Falamos com Cuca: técnico diz ver margem para São Paulo melhorar, mas rechaça obrigação por título

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GloboEsporte.com

Alessandro Jodar, Eduardo Rodrigues e Felipe Ruiz

Treinador também comenta as chegadas de Daniel Alves e Juanfran ao Tricolor.

Falamos com Cuca: técnico diz ver margem para São Paulo melhorar, mas rechaça obrigação por título

Rubens Chiri / saopaulofc.net

Cuca gosta de dizer que são os jogadores que merecem elogios por executarem em campo o que ele passa nos treinos. Mas é inegável que o técnico tem muito mérito na arrancada que levou o São Paulo a figurar entre os candidatos ao título do Campeonato Brasileiro.

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Se hoje a diferença para o líder Santos caiu para apenas dois pontos é porque a estratégia de Cuca para o time depois da parada da Copa América foi efetiva. Com cinco vitórias e um empate nos últimos seis jogos, o Tricolor pulou da décima para a quarta colocação – veja aqui a evolução em gráfico.

– Surpreende positivamente porque é um campeonato muito difícil (…) É bom a ter uma arrancada assim, mas você tem que continuar se cobrando (…) – falou o comandante são-paulino.

Cuca durante a entrevista em sua casa, em Curitiba — Foto: Eduardo Rodrigues

Cuca durante a entrevista em sua casa, em Curitiba — Foto: Eduardo Rodrigues

Na última quinta-feira, um dia depois da vitória sobre o Athletico-PR, Cuca atendeu à reportagem do GloboEsporte.com em sua casa, em Curitiba. Ao lado da família, em um raro momento de descanso, o treinador abriu o jogo sobre seus objetivos à frente do São Paulo.

Embora admita ter uma meta de pontos, o técnico a esconde para evitar pressão. Por outro lado, vê margem para o São Paulo evoluir ainda mais durante a competição.

No bate-papo, o técnico ainda falou sobre a força do elenco, as chegadas de Daniel Alves e Juanfran, o desejo de ter sucesso no Tricolor e da carência do torcedor.

Veja abaixo como foi a entrevista com Cuca:

GloboEsporte.com – Depois da parada para a Copa América, o São Paulo deu uma disparada no Brasileirão. Como foi isso? Qual foi a importância dessa pausa?
Cuca – Quando cheguei ao São Paulo, a gente estava na semifinal do Paulista. Eu com o Mancini tocamos aquele jogo com o Palmeiras e passamos, e de novo com o Mancini na final com o Corinthians e perdemos no final. Na outra semana começou o Campeonato Brasileiro, e você não tem tempo de trabalhar. Você está dando sequência nas coisas naturais como eram de lá, você não tem como mexer no diferencial. Você vai tentando fazer o melhor, mas sabendo que quando vier a Copa América eu vou ter a parada, vou dar dez dias de descanso para os jogadores e vou trabalhar duas semanas fechado lá em Cotia.

– Conseguimos fazer 14 pontos até a parada, ficamos em 10º lugar e da parada em diante nós trabalhamos muito em Cotia, muito, muito. Agora a gente está colhendo o que a gente plantou, porque o jogador não gosta muito de sair, ficar concentrado, duas semanas sem voltar para casa. E os caras foram ponta firmes, abraçaram o projeto e trabalhamos muito forte e conseguimos em seis partidas cinco vitórias e um empate.

– E você sempre tendo essa manutenção, porque você vai lá, enche o tanque, mas tem que reabastecer, se não daqui a pouco acaba sua energia. Eles têm feito tudo certo, estou muito contente com o grupo que a gente tem. Estreamos jogador há uma semana, acho que poucos clubes do Brasil ou nenhum teve jogador estreando tão tarde. Então eu acho que podemos evoluir, podemos jogar um pouco mais do que a gente está jogando e com humildade, no final do ano, a gente vê o que de melhor consegue.

O São Paulo viveu momentos turbulentos esse ano. Como foi administrar isso?
– Você ser treinador vai treinar seu time, agora você ser técnico abrange muitas outras coisas que não só o treino. É você ser um gestor de ser humano, e não é fácil. Eu quando era um jogador eu pensava em mim como eles pensam neles, e eu não tinha a cabeça do gestor em pensar nos 35 e mais outros que compõe, que é comissão técnica, fisiologia… E você gerencia tudo, tem que fazer tudo ficar favorável. Você tem que ser um cara correto e deixar eles disputarem as posições, e você dentro da correção que tenha, você fazer que eles se auto escalem. Você fazer com que eles lutem pela posição e você vai fazer a competitividade subir, cada um vai jogar mais, se cuidar mais, treinar melhor. No natural vai criar um ambiente favorável se houver esse caminho que eu prezo muito.

O Igor Vinicius disse em entrevista após o jogo contra o Athletico que o lance do gol foi por conta de um conselho do Daniel Alves. Qual a importância do Daniel Alves para o São Paulo?
– Que bom, né? É um cara da posição, que é um lateral-direito maravilhoso. Ter um jogador desse que possa instruir um Igor Vinicius, veja o quanto vale isso. Você ter um Juanfran que pode ensiná-lo também, que é de uma outra escola que não é a do Daniel. O Igor é só um exemplo que a gente está dando aqui, mas quantos outros vão absorver o conhecimento que ele tem. A contratação dos dois não é só para fora do campo, mas para dentro também para esses meninos crescerem.

