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Denise Thomaz Bastos, Leandro Canônico e Renato Cury
Veja como foi a conversa com o ídolo do Tricolor, que retornou para sua terceira passagem.
Hernanes está com fome nesse retorno ao São Paulo. Fome é a palavra mais usada pelo meia para contextualizar o seu desejo por títulos no Tricolor. Em sua terceira passagem pelo clube, ele é uma das principais esperanças de dias melhores para a equipe do Morumbi.
Autor de um dos gols do São Paulo na derrota por 4 a 2 para o Ajax, no último sábado, em Orlando, pelo Torneio da Flórida, Hernanes está animado com essa nova chance de fazer história no Tricolor. Campeão brasileiro em 2007 e 2008, o meia vê o elenco do São Paulo bem qualificado.
– Se conseguirmos manter todo mundo motivado, vamos conseguir fazer um bom ano e conseguir brigar – comentou o camisa 15 do São Paulo.
Neste bate-papo, Hernanes falou sobre o seu retorno, suas expectativas e contou um pouco sobre como faz para aprender idiomas e como o estudo o ajudou a se tornar um líder.
Hernanes comemora o gol sobre o Ajax — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Veja abaixo como foi a conversa com o Profeta:
GloboEsporte.com: Em que momento você acha que virou ídolo do São Paulo?
Hernanes:
– Acredito que na minha primeira passagem, ganhando títulos importantes
e decisivos. Naquele momento já teve um carinho especial do torcedor.
Mas em 2017, na minha segunda passagem, o torcedor se sentiu
representado porque era momento de dificuldade.
Por conta da luta contra o rebaixamento, né!?
–
Eu retorno e consigo ajudar no objetivo de não ser rebaixado. Isso para
o torcedor e para mim está dentro das veias. O São Paulo não pode cair,
é gigante. A identificação foi muito importante. Em um momento
profético, eu diria assim:
– Em todo tempo, ama o amigo, mas é na adversidade que você encontra o irmão. O torcedor estava carente, eu cheguei e fui um símbolo. Entrei como o cara que foi símbolo de um momento histórico – disse Hernanes.
Na
sua apresentação, você falou sobre o inconformismo com a falta de
títulos do São Paulo (não levanta uma taça desde a Copa Sul-Americana de
2012). Esse discurso não aumenta a pressão?
– É normal
conviver com esse tipo de pressão jogando no São Paulo. Não posso pensar
que venho aqui só para passear, eu quero ganhar. E não existe pressão
maior do torcedor, do clube, do que essa sobre mim mesmo. Eu quero
ganhar e ponto final.
– Nós, jogadores, temos que estar cientes que vestimos a camisa de um clube com história e que entra para ganhar. Então acho que vamos sempre ter pressão e temos de estar cientes dela. Acho que esse clima ajudar a tirar algo a mais.
O
Corinthians tem o Fábio Carille, que já foi campeão por lá. O Palmeiras
tem o Felipão, de currículo indiscutível. E o Santos contratou o
experiente Sampaoli. Mas o São Paulo terá o André Jardine, um técnico
jovem. Como você vê essa situação?
– A base de tudo é a
matéria prima, qualidade, depois a fome, a experiência. Esses
treinadores têm a experiência, já conquistaram coisas importantes, mas o
que conta mesmo é a qualidade. Estou muito tranquilo, porque o Jardine,
desde que cheguei, vi que é um cara qualificado para realizar história
no clube. Se lhe falta experiência, lhe sobra fome.
Falando um pouco do seu lado pessoal, quantos idiomas você fala?
–Consigo me comunicar em cinco.
E quais são eles?
–Português, inglês, italiano, francês e espanhol.
E como foi o processo de aprendizado?
–
O ponto primordial é que sempre gostei de aprender. Na base do São
Paulo, sempre chegava um coreano ou um japonês e sempre perguntava: como
fala isso? Como fala aquilo? Quando cheguei na Itália, o italiano foi a
única língua que eu estudei mesmo. Fiz três meses de aula. O inglês e
as outras eu desenvolvi um método para que eu pudesse aprender sozinho.
Mas tudo baseado na fome, na vontade de aprender. Jogando fora, eu me
incomodava de não entender o que alguns jogadores falavam. Então sempre
quis aprender.
E como é esse método que você criou?
–Tem
muitos aplicativos que você baixa, mas neles os caras ensinam coisas
que você não usa e, se você não usa no dia a dia, aquilo se perde, é uma
lei do cérebro. O primeiro ponto é aprender o que você vai usar. Focar
nessas coisas. E tem uma ordem: primeiro os pronomes, depois os verbos
mais usados… Aí é memorização e trabalho. Eu também conheço algumas
técnicas de memorização. Gosto dessa parte de cognição do cérebro, de
como funciona essa parte. É muito curioso.
O que você costuma ler, o que você assiste?
–Estou
sempre lendo. Acaba um livro e logo começo outro. Gosto de ler sobre
performance, de entender como funciona a menta, a psique humana, o ser
humano. Estou sempre aprendendo e me dedicando a isso. E história, né!
Quando cheguei à Itália, fui entender a história de Roma. Na China
também. Eu gosto muito de saber de onde vem e o porquê das coisas. O
maior prazer que eu tenho é aprender. Se não estou aprendendo, estou
estagnado. A curiosidade é meu dia a dia.
E todo esse conhecimento faz parte da construção do Hernanes capitão e líder do São Paulo
–
É verdade. Até 2017 eu só tinha sido capitão uma vez na Lazio. Mas com
autoconhecimento, com essa maturidade, aliada com a força e com momentos
especiais, como o de 2017, me tornei um líder diferente. Eu sou calado,
falo pouco, mas falo com sentido, porque eu observo muito. Então acho
que foi uma contrução diferente de liderança.
Hudson passa a braçadeira de capitão para Hernanes — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Qual o maior desafio de ser capitão?
–
O desafio é estar conectado com os jogadores, tentar entender a
necessidade do grupo para transmitir à comissão e vice e versa. Acho que
essa constante está sempre ligada. O líder está sempre pronto,
preparado para dar o exemplo, não falar e cobrar, mas dar exemplo.
Você vê o São Paulo com qualidade para voltar a ser campeão?
–
Eu vejo que tem muita qualidade. O Tiago Volpi e o Jean são dois
grandes goleiros. Na zaga, nós estamos bem. Quando eu paro para pensar,
temos bons nomes, temos caras de qualidade e vejo que temos como chegar.
Estou bem feliz com o que eu vi e acredito que vai ter espaço para todo
mundo, porque são várias competições. Se conseguirmos manter todo mundo
motivado, vamos conseguir fazer um bom ano e conseguir brigar.
Para finalizar… Você está com 33 anos, como pensa sua relação com a seleção brasileira?
–Eu
tenho o desejo de retornar. Desde que o Tite assumiu eu não tive
oportunidade. Eu tenho o desejo de ir e demonstrar dentro de campo. Até
porque eu me sinto muito bem, com tanta fome e talvez mais motivado,
porque a maturidade me fez saber sofrer na hora certa. Antes, era muito
mais sofrimento do que prazer. Agora é só prazer, porque aprendi a
sofrer na hora certa e do jeito certo. A minha motivação é grande, os
objetivos são altos e com certeza a Seleção é um objetivo.
Enquanto o hernanes está com fome, os demais parecem estar de bucho cheio