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Aloisio não é “Boi Bandido” por acaso: para a torcida do São Paulo, o atacante se tornou nos últimos anos um exemplo de jogador voluntarioso. Na China, virou “Yêniú” (Boi Selvagem). Enquanto isso, a mais de 18 mil quilômetros de distância da cidade de Meizhou, o Tricolor tem feito temporada irregular, sofreu para se classificar no Paulista e levantou um debate antigo.
Falta raça ao São Paulo?
“É óbvio que eu gostaria de ver 11 jogadores correndo, lutando e batalhando da mesma forma. Mas faz parte. Às vezes o jogador está sem confiança… O São Paulo é vencedor. Nas vezes em que venceu, tinha jogadores com raça, mas também jogadores com muita qualidade e técnica”, disse ao UOL Esporte.
“Se mesclar bem, se mesclar bastante o pessoal em um futuro próximo, ou até agora, pode melhorar e voltar a ser aquele São Paulo vencedor que a gente viu de 2012 para trás [em 2012, o clube conquistou seu último título: a Copa Sul-Americana]. Ganharam muitos títulos com jogadores com raça e com técnica também”, comentou Aloisio.
Ele não esconde seu carinho pelo São Paulo, e o torcedor tricolor respeita Aloisio. Essa relação positiva faz com que ele entenda um pouco do que se passa na cabeça dos são-paulinos, embora diga que há “injustiça” em algumas das críticas: “Eu não sou muito de julgar as pessoas, seja o torcedor, a direção ou os jogadores”.
“Óbvio, existe muita injustiça às vezes por parte do torcedor, mas eu acho que eles se acostumaram com títulos e ficaram mal-acostumados com isso. Às vezes acontece. Na minha época, por exemplo, o Maicon foi muito injustiçado. É um baita jogador, treinava muito”, explicou, citando o meio-campista que atualmente defende o Grêmio.
“O Maicon sempre se dedicou ao máximo e acabou pagando pela nossa má fase, acabou pagando por alguns jogadores. O Douglas também é um cara que sempre treinava, se dedicava muito. Hoje o Maicon é o capitão do Grêmio, o Douglas já jogou no Barcelona e está muito bem na Turquia [no Sivasspor]. Infelizmente acabaram saindo do São Paulo, e acho que quem perdeu foi o São Paulo”, lamentou o Boi Bandido.
No entanto, a avaliação que Aloisio faz do atual elenco tricolor é positiva. “Eu acompanho e vejo que o torcedor às vezes reclama, pede raça, pede mais vontade. Mas o São Paulo tem grandes jogadores, tem jogadores com muita raça. Tenho certeza de que todos que estão aí estão tentando fazer o melhor para o São Paulo sair dessa má fase”, afirmou.
“A gente vai ficar aqui na torcida para que eles possam se recuperar o mais rápido possível. O elenco atual é um grande elenco. A volta do Hernanes abrilhantou ainda mais esse elenco. Está com alguns problemas, sempre tem problemas internos, acho que de direção. Apesar de que [o clube] tem grandes profissionais que sabem trabalhar muito bem”, completou.
Aloisio está com 30 anos – fará 31 em junho – e tem contrato com o Guangdong South Tigers, da China, até o fim de 2021. Porém, ele dá a entender que tem vontade de voltar ao futebol brasileiro em até dois anos: “Não penso em ir para Europa, Arábia, nada. Penso em voltar ao Brasil. É muito difícil eu ficar esses anos aqui”.
O destino pode até ser o Morumbi, mas cabe ao São Paulo querê-lo de volta. “O São Paulo será, sem dúvida nenhuma, minha primeira opção quando eu pensar em voltar. Tenho carinho por Chapecoense, Figueirense, Grêmio, onde comecei, mas o São Paulo mora no meu coração. A prioridade é sempre do São Paulo”, esclareceu.
“Estou com vontade de voltar ao Brasil há alguns anos. Com 32, ainda vou voltar e jogar em um nível bom, não vou atrapalhar ninguém [risos]. É quase uma obrigação voltar. Até porque eu estou com bastante saudade do Brasil, dos campeonatos do Brasil, do Brasileiro, quem sabe ainda jogar uma Libertadores”, disse.
