Volpi bate pênaltis como Ceni, mas não quer ficar marcado por isso

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UOL

Conrado Giulietti

Tiago Volpi já tem duas partidas pelo São Paulo e sofreu cinco gols
  • Érico Leonan/saopaulofc.net Tiago Volpi já tem duas partidas pelo São Paulo e sofreu cinco gols

Em uma disputa de pênaltis, o torcedor do São Paulo terá em Tiago Volpi alguém para confiar não somente em defesas. O reforço tricolor está 100% em batidas de penalidades, todas quando atuava no futebol mexicano.

Nos quatro anos de Querétaro, Volpi foi protagonista ao conquistar o torneio Apertura da Copa do México, em 2016. Pegando cobranças e executando todas contra as metas adversárias, ele entrou para a história do clube e se tornou ídolo local (algo que nem seu ex-companheiro de time Ronaldinho Gaúcho conseguiu). 

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Na semifinal do torneio a partida com o Toluca terminou empatada por 0 a 0, e a vaga na decisão veio através dos pênaltis. Volpi bateu e converteu a quarta cobrança. Depois, já na série alternada, defendeu duas vezes, levando sua equipe para a final. Lá, o mesmo cenário: empate sem gols no tempo normal contra o Chivas Guadalajara, e nas penalidades, Volpi pegou duas batidas e fez a sua, conquistando o campeonato.

“A questão de chutar começou lá. Comecei a treinar com os outros goleiros, a princípio como uma forma de brincadeira, uma competição que a gente fazia. E justamente nesta Copa do México, quando fomos para a semifinal, o treinador disse que tinha me observado e perguntou se eu estava disponível para bater. Dei a resposta positiva para ele e a partir dali foram um total de quatro cobranças, com quatro gols”, orgulha-se em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Ser capaz de cobrar pênaltis é algo que naturalmente pode associar sua imagem a de Rogério Ceni, a quem Volpi chama de “Mito”. Porém, o novo camisa 23 do São Paulo mostrou precaução, evitando comparações. “Não pode forçar as coisas. A gente tem que entender que o que o Rogério fez foi único, algo que, no meu ponto de vista, jamais vai ser repetido. Venho com muita confiança de poder chegar da minha maneira, sem fazer gols. Venho como goleiro, não como um jogador para fazer gols”.

Neste bate-papo, Volpi falou sobre a escolha pelo São Paulo, o pedido dos mexicanos para que defendesse a seleção local, e ainda se divertiu revelando a dificuldade em orientar seus novos colegas de time em bom português.

Rubens Chiri/saopaulofc.net

Como você se sentiu estreando pelo São Paulo?

Legal. Ficou marcado. A gente sabe da grandeza do São Paulo, foi um motivo de muito orgulho quando pisei no campo podendo vestir essa camiseta. Estou me sentindo muito feliz, muito realizado, muito tranquilo para poder fazer meu trabalho, para que, de pouquinho em pouquinho, as pessoas possam me conhecer. Estou feliz e muito motivado por essa oportunidade.

Você estava muito adaptado no México, falando a língua, sendo ídolo da torcida. Ao voltar a jogar com brasileiros, comandar uma defesa como fazem os goleiros, houve algum momento no campo em que você se confundiu?

Por vários momentos. Não só no campo, mas até mesmo nas entrevistas. Meu subconsciente estava programado para falar em espanhol. Às vezes a gente acaba quebrando, acaba falando algumas palavras em espanhol. Ainda bem que tem o Arboleda ali que fala espanhol também, pelo menos alguém entende (risos). Essa adaptação agora leva um pouquinho de tempo, mas bem menos do que levou na minha adaptação saindo do Brasil e indo ao México. A gente volta para um lugar onde tem nossas raízes, onde sempre jogou e então essa adaptação vai ser muito rápida.

Tinha um papo no México que você poderia se naturalizar para jogar pela seleção local. Esses planos continuam com você voltando ao Brasil?

Eu tenho direito hoje até mesmo pelo nascimento da minha filha que é mexicana, mas o tema de jogar na seleção mexicana eu sempre deixei muito claro que não tinha isso como objetivo, como sonho. Sempre respeitei muito a todos os torcedores, os veículos de comunicação que sempre incentivaram para que eu pudesse me naturalizar e poder jogar pela seleção mexicana, mas eu também sempre deixei muito claro que esse não era meu objetivo. Que meu sonho sempre foi vestir a camisa da seleção brasileira, e não da mexicana. Sempre respeitando muito, né? É muito legal. Pensa no orgulho para ti também, poder sair do teu país e depois de quatro anos chegar num país onde os torcedores e a imprensa e muita gente te pede para vestir a camisa da seleção deste país. Eu acho que isso é sinal que teu trabalho foi bem feito e que te respeitam muito por lá.

