‘Mina de ouro’ tricolor, Neres quase parou no Palmeiras por causa de escola

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UOL

Marcus Alves

Reprodução Twitter

Ao mesmo passo em que David Neres sobe as escadas para enfrentar a Juventus nesta quarta-feira, em Amsterdã, na ida das quartas de finais da Champions League, o São Paulo estará esfregando as mãos do outro lado do Atlântico. Com 20% de seus direitos econômicos e mais 3,5% de mecanismo de solidariedade, o Tricolor paulista confia no sucesso de seu “prata da casa” para encher os cofres em uma cada vez mais provável transferência ao fim da temporada.

Aos 22 anos, o meia-atacante foi um dos grandes nomes do Ajax na goleada de 4 a 1 sobre o Real Madrid, na fase anterior, e teve boa estreia pela seleção em amistoso contra a República Tcheca.

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Desde então, Neres tem tido o seu nome ligado a diversos clubes. A sua preferência recai pela Premier League, com o Everton saltando à frente neste momento, mas o Milan já realizou contato e o PSG também perguntou a respeito informalmente. O negócio deverá render aos holandeses seguramente mais de 45 milhões de euros (R$ 190 milhões), oferta do Guangzhou Evergrande, da China, recusada em janeiro.

E pensar que essa grana, por muito pouco, não escapou do São Paulo em virtude de uma decisão tomada durante o Campeonato Paulista Sub-17 de 2014. Neres era um dos principais nomes da equipe, mas deixava a desejar fora de campo. Por esse motivo, quase acabou indo parar no rival Palmeiras, que chegou a abrir negociação e viu as conversas serem frustradas na última hora.

“Quase levei o Neres para o Palmeiras porque ele ia ser dispensado por problema de aulas. Ele estava mal no colégio, com muita falta, parece que ia ser reprovado e o Geraldo (Oliveira, ex-gerente tricolor, que faleceu em 2017) iria mandá-lo embora”, recordou Erasmo Damiani, que comandava a base palmeirense e atualmente se encontra no Inter, em conversa com o UOL Esporte. “O cara que o representava na época falou comigo e disse que queria apenas a mesma coisa que tinha feito com o São Paulo e acertado com eles (em relação ao contrato)”, prosseguiu.

“O agente dele disse somente o seguinte: ‘eu tenho uma reunião com o Geraldo na segunda-feira, mas o Neres não vai ficar (em Cotia)’. Aí chegou na segunda, eles foram para a reunião e se acertaram lá. Então, ele me ligou dizendo: ‘Damiani, o Geraldo vai dar mais uma oportunidade para ele”, completou. A confusão toda aconteceu antes de São Paulo e Palmeiras se cruzarem nas semifinais daquele Paulista Sub-17.

Foi um daqueles confrontos em que era possível antever um pouco do futuro. De um lado, Neres, que encerrou a competição com 12 gols. Do outro, Gabriel Jesus, então conhecido como Gabriel Fernando, que arrebentou e ficou com a artilharia ao balançar as redes 37 vezes. No primeiro jogo, em Cotia, o Palmeiras venceu o São Paulo por 2 a 1 de virada com dois gols de Jesus. Na volta, na Rua Javari, os dois times ficaram no empate em 2 a 2, com Jesus e Neres marcando uma vez, cada. A vaga na decisão contra o Santos ficou, então, com a garotada alviverde.

Militão quase entrou em ‘barca’ com Neres

Com críticas de Muricy Ramalho e acusações de um suposto esquema de empresários em sua base, a diretoria são-paulina demitiu mais de 10 funcionários de Cotia e mudou toda a sua estrutura. Para liderar o processo, foi atrás de Júnior Chávare, que vinha de passagem de sucesso pelo Grêmio. Ele levou um susto logo em seus primeiros dias no clube.

“Quando da nossa chegada, no final de 2014, o São Paulo estava encerrando ali os campeonatos estaduais. Existiam listas de jogadores que estavam plenamente aprovados, outros em processo de dispensa definida e alguns com casos para serem melhor analisados. Com a minha vinda, eu pedi um tempo para poder observar todo mundo e, no fim, exigimos que ninguém fosse mandado embora de cara”, relembrou Chávare, que trabalha hoje como diretor da K2 Soccer, empresa que administra o Atlético Tubarão, de Santa Catarina.

“A gente acabou fazendo um trabalho aí para observar todo mundo e ter convicção na dispensa. E, realmente, o (Éder) Militão e o Neres naquele momento já apresentavam algumas valências que, segundo quem estava no São Paulo na época, achavam que eram problemáticas. O Neres, na questão mais física. O Militão, na compreensão tática”, acrescentou.

“Mas, aos nossos olhos, imediatamente vimos que eram jogadores que o potencial superaria toda a dificuldade daquele momento. Aí é muito o conceito de categoria de base, né, tanto que, onde a gente passa, a gente costuma mudar a nomenclatura para departamento de formação. Acho que tem muito mais a ver, são jogadores que temos de formar, pegar as dificuldades que eles têm e evoluir”, concluiu.

No fim das contas, Neres seguiu no São Paulo e foi vendido ao Ajax por 15 milhões de euros (de acordo com a cotação da época, R$ 50,7 milhões) em 2017. Enquanto isso, em fim de contrato, Militão saiu por 4 milhões de euros (R$ 17,7 milhões) para o Porto pouco mais de um ano depois, mas voltou a render agora com a ida ao Real Madrid por 50 milhões de euros (R$ 215 milhões).