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Bruno Grossi
Jornadas épicas pedem heróis fortes. Que resistam a tormentas, medos e aflições. Que gerem esperança a quem os segue. O São Paulo, em meio a problemas velhos e degradantes, ainda tem o privilégio de se apegar a um desses heróis. Hernanes se entregou a uma missão árdua, pesada. Mas sente prazer no que faz e no que busca: ganhar uma Copa Libertadores da América.
Esse é um vazio na carreira do pernambucano de 33 anos. Um vazio que o incomoda e derrubou lágrimas em sua última tentativa de glória em 2010. Chorou abraçado a Rogério Ceni, enquanto era aplaudido por um Morumbi lotado e se despedia para jogar no futebol italiano pela Lazio.
Já são quase nove anos sem que Hernanes sinta o arrepio, a adrenalina que, segundo ele, só a Libertadores provoca. São sensações únicas que o Profeta defende e surpreende ao confidenciar a outros jogadores: nunca sentiu nada igual em nenhuma das sete partidas que disputou na Liga dos Campeões da Europa, pela Juventus.
O reencontro de Hernanes com a Libertadores acontecerá nesta quarta-feira, às 21h30, na cidade de Córdoba, na Argentina. O adversário será o Talleres. Será a primeira das batalhas da longa jornada que o São Paulo pode ter pela frente. Um caminho tortuoso desde o início, com dois mata-matas antes de uma fase de grupos traiçoeira, com o atual campeão River Plate e o Internacional, carrasco dos sonhos do ídolo tricolor em 2010.
- Hernanes disputou 29 partidas de Libertadores pelo São Paulo;
- Estreou em 27 de fevereiro de 2008, no empate por 1 a 1 com o Atlético Nacional, na Colômbia;
- A despedida foi no dia 5 de agosto de 2010, com a eliminação na semifinal para o Inter, no Morumbi;
- Foram dois gols marcados, ambos em 2010 e contra o Cruzeiro, nas quartas de final
- O desempenho geral de Hernanes na Libertadores tem 16 vitórias, seis derrotas e sete empates
Hernanes, o Profeta, é símbolo de uma distante era vitoriosa do São Paulo. É o herói exaltado em velhos cantos, fadado a retornar e obcecado por triunfar. É a representação do torcedor que gasta dinheiro e voz para seguir o time. Sente isso na pele, leva isso no sangue, em seus discursos e reflexões.
Na última segunda-feira (4), caminhou sozinho no CT da Barra Funda e se acomodou em um deserto banco de reservas. Seu olhar viajava, impenetrável. A metros dali, o jovem Helinho se espantou. Queria saber o que Hernanes estava fazendo solitário. Bruno Alves, que conheceu os feitos heroicos do Profeta na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2017, recomendou:
“Deixa ele, sério. É o momento de reflexão dele. É quando ele recarrega as energias. Quando ele estiver assim, deixa”. Hernanes seguiu concentrado, imóvel, diante de dezenas de câmeras e olhos intrigados.
FICHA TÉCNICA:
TALLERES X SÃO PAULO
Local: Estádio Mario Alberto Kempes, em Córdoba, na Argentina
Data/Hora: 6 de fevereiro de 2019, às 21h30 (de Brasília)
Árbitro: Wilmar Roldán (Colômbia)
Assistentes: Alexander Guzmán e Juan Alexander León (ambos da Colômbia)
Talleres: Herrera, Godoy, Tenaglia, Komar e Bersano; Pochettino, Cubas, Guiñazú e Ramírez; Palacios e Dayro Moreno. Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
São Paulo: Tiago Volpi, Bruno Peres, Bruno Alves, Arboleda e Reinaldo; Jucilei (Willian Farias), Hudson e Hernanes; Nenê, Pablo e Everton. Técnico: André Jardine.