Empréstimos, fluxo de caixa e dívida: diretor financeiro explica a situação do São Paulo

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GloboEsporte.com

Eduardo Rodrigues

Em entrevista exclusiva, Elias Barquete Albarello diz quando clube pretende quitar dívida, explica o que gerou problema no fluxo de caixa e revela nova estratégia para pagamento de imagem.

O São Paulo passa por um problema de fluxo de caixa e espera pagar os direitos de imagem atrasados dos jogadores até a volta do Brasileirão. Neste ano, segundo o diretor financeiro Elias Barquete Albarello, o clube foi aos bancos e pegou R$ 18 milhões em empréstimos.

Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, ele explica que há uma autorização do Conselho Deliberativo desde o começo da gestão para pegar R$ 50 milhões em empréstimos em 2019. Ou seja, o São Paulo ainda tem R$ 32 milhões para recorrer aos bancos. Mas isso não será feito.

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– Não vou buscar mais. Eles (empréstimos) já foram feitos. Estou ratificando esses empréstimos. Foram feitos para suprir esse impacto que mencionei. Já captamos esses recursos. Agora estamos avaliando para o segundo semestre dentro do que vamos ter dentro de vendas de jogadores e outras formas de recebimento. Vai depender do comportamento da janela.

A diretoria do São Paulo justifica a situação financeira com alguns pontos:

  • as eliminações prematuras na Libertadores e Copa do Brasil (o orçamento previa classificações até as quartas de final, o que impactou em valores de bilheteria e premiações)
  • as compras de jogadores que chegaram aos R$ 90 milhões
  • as mudanças em alguns fluxos de pagamentos que afetaram o caixa do clube

Na última terça-feira, o Conselho Deliberativo do São Paulo aprovou empréstimos com diferentes bancos. No encontro, Elias fez uma explicação da situação aos conselheiros. As operações foram feitas no passado e haviam sido anteriormente aprovadas pelo Conselho de Administração.

O dinheiro, inclusive, já havia entrado nos cofres do Tricolor. Isso porque, segundo Elias, o dia a dia do clube é dinâmico e as contas precisam ser pagas. Essa ratificação dos empréstimos feita pelo Conselho Deliberativo não tem relação com o atraso nos direitos de imagem, de acordo com o diretor.

Elias Barquete Albarello, diretor financeiro do São Paulo — Foto: Marcelo Prado

Elias Barquete Albarello, diretor financeiro do São Paulo — Foto: Marcelo Prado

Após a reunião, conselheiros de oposição divulgaram que os empréstimos chegavam a R$ 105 milhões apenas neste ano, algo desmentido pelo diretor financeiro do Tricolor, Elias Barquete Albarello.

– Os R$ 105 milhões foram somados de forma equivocada, talvez maldosa. Pegaram tudo que foi captado no último trimestre de 2018 e início de 2019. Além disso, tem falta de conhecimento técnico de conselheiro, que não tem capacitação para isso. Ele (conselheiro) fala considerando tudo, até antecipação de recebíveis, que é um dinheiro nosso, esse não é empréstimo. E fala também de conta garantida, que é como se fosse um cheque especial que temos também, e isso não entra nessa conta, não é considerado empréstimo – afirmou Albarello.

– Terceiro item: chamamos de financiamento. Financiamento é diferente de empréstimo. Você tem o bem definido e financia os recursos pra aquisição daquele bem, que é o caso do telão e do sistema de iluminação do Morumbi. Não entra no empréstimo – acrescentou o dirigente.

Ele segue:

– Então esses são os conceitos que precisam ser claramente diferenciados: antecipação, conta garantida (nós temos uma conta garantida de R$ 10 milhões), mais o financiamento da ordem de R$ 5 milhões, e antecipação de recebíveis de venda na ordem de R$ 20 milhões. Somado aos R$ 18 milhões que coloquei de empréstimo, aí chegaria no que estamos fazendo em 2019. Muito longe dos R$ 105 milhões do total – completou.

– O objetivo é reduzir significantemente a dívida. Comparativamente aos quatro clubes de São Paulo é o que tem a maior redução da dívida – afirmou.

Um estudo feito pela BDO Esporte Total em 2018 mostrou que o São Paulo era o 12º em endividamento líquido entre os 20 clubes da Série A. Houve uma redução de 8% em relação ao ano anterior. A expectativa é de que essa dívida seja ainda mais reduzida ao fim de 2019.

Leia abaixo outros trechos da entrevista exclusiva:

GloboEsporte.com: Qual o impacto que tiveram as eliminações prematuras na Libertadores e Copa do Brasil?
Elias Barquete Albarello: 
– Quando se faz um orçamento, prevê-se evidentemente uma certa classificação. Estamos avaliando. Alguns impactos já estão sendo considerados e, independentemente disso, uma vez aprovada a necessidade de recursos, buscamos algumas formas de captação, seja por exemplo junto a bancos, seja com antecipação da venda de jogadores existentes, vendas que temos a receber. Normalmente, você vende um jogador para o exterior, considerando o pagamento de 50% à vista e depois em dois anos. E aí fazemos antecipação de um dinheiro que é nosso. Efetivamente nosso com uma taxa de desconto. Não considero isso como empréstimo. A questão de antecipação de recebíveis da venda de atletas, que é um dinheiro nosso, só tem uma defasagem, ele faz um desconto, o cara está me antecipando isso. Mas é dinheiro meu, líquido e certo, não fico devendo para o banco. Quando receber, ele vai tirar para quem fez. Fizemos com fundo de investimentos, não com bancos. Fundos internacionais, inclusive.

