniciará o ano de 2019 com a condição de zagueiro mais utilizado pelo clube na última temporada. Seus 41 jogos superaram os números individuais de todos seus concorrentes diretos por uma vaga no time titular. O bate-papo com o jogador aconteceu em dezembro do ano passado, na véspera do jogo contra a Chapecoense, pela última rodada do Brasileirão. Mesmo antes das férias e ainda sem o conhecimento da chegada dos sete reforços contratados pelo clube para esta temporada. Mesmo assim, Bruno já se mostrava confiante com a chegada de 2019.

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Confira abaixo a entrevista completa:

A temporada 2018 foi a melhor da sua carreira?

Foi um ano especial. Se for analisar, foi o ano mais especial da minha carreira. O ano em que me firmei em uma equipe do tamanho do São Paulo. Então, dá para dizer isso sim.

Antes de 2018, qual ano você escolheria como o melhor?

Tinha sido 2016. Estava no Figueirense, tive uma sequência boa, fiz 54 jogos e fui bem na Série A. Lembro que no primeiro turno, por estatística – inclusive foram vocês do Lance! – fui considerado o melhor zagueiro do campeonato. Aquele foi um ano meio parecido, mas pelo tamanho, pela grandeza do São Paulo, esse ano foi mais especial para a minha carreira.

Você começou a temporada como a quarta opção do São Paulo entre os zagueiros. Depois desta temporada, você acredita que chega em 2019 com uma outra condição aqui no clube?

A nossa amizade (referindo-se aos seus companheiros de zaga) continua aqui no São Paulo. A gente se cobra muito para estarmos sempre melhorando. Acredito que será igual. O carinho, independente de quem começa a partida, seguirá o mesmo entre nós. Acredito que a torcida pôde me conhecer melhor, conhecer meu futebol e ver o que eu posso render com essa camisa. Por isso, acredito que para a torcida devo ter mudado o patamar. Digo, em ser um nome conhecido no clube.

Você atingiu suas metas individuais nesta temporada?

Coloquei uma meta de 30 jogos no ano, ou 12 jogos do Brasileirão. Se você for ver, era um número meio maluco (risos). Se você for ver, a condição que eu enfrentava, era difícil. Entre colocar 30 e colocar 10, ia dar na mesma. Eu fui e coloquei isso para minha carreira (risos). Quanto mais você aumenta sua meta, maior é seu ânimo para batê-la. Termino o ano jogando mais de 40 jogos. Consegui cumprir meus objetivos e estou feliz por isso.

Como você chega nesse número? Todo ano você faz uma meta assim?

Gosto de ler bastante. Acredito que quanto mais você mentalizar, mais você se esforçar, mais você desejar e atrair coisa boa, acontece. No começo do ano coloco uma meta de jogos e, na época, mesmo sabendo que era o quarto zagueiro fiz isso. Vinha trabalhar todo dia muito empenhado e me dedicava ao máximo. Houve convocações do Arboleda e do Rodrigo Caio, também tiveram lesões, e isso me abriu espaço.

Esse seu hábito de mentalizar os objetivos vem de algum livro específico?

Tenho o hábito de ler bastante. Acredito que um livro que me ajudou bastante nesse ano foi ‘Desperte seu Gigante Interior’, do Anthony Robbins. Lógico que cada um tem seu jeito de viver, de ver as coisas. Eu, por exemplo, sou bastante família e tento evoluir ao máximo. Acredito que futebol não é só dentro de campo, por isso procuro estar bem em todos os aspectos da minha vida para melhorar meu futebol.

Essa linha de pensamento vale também para o contexto do São Paulo? Despertar um gigante?

(Risos) Verdade. Esse ano (referindo-se a 2018) foi um ano bom. Lógico que ficamos chateados pelas coisas que gostaríamos de ter alcançado, mas tenho certeza que a semente que plantamos nesta temporada, colheremos em breve. É tempo de se dedicar, de trabalhar e vamos atrás dos nossos objetivos.

Você teve alguma mudança de hábito nesta temporada para que houvesse uma mudança de patamar aqui dentro do clube?

Sempre fui um cara que chega antes do início do treino. Até para poder fazer academia, parte de fortalecimento, para poder evitar lesões. Graças a Deus, mais um ano sem lesões. É lógico que sempre há dor, mas nada que tenha me tirado de um treinamento ou de uma partida, que é mais importante. O mesmo Bruno Alves de janeiro é este em dezembro. Procurei dar o meu máximo todo dia, em todos os treinos. Os erros aconteceram, é normal, mas termino minha temporada de forma bem satisfatória.