“Tudo que aconteceu foi muito bonito. É claro que se eu pensar em voltar ao São Paulo e o São Paulo não tiver esse mesmo pensamento, vou ter que procurar outros clubes para jogar, né? O carinho existe, o amor existe, mas também sou profissional e vou precisar trabalhar. Mas com certeza o São Paulo será sempre minha primeira opção”, avisou.
Leia outros trechos da entrevista:
Palavrões chineses e adaptação
“Quando cheguei aqui, me deparei com coisas boas: estrutura, salários em dia… Gostei muito. O pessoal me apoiou muito aqui na China, tem um carinho enorme por mim aqui, então ficou mais fácil. Não estou 100% adaptado por causa da língua. Estou aqui há cinco anos e não sei falar nada – só os palavrões [risos].”
“Foi bem difícil. O começo foi bem complicado. Com seis meses aqui, eu falei: o que eu vim fazer aqui, nesse país diferente, nessa cultura diferente? Apesar de tudo, de salário em dia, de estrutura, é uma cultura totalmente diferente da nossa. As coisas no começo eram muito difíceis de se encontrar, de achar comida, de comprar uma passagem, de ir para outra cidade”.
Boi Bandido virou Boi Selvagem
“Como aqui não existe Boi Bandido, só existe aí no Brasil, aqui quando eu cheguei eles me chamavam de ‘Y?niú’, que na tradução deles é Boi Selvagem. Ficou esse Y?niú, que é o Boi Selvagem”.
Bezerro Bandido
Aloisio é amigo próximo do garoto João Adriano, atacante que joga no sub-17 do São Paulo.
“Falar do João é sempre um prazer, uma alegria enorme para mim. Somos vizinhos no Morro dos Conventos. O João já foi para algumas convocações da seleção, tem um futuro brilhante pela frente, é um grande jogador, e a gente vai torcer. Se Deus quiser, daqui a pouco eu posso voltar, e acho que ele vai estar beirando o profissional. Quem sabe a gente não possa fazer uma boa dupla de Araranguá no São Paulo?”.
“É uma vontade nossa. Vou desejar todo o sucesso do mundo para ele e dizer que ele tem aqui um amigo, um irmão. Ele é o Bezerro Bandido, como a gente brincou em Araranguá. Tem o Boi Bandido e agora vai ter o Bezerro Bandido no São Paulo. Fiquei muito feliz de saber que ele está bem, se destacando. Vamos ficar sempre na torcida por ele”.
Os Aloisios e seus “Danones”
“O Aloisio [Chulapa, ex-São Paulo] é o garoto-propaganda do ‘Danone’ [apelido para cerveja]. Não é coisa de todo Aloisio, mas eu também curto tomar minha cervejinha com meus amigos. Como eu fico praticamente dez meses aqui sem voltar ao Brasil, quando volto procuro estar com os amigos, com a família, e aproveito para tomar nossa cervejinha”.
“Quando estou de férias, eu relaxo, fico praticamente dois meses ‘de boa’. Sempre tem aquele churrasco, aquela cerveja, aquele vinho… Gosto bastante de vinho também. É bom para dar uma aliviada depois de dois meses aqui na China trabalhando. Curto ao máximo, e com certeza aquele chopp cai bem, ainda mais no verão do Brasil.”
Virou ator e galã, mas não na China
No ano passado, Aloisio participou do clipe da música “Namoro não é casamento”, da dupla Neguinho e Emanuel.
“[Aos risos] Eu fiz um clipe para ajudar meus amigos, o Neguinho e o Emanuel, que são uma dupla lá de Santa Catarina. Mas fiz só para ajudar eles mesmo. A moça era bonita, né? [risos] Mas foi só aquele jantar para gravação do DVD lá, da música deles. Mas aqui na China é bem diferente: não tem jantar romântico, não tem DVD, não tem gravação de música, não tem BMW. Então a gente procura ficar um pouco mais ‘de boa’ em casa, estudando. Essa vida de galã é só uma vez na vida e outra na morte.”