Ex-São Paulo, Palhinha “compra” time em Portugal e tenta levá-lo à elite

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UOL

Marcus Alves

reprodução/Instagram

Enquanto tomava um café em Lisboa ao lado do colega Artur Moraes, ex-goleiro de Cruzeiro, Roma e Benfica, Palhinha comentou despretensiosamente que estava atrás de uma fabricante de material esportivo. Bicampeão mundial com o São Paulo em 1992 e 1993, o ex-atacante havia comprado um clube no futebol português e começava o projeto praticamente do zero. Foi, então, que ele ouviu a sugestão do amigo para procurar um representante local da Adidas. E funcionou: pouco depois, conversas encaminhadas, contrato fechado e menos uma pendência na lista que Palhinha mantém à frente do União de Almeirim.

Desde o fim do primeiro semestre, a equipe que milita na quarta divisão local tem concentrado os esforços do ex-craque tricolor para reerguê-la e levá-la até a elite para brigar com os grandes Benfica, Porto e Sporting. Em assembleia de sócios realizada em abril, o negócio de compra foi aprovado, com o repasse de 90% das ações da SAD (sociedade anônima desportiva) para a empresa “Palhinha 9 Sports, Unipessoal Lda” e outros 10% ficando com o clube. Ao todo, conforme apurado pela reportagem, a operação teve um custo inicial de 200 mil euros (R$ 870 mil na cotação atual).

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O investimento foi resultado de uma verdadeira saga ao redor de Portugal caçando um clube que reunisse as condições que o atual empresário de 51 anos procurava no mercado e, claro, que também concordasse com a sua proposta. “O início foi a parte mais complicada”, conta Palhinha ao UOL Esporte.

“Eu cheguei em dezembro com meu parceiro Luiz (Antônio Duarte Ferreira, ex-presidente do Marília-SP) e nós começamos a procurar uma equipe pelo país. Andamos de um lado para o outro, fomos em Almada, Cascais, Viana do Castelo, Rio Maior e outros lugares para encontrar um clube que nos permitisse fazer um trabalho embrionário, com sub-15, sub-17, sub-19 e também profissional”, prossegue.

“Foi, então, que vimos o União, tivemos uma conversa positiva e as coisas começaram a fluir. Acompanhamos jogos no final da última temporada para definir o grupo, aguardamos a assembleia para constituição da SAD e, com a escritura, demos início às burocracias em cartório”, acrescenta. Essa não é a primeira aventura do ex-atleta, que teve passagens por Cruzeiro, Flamengo e Grêmio, como empreendedor no futebol.

Palhinha esteve antes por oito anos nos Estados Unidos, criando o Boston City. O cenário, contudo, era diferente do outro lado do oceano: sem estrutura, era obrigado a pedir autorização à prefeitura para treinar nos parques públicos. No fim das contas, fazia um pouco de tudo no dia a dia, se virando como cartola, técnico e até roupeiro. O vínculo foi encerrado ao mudar de país. No União de Almeirim, Palhinha agora tem estádio próprio à disposição, por exemplo.

“Ele precisou passar por uma reforma boa recente, pintamos, tem camarote e trocamos parte do gramado para aguentar o ano todo. A partir de agora, somente o profissional treina nele. Antes, eram todas as categorias e abusava um pouco”, explica. Mudou-se para cidade de 11 mil pessoas.

Palhinha posa para foto com Luisão e Jonas - reprodução/Instagram

A princípio, ao se mudar com a família, Palhinha escolheu Lisboa como nova casa e virou vizinho de Artur Moraes, que se encontra à frente de outro tradicional clube, o Alverca. Com a compra de uma equipe, ele teve de refazer as malas mais uma vez e pegar a estrada para a cidade de Almeirim, que fica a uma hora da capital portuguesa no centro do país. Mais pacata, ela tem 11.700 mil habitantes e é famosa por sua tradicional sopa da pedra.

“É um lugar menor, mais tranquilo e tem Santarém logo ao lado, apenas 15 km de distância. O time tem uma imagem muito legal na região e uma história bacana. Não dava para comandá-lo a partir de Lisboa. Sempre tem alguma coisa para resolver, não tenho hora para sair e ficar fazendo tudo por telefone não iria funcionar”, descreve Palhinha. Enquanto conversa com a reportagem, ele administra a ansiedade pela criação do site do clube nesta semana. Essa é apenas uma das preocupações que passou a ter ao trocar as chuteiras pela gravata.

“O plano nosso é valorizar a molecada. Todo mundo quer vir para a Europa. Portugal tem a fama de ter os melhores treinadores, então, é meio caminho andado. No total, trouxemos 12 jogadores do Brasil, mas podem jogar somente seis, então, tem uma concorrência boa. A gente disputa o distrital (equivalente à quarta divisão), mas o nosso planejamento é de Campeonato de Portugal (terceira divisão). Queremos estar sempre preparados para o próximo passo”, afirma.

A reapresentação do elenco para o seu primeiro desafio no União de Almeirim aconteceu na última segunda-feira (5). Como principal investidor, Palhinha falou aos jogadores sobre os seus planos e destacou a sua ambição. Ela segue sendo a mesma que o levou do América-MG para arrebentar no São Paulo. “Eu aprendi que o futebol não dá descanso. É preciso trabalhar para que a recompensa venha”, concluiu.