Se você tivesse de escolher um jogo seu em 2018, qual escolheria?

Um jogo só? Acho que pelo fato especial de eu ter feito o gol, escolho contra o Paraná (1ª rodada do Campeonato Brasileiro). E aquele dia ainda era o meu aniversário. Falei para todo mundo antes que faria gol. Foi uma data muito especial e que ficará marcada bastante na minha vida.

Como ficou o scout do Henry (filho de Bruno Alves, que costuma acompanhar o pai nos jogos realizados no Morumbi)?

Ele acabou invicto, graças a Deus. No clássico contra o Palmeiras, que eu joguei, ele ficou em Florianópolis e eu culpo até hoje minha esposa por isso (risos). Brincadeiras à parte, o Henry gosta de viver esse momento comigo e é importante. Agradeço o carinho que a torcida tem com ele. Eu, como pai, fico bastante feliz. É algo que me deixa muito orgulhoso.

Em 2019 o São Paulo voltará a disputar a Copa Libertadores. Geralmente, os jogos começam bem tarde. Já pensou se levará ele?

No Morumbi é a minha obrigação levar, não tem como ser diferente (risos). Já vou colocar ele para dormir de tarde para ir comigo nos jogos. Ele vai entrar comigo no campo, certeza, porque eu quero que ele também viva essa experiência.

Você está ansioso por esse momento de Libertadores? Imagino que você já deva ter percebido que aqui no São Paulo, esses são os jogos mais especiais do ano, a grande paixão da torcida. Você já mentaliza o Morumbi lotado, a pressão da torcida nesses grandes jogos?

Sei que a cobrança será grande. O clube vive disso e tenho a dimensão do que é jogar uma Copa Libertadores com a camisa do São Paulo. Ainda sairemos de férias e recarregaremos as energias. Em 2019, faremos o São Paulo um protagonista na Copa Libertadores.

O São Paulo termina 2018 alcançando seu objetivo: retornar à disputa da Copa Libertadores. Apesar disto, houve uma ideia de que a equipe poderia ser campeã e isso não aconteceu. Diante deste contexto e de tudo o que vocês passaram ao longo da temporada, a sensação interna é de que foi um ano positivo ou negativo para o clube?

É uma mistura de sensações. Se você pensar pelo ano passado (2017), o clube estava brigando para não ser rebaixado. Neste ano (2018), o clube fica na liderança do Campeonato Brasileiro, faz bons jogos e depois oscila da forma como foi. Fica uma frustração para nós, a sensação de que poderíamos ter ido mais longe.

O que você já está notando de características do Jardine? É um cara que cobra mais, tem um perfil muito diferente? E, emendando, sobre a postura dos zagueiros ele deve mudar algumas coisas: pedir para que a primeira linha de marcação saia mais para o jogo e esteja mais avançada. Como você vê isso?

É um treinador que mudará nosso estilo de jogo e nós entendemos. Isso faz parte. Ele é de uma filosofia que eu, particularmente, gosto bastante: ‘quanto mais você sangra no treinamento, menos você sofre no jogo’. Então, estamos nos dedicando muito. É um treinador que gosta de ter a bola e ele já deixou isso claro para nós. Não importa se o jogo é no Morumbi ou fora de casa. Tenho certeza que o São Paulo evoluirá. Para nós, da zaga, ele pediu que comecemos as jogadas lá de trás.

Essa é uma característica que você tem na carreira, de dar uns passes mais verticais, ou você está pegando agora?

Na verdade, o Dorival Júnior também gostava desse estilo de jogo e nos pedia bastante isso. Então, não muda muita coisa. O bom é que o Jardine faz muitos treinos específicos para isso e a tendência é de que a gente evolua mesmo.

O Jardine é um treinador mais severo no dia a dia?

O bom dele é que ele cobra o cara mais experiente e o cara mais novo do elenco da mesma forma, igual. É um cara que se mostrou estar ao lado do grupo e nós o abraçamos. Ele nos disse para ter ambição, que quem veste a camisa do São Paulo tem que ter ambição de vencer. Achei isso bem legal. Tenho certeza que em 2019 vamos mudar nosso estilo de jogo e vamos crescer.