Daniel Alves é a contratação mais grandiosa da história do São Paulo

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

Clube deve trabalhar para evitar que a comoção pela chegada do maior vencedor do futebol mundial não se transforme em mais uma frustração.

Contratar Daniel Alves, capitão da seleção brasileira, melhor jogador da Copa América, maior vencedor da história do futebol, é o ato de mercado de maior grandiosidade do São Paulo em seus 89 anos. Além de acenar aos seus milhões de apaixonados com um gesto de inconformismo diante do risco de ser relegado à figuração, o clube adquire um pacote único.

Aos 36 anos de idade, Daniel Alves jogará no time do coração, declarado noutros tempos, nem será preciso criar identificação. A excentricidade das roupas e loucuras do bem – ele mesmo se define como “good crazy” – não ofusca sua alma devota ao futebol. O novo camisa 10 do São Paulo retribui ao jogo cada grão conquistado em forma de suor, talento e compromisso com a profissão.

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Numa equipe onde era imperioso ter jogadores habituados às conquistas, não poderia haver melhor opção, maior acerto da direção. O lateral-direito representará a cada companheiro, a cada jovem em formação, a materialização do sonho realizado, do vencedor sob todos os aspectos. Dos 40 troféus ao humanismo que aflora.

Raí entrega camisa do São Paulo a Daniel Alves durante a Copa América — Foto: Divulgação

Raí entrega camisa do São Paulo a Daniel Alves durante a Copa América — Foto: Divulgação

– O que mais prezo na vida não é quanto vou conquistar, ser famoso ou quanto dinheiro, mas quanta interferência terei na vida das pessoas. Se eu não deixar um legado, tudo que conquistei não servirá de nada. Tento alimentar cada dia menos meu ego para que ele passe uma fome gigantesca – disse Daniel Alves no último dia 16 de junho, em entrevista coletiva durante a Copa América.

O torneio lhe reservou momentos brilhantes, como o duelo com seu amigo Lionel Messi no Mineirão. O São Paulo contrata um jogador capaz de encarar o melhor de todos com galhardia. Eles disputaram cada centímetro técnico, tático e moral do gramado, como no lance em que o brasileiro desarma o argentino com classe e completa com um drible em Aguero, e depois vê na retomada rival o chute de Messi carimbar a trave de Alisson .

Daniel Alves desarma Messi em duelo na Copa América; depois, argentino acerta a trave

Daniel Alves desarma Messi em duelo na Copa América; depois, argentino acerta a trave

Esbanjar sua categoria naquele momento em que o Brasil estava acuado foi a maneira de transmitir segurança a todo o estádio, como se as coisas estavam sob (seu) controle. Dono de rara compreensão do jogo, das pessoas e do ambiente, ainda assim Daniel Alves não garante ao São Paulo o reencontro com as glórias.

Embora seja o maior, o baiano não é o único reforço “blockbuster” dos últimos tempos no Morumbi. O clube já repatriou Luis Fabiano, Kaká e Hernanes (duas vezes), contratou Paulo Henrique Ganso e Alexandre Pato (duas vezes), apostou em campeões como Lúcio, estrelas como Lucas Pratto, e por aí vai.

Será pertinente ao São Paulo avaliar por que tantas frustrações foram geradas a fim de evitar mais uma, nessa ação tão especial e mobilizadora.

Daniel Alves teve 11 técnicos no futebol europeu, desde 2003. O São Paulo teve 11 técnicos desde 2015. Não será justo atribuir unicamente a ele a missão de reerguer o time que o encantou quando Telê Santana emendou mais de cinco temporadas consecutivas no comando.

Daniel Alves ergue o troféu de melhor jogador da Copa América — Foto: Getty Images

Daniel Alves ergue o troféu de melhor jogador da Copa América — Foto: Getty Images

Torcer para o São Paulo, aliás, foi a cereja do bolo, mas não o ingrediente definitivo para que o campeoníssimo topasse o desafio de voltar ao país. Quando diz que poderia ter jogado em qualquer outro lugar, Daniel Alves é sincero. A Juventus, da Itália, foi uma das equipes que lhe ofereceram um bom contrato, só que de curto prazo. Grandes europeus não costumam dar a atletas dessa faixa etária um compromisso duradouro – Filipe Luís está no Flamengo por razões muito semelhantes.

Daniel Alves encontrou na oferta de três anos e meio do São Paulo alguém que parece confiar tanto em seu taco quanto o próprio jogador. Sua nova casa tem mesmo de confiar, mas não deve, em hipótese alguma, tratá-lo como salvador, mártir, libertador. Essa rota já é bem conhecida e não tem final feliz.

Ao futebol brasileiro será um privilégio acompanhar os momentos finais de uma carreira tão admirável e que carrega elementos tão nobres do futebol. Desfrutemos.