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Julio Gomes
Os dois têm só o Brasileirão para jogar, os dois têm 35 pontos, nenhum deles acabará nem com o título nem com o vice-campeonato. Os dois têm técnicos em má fase e contestados interna e externamente, que não parecem saber muito bem que caminho seguir. Corinthians e São Paulo parecem, no papel, estar na mesma situação. Mas não é bem assim. Se, por um lado, o São Paulo tem um elenco um pouco mais pesado em termos de nomes, por outro o Corinthians mostra uma coisa que o rival não tem: a capacidade de reagir.
Se, por um lado, o São Paulo não ganha nada desde 2012 e virou um baita saco de pancadas nos clássicos paulistas, por outro o Corinthians ganhou três Brasileiros, uma Libertadores e um estádio na década. O Corinthians deu um vexame incomum fazendo a partida de ida que fez contra o Independiente del Valle. Mas, em uma semana, ganhou do bom time do Bahia e foi eliminado, digamos, dignamente na altitude de Quito. Impossível não pensar no que poderia ter sido da semifinal se a bola de Love não explodisse no travessão no finalzinho do primeiro tempo.
Já o São Paulo, depois das contratações, depois dos bons resultados após a Copa América, parecia estar se posicionando para disputar o título. Eis que chegam as semanas inteiras para trabalhar, períodos longos entre jogos e… A impressão é que o São Paulo segue sendo o mesmo barco sem rumo destes anos todos. Sabemos que foram muitas administrações indecentes e erráticas, mas algo parecia estar encaixando com Raí, com a chegada de nomes importantes, com o comando de Cuca. Parecia. Já está de volta a sensação de “nada vai dar certo aqui”.
Erraram os que, como eu, achavam que o São Paulo mudava de patamar. Desta vez, apesar das lesões todas, está difícil aliviar a barra de Cuca. É impressionante como o time não tem ideias de jogo, não joga a nada. Eu nunca gostei do estilo de jogo dos times de Cuca, mas resultados costumavam vir. Hoje, nem perto disso. Sem jogo e sem pontos. A grande diferença para o Corinthians é a perspectiva. O Corinthians passa a impressão de paz interna, apesar das dívidas e da falta de amor entre presidente e técnico. Não dá para imaginar Carille na corda bamba ou sendo demitido, apesar de não estar fazendo um trabalho satisfatório.
Há a perspectiva de bom futebol? Não. De vitórias tranquilas? Não. Mas há a perspectiva de continuidade com Carille, de ajustes, resultados chegando, de uma possível terceira ou quarta colocação no fim do campeonato. Não é que seja muito promissor, mas é uma torcida um pouco mais tranquila por tantos títulos recentes, inclusive o Brasileiro com Carille, tem mais paciência aí neste reservatório. No São Paulo, o desespero é nítido, o reservatório de paciência já transbordou faz tempo. Nesta toada, a chance de Cuca chegar ao fim do campeonato é zero. Talvez seja melhor mesmo já pensar em 2020.