Cuca comanda São Paulo em treino no CT da Barra Funda — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Cuca comanda São Paulo em treino no CT da Barra Funda — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

No Palmeiras você tinha uma projeção de pontos, você tinha uma sala com uma lousa. Você repetiu isso no São Paulo?
– Já está feitinha lá, prontinha, está na hora de fazer a revisão com eles. E lógico que está feito, é meu trabalho, eu entendo o Brasileiro, menos os anos que estive na China, disputei todos os outros. Esse campeonato no começo não era muito valorizado as primeiras rodadas, hoje os caras entendem que valem os mesmos três pontos da primeira e da última.

– Todos vão ter momentos bons e ruins. É raro uma equipe ter só momento bom. E a gente tem que trabalhar o campeonato conforme a gente entende ele. A nossa projeção está lá montada, mas é algo nosso, interno, que a gente tem que ir estudando.

Surpreende a posição que o São Paulo está hoje, essa arrancada?
– Surpreende positivamente, porque é um campeonato muito difícil. O Santos deu essa disparada porque ganhou sete partidas seguidas. Nós ganhamos cinco e empatamos uma, por isso chegamos lá em cima. Ganhamos do próprio Santos, um jogo de seis pontos, por isso demos a subida. É bom ter uma arrancada assim, mas você tem que continuar se cobrando.

– Quando trabalha em Palmeiras, Santos, Corinthians, São Paulo, Flamengo, enfim, em equipe grande, você tem que sempre estar medindo forças com todos. Se você ficar em quinto e sexto ninguém quer, se valoriza o campeão, mas é um campeonato que tem Libertadores, pré-Libertadores e para outras equipes que não é o nosso caso tem a luta pela Sul-Americana também, mas queremos buscar a Libertadores.

Você já disse em algumas entrevistas passadas que queria muito voltar ao São Paulo para terminar um trabalho que deixou lá atrás. Como está sendo essa nova passagem para você?
– A responsabilidade da gente é muito grande. O São Paulo é um clube com 20 milhões de torcedores e você representa os torcedores. Eu tento passar isso para os jogadores, a importância que eles têm, o que eles representam. Fazemos a alegria ou não de uma nação. Hoje estou muito contente, mas não dá para afrouxar nada. Pelo nível do campeonato e a igualdade que as equipes têm técnica em relação a você, você tem que estar no limite sempre. São jogos muito difíceis e você tem que estar às quartas comprovando no domingo que está vencendo. Então não dá para afrouxar em nenhum momento, tem que estar no seu limite sempre.

Cuca dirigiu o São Paulo em 2004 e retornou ao clube em 2019 — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Cuca dirigiu o São Paulo em 2004 e retornou ao clube em 2019 — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Nos últimos jogos você tem feito modificações no time que têm dado muito certo. Tem modificado o esquema de jogo no decorrer da partida. Acredita que hoje você tem o elenco na mão?
– Ainda vou conhecer mais. Mais o Juanfran, mais o Daniel, outros jogadores que podem me dar mais, que não tiveram tantas oportunidades e vou poder extrair mais deles. Tem dia que não vai dar certo. Você vai planejar uma coisa e vai acabar não acontecendo, e aí vai vir a cobrança em cima do treinador, como vem os méritos quando as coisas vão bem, e a gente tem que conviver com isso. A gente que toma a decisão e você não tem três, quatro minutos, elas te pedem e você tem que ter na cabeça o que fazer e você tem que ter treinado. Quando a gente tem a semana livre para treinar eu tento treinar uma, duas, três maneiras de jogar, porque dependendo da partida você vai usar todas.

Hoje o São Paulo briga pelo título?

– Acho que nós não precisamos puxar essa responsabilidade para nós. Chegamos aqui sem falar em obrigação. Quando você representa um São Paulo, Palmeiras, Corinthians você sempre vai ter que lutar pelo título, mas acho que a gente não precisa chamar essa responsabilidade. Vamos devagarzinho.

A torcida do São Paulo está carente de títulos, e muitas vezes isso vira impaciência. Como você lida com essa impaciência da torcida e a vontade por um título?
– Pessoal do São Paulo sabe o que é fraco do Cuca e o forte do Cuca, e eu não me lembro de ter chegado em algum clube e ter arrancado a mil por hora assim. As coisas não encaixam assim para mim no começo, mas depois de um tempo elas vão se encaixando, como está acontecendo aqui para mim. Eu quando vejo a torcida do São Paulo nessa impaciência que você citou eu acho que a maioria é jovem, muitos jovens que talvez não tenham visto ainda uma grande conquista do clube deles. E a responsabilidade minha aumenta, dos jogadores aumenta quando a gente tem isso. Mas da mesma forma que aumenta ela pode ser saborosa, como foi para mim em 2016 com o Palmeiras.

– E não vou medir esforços para dar a esse povo uma conquista. Não é fácil, eu sei que não é fácil, mas vamos tentar de tudo que é jeito.

Cuca comemora vitória do São Paulo no Morumbi — Foto: Marcos Ribolli

Cuca comemora vitória do São Paulo no Morumbi — Foto: Marcos Ribolli