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Cíntia Barlem
Reforço do tricolor paulista, atacante se mostra motivada com nova realidade do futebol feminino no país: “Tem tudo para acontecer”. Clube aposta na atleta como “cereja do bolo”.
Cristiane foi anunciada na última semana como reforço do São Paulo — Foto: Renata Damasio/saopaulofc.net
No ano de sua última Copa do Mundo com a Seleção, Cristiane escolheu apostar em um projeto para o fortalecimento do futebol feminino no Brasil. Depois das passagens no exterior por PSG, da França, de 2015 a 2017, e pelo Changchun, da China, entre 2017 e 2018, a atacante retorna ao país para vestir a camisa do São Paulo, no projeto recém lançado pelo clube para reativar a modalidade. A jogadora deixou para trás uma oferta do Barcelona pelo ideal de ver em uma nova realidade surgir.
– Primeiro, a decisão foi por conta pessoal. Minha mãe não está muito bem e aí eu não estava querendo sair. O São Paulo veio com um projeto, um planejamento muito rápido, na verdade, porque eles me ligaram em um dia e no outro eu já estava no clube conhecendo toda a estrutura. Em pouco tempo eles correram atrás de tudo porque eu também tinha que dar uma resposta lá fora. Do Barcelona já tinha saído que eu ia jogar e eu nem tinha acertado nada. O clube também sabia dessa situação. O São Paulo vem com uma vontade muito grande de me querer dentro desse projeto. Me abraçou de uma maneira muito bacana. Eu gostei bastante – afirmou Cristiane ao blog Dona do Campinho.
Na categoria principal, o São Paulo terá duas importantes competições a disputar – o Campeonato paulista e o Brasileiro Série A2. A equipe começará na segunda divisão da competição nacional baseada no ranking de clubes da CBF para o masculino. Serão no total 36 times na disputa. Cristiane comemora o fato de, mesmo começando na Série B, o clube não ter optado pelo caminho mais fácil de montar uma parceria com um time da primeira divisão feminina e assim “ganhar” a vaga.
– Sem dúvida nenhuma. Nós já tivemos isso lá atrás do São Paulo com a Sissi com a própria Formiga. Então acho que hoje eles estão aproveitando que é ano de Copa também. Estão incentivando a modalidade. Abraçaram o projeto sozinhos porque eles poderiam ter criado parceria para poder subir para a Série A. Não, eles estão começando de baixo para poderem ter tudo deles, o que eu acho que é o principal. Em uma dessas você acaba não tendo confusão e acaba separando (no formato parceria) e quem perde são as atletas. Estão fazendo uma coisa própria, de dentro do clube – afirmou.
Pelo lado da atleta, nenhum problema também em iniciar essa trajetória pela Série A2. Cristiane acredita que o mais importante nesse momento é mostrar que é possível tornar ainda mais viável o futebol feminino no Brasil e fazer com que outras atletas também optem por ficar e não tentar uma chance no exterior. Segundo ela, é um caminho importante até mesmo para fortalecer a seleção brasileira, assim como fizeram países como França, Alemanha e Espanha, criando ligas fortes e garantido suas grandes jogadoras em casa.
– Eu não tenho problema nenhum. Para mim vai ser um desafio na minha carreira. Primeira vez que vou jogar a Série B. É justamente para ajudar o São Paulo. Acho que minha vinda talvez mostre para outras meninas que têm saudade de casa, têm vontade de voltar, falar: poxa, a Cris conseguiu vir, clube deu estrutura que ela precisa, por que não começar a pensar nisso também. Acho que seria importante para a modalidade. A gente vê hoje que nos Estados Unidos todas as americanas jogam no seu país. Na França mesma coisa, Alemanha também. Então por que a gente não conseguir dar uma estrutura? Óbvio que precisa de uma estrutura para a atleta trabalhar, mas por que não trazer as meninas de volta para o Brasil? – disse Cristiane.