E os empréstimos vão servir exatamente para suprir qual necessidade?
– Estão sendo usados pra fazer frente aos compromissos. Foi necessário em função de ocorrências nesse primeiro semestre, sofremos com variação de fluxo de caixa. Por exemplo: caso do telão e da iluminação do Morumbi. Seria feito ao longo do ano. Foi feito no primeiro semestre por necessidade para a Copa América, foi antecipado. Estamos falando de R$ 5 milhões. Mas tiveram mais gastos pra adequar o Morumbi para fazer a Copa América, de R$ 8 milhões a R$ 9 milhões.

– Segundo ponto: o São Paulo contratou quase R$ 90 milhões de jogadores em janeiro. Decidiu-se por antecipar contratações. Efetivamente de desembolso tivemos R$ 25 milhões, muito mais impactante do que estávamos prevendo. Terceiro ponto: deslocamento do recurso a receber do contrato de transmissão de TV. Até 2018 tinha um comportamento ao longo do ano, a partir de 2019 mudou o fluxo e tivemos impacto de R$ 35 milhões nesse fluxo, indo para o segundo semestre. Algo em torno de R$ 70 ou R$ 80 milhões somando. Esse impacto não estava previsto no orçamento, então foi necessário buscar esses recursos nesse momento. No segundo semestre devemos ter a compensação dos recursos.

Carlos Augusto de Barros e Silva, presidente do São Paulo — Foto: Paulo Fischer / Estadão Conteúdo

Carlos Augusto de Barros e Silva, presidente do São Paulo — Foto: Paulo Fischer / Estadão Conteúdo

A contratação do Raniel atrapalha o planejamento?
– Não. Essa foi uma das condições que coloquei para a diretoria de futebol quando vieram me consultar sobre essa contratação. Eu sempre mantive (conversas) com eles lá, com o Raí, (Alexandre) Pássaro, que eu não queria e nem quero saber o nome do jogador que eles estão contratando, eles têm de falar o valor, como estão pensando, como seria isso, o pagamento… É isso que também fizemos nesse momento. Não há sentido buscarmos novas contratações sendo que contratamos um número de jogadores que foi definido. Isso é de exclusiva competência da diretoria de futebol e da comissão técnica, não entro nessa discussão. Mas em questão de valores, sim. Isso está em comum acordo conosco. (O pagamento) é para 2020 exatamente para não impactar esse ano. Não estamos fazendo nenhum tipo de contratação ou capacitação de recurso que ultrapassa o período dessa gestão, dezembro de 2020.

O São Paulo pretende realizar vendas de jogadores?
– Não está descartado. Isso tem lá um valor previsto no orçamento de R$ 120 milhões de venda de jogadores. O São Paulo já fez algumas vendas: Rodrigo Caio, Auro, o próprio Militão… Essa segunda venda do Militão (do Porto para o Real Madrid), onde o São Paulo tem 10%. Considera-se uma possível segunda venda do David Neres. Isso tudo entra nessa conta.

– Isso não significa que vou ter que vender os jogadores, a estrela, como é a preocupação da torcida. Você pode vender um jogador de 20 milhões de euros, mas pode vender dez jogadores de 4 milhões de euros. Isso quem tem de analisar é a comissão técnica e diretoria. Mas ao mesmo tempo, não temos muita gestão sobre isso. Está prevista a venda para essa janela. O que fizemos foi antecipar a contratação de jogadores, como aconteceu em janeiro. Você viu a quantidade de jogadores? E os melhores foram contratados. O elenco do São Paulo é para disputar títulos. Se está nessa situação agora, é porque ainda está iniciando um trabalho com novo técnico.

Em que situação está o recebimento da segunda parcela da venda do Petros, atrasada desde 30 de março?
– É o pacto do Al Nassr, de US$ 1,5 milhão (R$ 5,7 milhões na cotação atual) que estamos negociando e devemos receber em breve. Eu encaminhei essa negociação ao departamento jurídico, a promessa era receber o valor essa semana. Esse também foi um dos impactos.

Serão feitos mais empréstimos ao longo do ano?
– Não vou buscar mais. Eles já foram feitos. Estou ratificando esses empréstimos. Foram feitos para suprir esse impacto que mencionei. Já captamos esses recursos. Agora estamos avaliando para o segundo semestre dentro do que vamos ter dentro de vendas de jogadores e outras formas de recebimento. Vai depender do comportamento da janela.

Salão Nobre do Morumbi — Foto: Marcelo Hazan

Salão Nobre do Morumbi — Foto: Marcelo Hazan

Qual a expectativa para o segundo semestre?
– Creio que vai ser bem diferente. O contrato de recebimento de direitos de transmissão foram para o segundo semestre. Os R$ 35 milhões que até então recebíamos no primeiro, eles colocaram para o segundo. Venda de jogadores deve ocorrer ainda, por exemplo a possível venda do David Neres. São algumas premissas que estamos considerando, mas que ao longo do mês de julho que teremos melhor definição. Por enquanto, estamos com o fluxo equilibrado, não há preocupação em buscar novos recursos. Se tudo ocorrer como planejado, e existe um planejamento sim, até para cinco anos, nós temos previsto a entrada de recursos que não seriam necessários buscar.