Até por isso esta troca também. Eu tinha uma situação muito confortável no México, onde era ídolo, capitão da equipe e assumi essa responsabilidade de querer voltar para o Brasil, para uma equipe como o São Paulo. Isso mostra também que não vim aqui só para passear. Sei muito bem da responsabilidade e confio muito no meu potencial pra poder assumir essa responsabilidade que é ser o titular do São Paulo.

Divulgação/Querétaro

A impressão que dá é que o mexicano venera muito seus goleiros. Você sentiu isso?

O México sempre foi um país de bons goleiros. Jorge Campos fez história, o Ochoa agora nos últimos tempos acho que não precisa nem de comentários, o que ele fez nos dois últimos mundiais, nas duas últimas Copas, representa o quão bom ele é nesta posição. Teve o Oswaldo Sánchez, o ‘Conejo’ Pérez? O México sempre foi um país de goleiros de qualidade, então acho que é uma posição que eles gostam muito. A partir do momento que tu vai bem nessa posição, acho que a torcida te abraça, as pessoas te abraçam, por ser uma posição muito representativa dentro do México.

Uma coisa que aparece muito na sua passagem pelo México é o fato de ter batido pênaltis. Isso é uma coisa que você levou do Brasil?

A situação das defesas de pênalti é algo que no Brasil já tinha, inclusive na época do Figueirense, já tinha realizado algumas defesas de pênaltis. A questão de chutar começou lá. Comecei a treinar com os outros goleiros, a princípio como uma forma de brincadeira, uma competição que a gente fazia entre os próprios goleiros. E justamente nesta Copa do México quando fomos para a semifinal, o treinador disse que tinha observado que a gente fazia isso e perguntou se eu estava disponível para bater. Dei a resposta positiva para ele e a partir dali foram um total de quatro cobranças, com quatro gols.

Bateu algum no tempo normal?

Sempre em disputa de pênalti. Nosso batedor sempre estava em campo, então durante o jogo acabei não batendo.

E você chegou a falar isso pro Jardine?

Não, não. Não chegamos a conversar sobre este tema ainda. Já fizemos algumas brincadeiras com os goleiros ali, mas ainda não conversamos nada sobre isso não.

Você está jogando num lugar onde um cara fazia muitos gols. Essa identificação pode se tornar natural com o tempo…

Não pode forçar as coisas. A gente tem que entender que o que o Rogério fez foi algo único, algo que no meu ponto de vista jamais vai ser repetido. Acho que neste momento é uma coincidência que eu tenha batido pênaltis no Querétaro e agora estou no São Paulo, justamente onde a gente teve o “Mito”, né? O maior goleiro artilheiro da história. Mas acho que não é momento para querer se comparar, ou querer dizer que vai bater pênalti igual a ele, porque foi um fator de coincidência que eu bati no México e hoje estou no São Paulo, mas se precisar a gente já vem com esta experiência. Não é algo que eu estaria inventando, é algo que já aconteceu lá e, se precisar, sem nenhum problema a gente está para ajudar.

Você é o quarto goleiro a assumir a titularidade do São Paulo depois que o Rogério Ceni parou (Denis, Renan Ribeiro, Sidão e Jean). No Palmeiras com o Marcos demorou também para alguém assumir a posição e a sombra de um ídolo desaparecer. Acha que agora está mais fácil se firmar na posição?

As pessoas sempre vão falar de Rogério Ceni. É impossível. Vão passar dez,15, 20, 25, 30, 50 anos, e as pessoas vão falar do Rogério Ceni, porque, como te falei, o que ele fez é algo que jamais vai ser feito por outro goleiro. Mas eu também estou muito tranquilo neste sentido, porque eu venho para fazer meu trabalho, venho com muita confiança de poder chegar da minha maneira, sem fazer gols, onde eu venho como goleiro, não como um jogador pra fazer gols.

Venho para ajudar o São Paulo dessa maneira e estou muito confiante, confio muito no meu trabalho. Eu não teria deixado uma situação de ídolo, capitão, onde minha família estava muito cômoda. Eu não vim para cá, isso eu posso te falar, para passear. Eu vim para tratar de ajudar meus companheiros, a fazer com que o São Paulo volte a ser vencedor, uma equipe campeã. Tenho bastante fé e convicção que posso ajudar muito.

O mexicano é apaixonado por futebol, a mídia esportiva de lá passa o dia todo debatendo os times, algo muito parecido com o Brasil. Você acha que a pressão e as cobranças são parecidas?

A pressão existe pelo simples fato de ser o São Paulo. Mas como você falou: lá no México as pessoas também são muito apaixonadas e existe uma cobrança muito grande, tanto da parte dos torcedores, como da parte de direção, porque o México é um país onde existe um investimento muito pesado no futebol. Talvez, das Américas, seja o país que mais investe. E da própria imprensa. É um lugar que existe muita pressão também. Então, considerando esses pontos, eu sinceramente não me sinto pressionado neste sentido. Eu venho muito tranquilo, de quatro anos que saí muito mais experiente de quando fui pro México, venho bem tranquilo e com a mente bem filtrada e preparada para este tipo de pressões.

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