Cristiane lamenta que a iniciativa dos clubes para 2019 em criar times femininos tenha surgido depois da obrigatoriedade imposta por CBF e Conmebol. Seu receio é que algumas equipes escolham fazer de qualquer maneira o cumprimento da regra, apenas dando o a camisa. Mesmo assim, a atacante aposta que, neste ano, o futebol feminino tem tudo para acontecer no Brasil, e os clubes vejam que podem ter retorno com a modalidade.
– A gente fica chateada porque é obrigatório. Teoricamente, você está fazendo alguma coisa que você não queria, alguém te obrigou a fazer. Então eu só torço para que eles façam com boa vontade porque tem alguns que: ah, eu sou obrigado então vou dar só a camisa, vou falar que eu fiz e vou fazer de qualquer jeito. Se for para fazer de qualquer jeito então é melhor não fazer. Torço para que realmente vá para frente porque todo ano era assim…agora vai. Voltava 10 passos. Tem tudo para isso acontecer. Lá fora a gente viu o quanto o clube masculino abraçando o feminino tem dado certo. O Barcelona é um exemplo muito grande disso. Em três, quatro anos, mudou totalmente o Campeonato Espanhol. Por que que isso não pode acontecer aqui no Brasil? – declarou Cristiane.
Cristiane está em período de treinos com a Seleção na Granja Comary — Foto: Marcos Paulo Rebelo/CBF
São Paulo aposta em Cristiane como a “cereja do bolo”
Cristiane é colocada pelo São Paulo como a grande aposta para o sucesso do projeto do futebol feminino. Não somente dentro das quatro linhas, mas também fora de campo. A fornecedora de material esportivo do clube aderiu ao processo e já disponibilizou, para homens e mulheres, a possibilidade de personalizar a camisa com o nome de Cristiane e seu número 11. Amauri Nascimento, supervisor da modalidade no tricolor paulista, garante que o objetivo é desenvolver um capítulo estruturado. Por isso, o papel decisivo de jogadora.
– A Cristiane topou fazer parte do processo de inclusão do futebol feminino dentro do clube. Tiveram alguns outros projetos dentro do São Paulo em relação à modalidade que não deram prosseguimento. Hoje, o clube entende que deve fazer de forma inteira, enraizada, estruturada. Cristiane entendeu que nosso projeto é inicial e precisa da representatividade dela dentro e fora de campo. E vamos brigar por título no cenário do Brasil. Foi uma negociação normal. Conversamos, mostramos o projeto e ela acertou. É um projeto inicial com atletas jovens e atletas experientes. Cristiane é a cereja do bolo. É diferenciada porque vai agregar muito valor para a gente fora de campo e dentro de campo. Agregar isso é a ideia do nosso trabalho – afirmou Amauri Nascimento ao blog Dona do Campinho.
O dirigente garantiu também que a parceria com o Centro Olímpico no sub-17 não existe mais. A partir de agora, a iniciativa é totalmente do São Paulo. De acordo com ele, a categoria irá disputar o Brasileiro Sub-18 feminino, que será lançado a partir de julho. A modalidade usará as dependências do clube social no Morumbi. Sobre os jogos oficiais, ainda será necessário a autorização dos órgãos que comandam o futebol sobre os locais, mas o São Paulo ainda tem Cotia e Barra Funda como alternativas. A meta colocada por Amauri mostra que a modalidade retornou para permanecer. Em três anos, o clube quer ter o futebol feminino autossustentável, ou seja, que a formação de jogadoras possa suprir totalmente a categoria principal.
– Voltar a tradição do São Paulo com times femininos como foi em 92 com Zé Duarte, Formiga. Foi uma referência e queremos começar isso novamente. Aproveitar as meninas da base da parceria com Centro Olímpico. A parceria termina. Agora a sub-17 é 100% do São Paulo. A principal será a mescla de meninas que estouraram a idade com as experientes. Em três anos queremos ser autossustentáveis (em relação a atletas) – afirmou.
Cristiane, reforço do São Paulo — Foto: Renata Damasio/saopaulofc.net
— Foto: infoesporte