Opinião: Pato não resolve todos os problemas do São Paulo, mas não pode ser o culpado pelos tropeços

300

GloboEsporte.com

Eduardo Rodrigues

Atacante do Tricolor foi alvo de críticas após ser substituído contra a Chapecoense e a equipe crescer de rendimento.

Opinião: Pato não resolve todos os problemas do São Paulo, mas não pode ser o culpado pelos tropeços

Quando Alexandre Pato deixou o gramado do Morumbi, na última segunda-feira, o São Paulo empatava em 0 a 0 com a Chapecoense. Em apenas dez minutos sem a presença do atacante em campo, substituído no intervalo, o Tricolor fez 3 a 0.

As mudanças propostas por Cuca para iniciar o segundo tempo (saídas de Luan e Pato e entradas de Everton e Toró, respectivamente) alteraram o panorama do jogo. Os dois colocaram mais velocidade e verticalidade em campo e o São Paulo chegou à goleada de 4 a 0.

Publicidade
Melhores momentos: São Paulo 4 x 0 Chapecoense pela 11ª rodada do Brasileirão 2019

Melhores momentos: São Paulo 4 x 0 Chapecoense pela 11ª rodada do Brasileirão 2019

Mas afinal, Pato merece receber as críticas e ser responsabilizado pelo empate sem gols na etapa inicial? O atacante merece ir para o banco de reservas definitivamente para o resto da temporada?

A resposta para as perguntas acima é simples: não. E por quê? Explico abaixo:

1 – Sim, Pato foi um dos melhores do primeiro tempo

Alexandre Pato pode não ter decidido nada nos 45 minutos em que esteve em campo, mas saíram dos pés (e da cabeça) dele as melhores chances do São Paulo na etapa inicial. O atacante não se escondeu em nenhum momento e teve, pelo menos, quatro boas participações que quase se transformaram em gols:

  • 20 minutos – Arriscou um chute de fora da área, a bola desviou em Igor Vinicius e saiu pela linha de fundo. Se não desviasse no companheiro, a bola tinha destino.
  • 22 minutos – Após lançamento de Antony para dentro da área, Pato deu assistência de cabeça para Raniel completar. A zaga apareceu bem para tirar quase em cima da linha.
  • 28 minutos – Pato enfiou um bom passe para Antony dentro da área. O atacante apareceu livre, finalizou, mas o goleiro Tiepo saiu do gol para desviar a bola para escanteio.
  • 30 minutos – Em posição irregular, Pato recebeu de Raniel, chutou cruzado, mas a bola foi para fora.
Pato foi participativo no primeiro tempo contra a Chapecoense — Foto: Marcos Riboli

Pato foi participativo no primeiro tempo contra a Chapecoense — Foto: Marcos Riboli

2 – Constante mudança de funções

Desde que chegou ao São Paulo, Pato tem 12 jogos (foi substituído em sete) e já foi testado em três posições diferentes com Cuca: centroavante, segundo atacante e ponta pelo lado esquerdo. Não teve, porém, sequência longa em nenhuma delas até o momento.

Com a cirurgia de Pablo na região lombar no início de trabalho do treinador, a aposta para o início do Campeonato Brasileiro foi em Pato como centroavante. Cuca, inclusive, chegou a dar uma entrevista coletiva dizendo que o jogador seria o 9 do time. A ideia durou apenas um jogo. Contra o Botafogo, pela primeira rodada do Brasileirão, Pato não convenceu.

Para o jogo seguinte, diante do Goiás, Toró ganhou a vaga de centroavante, e Pato foi recuado para atuar praticamente como um meia, na segunda linha de ataque. A mudança surtiu efeito: 2 a 1 com gols exatamente dos dois.

Cuca, no entanto, não repetiu mais a escalação e passou a estudar alternativas para o São Paulo. Com o retorno de Pablo ao time e a lesão de Everton, Pato foi o escolhido para jogar pela esquerda após a parada para a Copa América.

3 – Adaptação ao estilo de Cuca

Pato teve seus melhores momentos com a camisa do São Paulo exatamente atuando pela ponta esquerda, com o técnico Juan Carlos Osório, em 2017. Porém, há uma diferença considerável na função que o atacante precisava desempenhar com o treinador colombiano e agora com Cuca.

  • Com Osório: Alexandre Pato tinha total liberdade no ataque. A sua recomposição defensiva se limitava apenas até o meio de campo. Com isso, em um contra-ataque, por exemplo, o atacante recebia a bola muitas vezes sem marcação. Um jogo emblemático que mostrou isso com clareza foi a vitória do São Paulo por 3 a 1 sobre o Coritiba, na 13ª rodada do Brasileirão de 2015. Pato fez dois gols e deu uma assistência (veja no vídeo abaixo):
Os gols de São Paulo 3 x 1 Coritiba pela 13ª rodada do Brasileirão 2015

Os gols de São Paulo 3 x 1 Coritiba pela 13ª rodada do Brasileirão 2015

  • Com Cuca: Alexandre Pato tem a responsabilidade de ajudar a marcação até a linha de fundo defensiva. Em um sistema que conta com três atacantes, os dois das pontas precisam ser velozes para fazer a recomposição. Pato já não é mais o jovem jogador do Milan, e não consegue fazer essa proteção durante os 90 minutos. Contra o Palmeiras, na décima rodada do Brasileirão, ele pediu para sair no segundo tempo devido ao cansaço (veja no gif abaixo um dos apoios do atacante contra a Chapecoense).

Pato na recomposição defensiva contra a Chapecoense — Foto: TV Globo

4 – “Espírito de grupo”

Com a substituição no intervalo e a mudança por completo no panorama do jogo a favor do São Paulo após sua saída, Pato poderia muito bem não falar com a imprensa ao fim da partida e deixar de ser o assunto nas mesas de debate. No entanto, ele demonstrou maturidade ao falar com os jornalistas e deixou claro seu senso coletivo.

– Eu fico muito feliz de estar no São Paulo e encontrar jogadores que estão aqui para competir. Eu estou aqui, vou competir. Estou feliz por quem entrou, conseguiu fazer os gols, ganhar, então o espírito de grupo vai mais além do que o individual. Então as mudanças foram boas, o professor fez boas mudanças e conseguimos ganhar – disse o jogador.

Durante os treinos do São Paulo, Pato geralmente é participativo e não costuma fazer “corpo mole”.

5 – Pode ser reserva, sim (às vezes)

Não é por conta de um jogo que se tornou favorável ao São Paulo com a saída de um jogador que ele deve ser colocado no banco de reservas de forma definitiva.

Pato pode ser (e vai ser) muito importante para o São Paulo no Brasileirão. Dos atletas do atual elenco são-paulino, ele é um dos mais técnicos e que podem desequilibrar uma partida.

Há partidas, no entanto, em que a opção por ele não vai ser a melhor. Com um meio de campo pesado, de pouca mobilidade, Pato precisará apoiar os volantes ou laterais. E definitivamente essa não é a dele.

Com um meio mais versátil, de boa saída de bola e velocidade, o atacante é a escolha mais apropriada. Os times de Cuca, por sua vez, não costumam ter essas características de jogador, o que pode complicar a vida de Pato no time.

Já é sabido por todos que o atacante não se tornou o jogador que se esperava quando foi revelado pelo Internacional. Por isso, a cobrança muitas vezes é descabida. Hoje, Pato não é nenhum craque de nível europeu, mas é um jogador com nível para desequilibrar no Brasileirão. Precisa de sequência para fazer a diferença. Ele está no clube em que se sente bem e pode, sim, ser o diferencial.