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Bruno Grossi
Na estreia do São Paulo em 2019, o técnico André Jardine viu o time perder por 2 a 1 para o Eintracht Frankfurt e passou por aquele que foi um dos problemas do time no ano passado: a dificuldade de criação no meio de campo com Jucilei e Hudson juntos. O time foi mais travado no primeiro tempo, circulando a bola com mais lentidão. E no segundo, com a presença de Liziero, o cenário mudou.
O garoto de 20 anos foi usado na etapa final no time que tinha Willian Farias como primeiro volante e Araruna mais avançado, a seu lado. Essa formação deixou o setor mais móvel, realizando a transição para o ataque de forma mais rápida. E foi assim que o gol tricolor foi criado na partida de abertura da Florida Cup, em São Petersburgo, nos Estados Unidos.
Liziero mostrou a atenção pedida por Jardine para recuperar a bola e já acelerar. A arrancada pelo meio clareou o lance, deixando Diego Souza em condições para dar a assistência para Nenê concluir. Foi um dos raros lances em que o São Paulo avançou de forma lúcida, prevalecendo pela técnica.
Na etapa inicial, em que pese a maior dificuldade do time escalado pelo Eintracht, o Tricolor demorou a colocar a bola no chão e criar. Mesmo quando recuperava a bola no meio, com campo para avançar, faltava mobilidade. A falta de ritmo contribuía, mas o problema é velho na parceria entre Jucilei e Hudson.
Hernanes dominava e só tinha Everton e Helinho pedindo bola, abertos pelos lados. O lateral-esquerdo Reinaldo passou a se apresentar, identificando a dificuldade. Hudson também percebeu a necessidade e por duas vezes se projetou ao ataque para dar opção – nas duas, porém, furou na hora de finalizar.
Ele e Jucilei muitas vezes ocupam a mesma faixa do campo, limitando a capacidade do time na hora da transição para o ataque. Um dos dois deveria sair mais, dar opção de passe, puxar a marcação e apoiar a criação do meio-campista mais avançado. Hudson, na teoria, é quem mais tem essa responsabilidade, mas seu jogo ofensivo está muito mais na imposição física e na ocupação de espaço do que na capacidade de construir com a bola nos pés.
É essa lacuna que Liziero pode ocupar. Basta lembrar que os melhores momentos do São Paulo na última temporada tinham o garoto criado em Cotia como titular. Primeiro, em uma fase mais conservadora de Diego Aguirre, como terceiro homem de meio, como foi no segundo tempo contra o Eintracht Frankfurt, durante o mata-mata do Campeonato Paulista.
Depois, na arrancada para a liderança do Campeonato Brasileiro, Liziero foi o segundo volante da equipe. Jucilei havia se machucado contra o Flamengo e abriu espaço para o jovem, deixando Hudson como o primeiro marcador. A boa sequência iniciada ali mostrava um time que saía muito rápido para o ataque e que tinha mais qualidade na saída de bola.
Liziero acabou perdendo espaço quando Jucilei se recuperou. E não mostrou mais o mesmo desempenho nas outras chances que teve – exceção feita aos jogos em que atuou com Luan. Ainda assim, foi o volante que mais contribuiu ofensivamente ao longo de 2018. Foram duas assistências e dois gols, contra apenas um gol de Hudson. Um perfil que pode ser muito mais útil para o ideal de jogo de Jardine e que pode ser potencializado pela presença de Hernanes.