Da Chácara da Floresta ao Cícero Pompeu de Toledo: como o Tricolor chegou ao Morumbi

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A linha evolutiva dos campos e sedes sociais do São Paulo de 1930 até hoje

Michael Serra / Arquivo Histórico do São Paulo FC

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Antigo barracão de barcos do Tricolor no Canindé

O Morumbi completa 59 anos de idade e o Tricolor conta a épica saga da construção do Estádio Cícero Pompeu de Toledo em dois artigos. O primeiro você pode ver nesse link. E, no segundo, você confere por todos os recintos que serviram de casa para os são-paulinos até o Morumbi se tornar a morada de todos os torcedores. 

OS ESTÁDIOS

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O São Paulo Futebol Clube, em 1930, nasceu em berço de ouro. Fruto da fusão de dissidentes da seção de futebol do CA Paulistano com a AA das Palmeiras, o Tricolor, desde os primeiros dias de existência, contava com craques e um bom campo de jogo: a Chácara da Floresta.

(A Gazeta Esportiva)

Chácara da Floresta à direita (Revista do Tietê)

O estádio, reformado pelo São Paulo ainda naqueles primeiros dias, era, contudo, bem mais antigo. O campo foi inaugurado pela AA das Palmeiras em 27 de janeiro de 1904 (e melhorado, com a ajuda do CA Paulistano – que cedeu arquibancadas do antigo Velódromo, em 1916)

Reinaugurada pelo Tricolor com a realização do Torneio Início de 1930 (9 de março), a Chácara da Floresta foi a casa são-paulina até 14 de maio de 1935 (em verdade, por decisões judiciais, até agosto daquele ano).

Contudo, algo pouco lembrado é que o Tricolor cogitou também assumir a construção do Estádio do Pacaembu, ainda no primeiro ano de existência do clube, conforme o relato abaixo:

(Álbum de recortes de jornais do SPFC)

Após a fusão com o CR Tietê, contudo, e o surgimento das dissidências do CA Estudantes de São Paulo e do EC Independente, o Grêmio Tricolor e o CA São Paulo mantiveram vivas as glórias e tradições do clube, que foi definitivamente reestruturado em 16 de dezembro de 1935.

Nos primeiros momentos dessa nova fase, o São Paulo não possuía posse alguma. Foi reconstruído totalmente do zero. Tinha somente o amor dos torcedores e associados. Ainda assim, tentou através de negociações e fusões com o CA Paulista adquirir o direito de uso do Estádio da Rua da Mooca, de propriedade da Cia Antárctica Paulista. A primeira tentativa se deu ainda no final de 1935, até início de 1936. A segunda, em dezembro de 1936, cogitou até mesmo a mudança do nome do time para São Paulo Olympico Clube. Novamente não deu certo.

Em setembro de 1937, o Tricolor chegou a formar uma comissão pró-estádio, que bateu de porta em porta de figuras influentes – até mesmo na Prefeitura – tentando negociar e obter um terreno para construir seu estádio. O poder público não se interessou e nada fez.

A janeiro de 1938, a Comissão estava com avançadas negociações com áreas particulares no Bom Retiro e na Água Branca – infelizmente os locais exatos não ficaram registrados nos documentos disponíveis.

Contudo, tais empreendimentos foram deixados de lado com troca de diretoria e com o surgimento de uma oportunidade que há muito o clube desejava. O CA Estudantes Paulista (agremiação fruto da fusão do CA Estudantes de S. Paulo e do CA Paulista), que detinha o uso do estádio da Rua da Mooca, estava mal das pernas e uma união com esse time resolveria a questão.

Assim, em 12 de setembro de 1938 foi oficializada a fusão e, a partir dessa data, a Rua da Mooca passou a ser o campo oficial do Tricolor. Mas o estádio pelo qual o São Paulo passou anos lutando para obter em pouco tempo ficou obsoleto e com alto custo de manutenção.

A solução provisória encontrada para o fato foi o acordo de 28 de maio de 1940 com a Prefeitura para o uso preferencial do Estádio do Pacaembu, recém-inaugurado. Essa medida, que apenas priorizava datas para jogos do Tricolor, praticamente tornou o Municipal – que ainda não se chamava Paulo Machado de Carvalho – a casa são-paulina no início dos anos 40.


(Jornal A Noite – Agradecimentos a Regis Augusto Romualdo)

Antevendo, contudo, que o Pacaembu seria pequeno para os anseios de glórias e para a crescente torcida tricolor, o São Paulo não se contentou com esse acordo.

Em 4 de maio de 1942, aprovando proposta de fusão ofertada pela Associação Alemã de Esportes, que alugava da família Vanucci um terreno no Canindé, o Tricolor mudou de ares. Primeiramente como locatário, depois como proprietário (29 de janeiro de 1944, ao custo de Cr$ 740.000,00), o São Paulo tentou construir ali, nas margens do rio Tietê, a sua morada. Foi o primeiro terreno efetivamente do clube.

Contudo, a área tinha problemas. Era pequena para as pretensões são-paulinas. E pior, existiam projetos de retificação do Tietê que acabariam por diminuir ainda mais o espaço ali disponível.

Uma ala dos dirigentes tricolores defendia, em 1943, antes mesmo que o São Paulo efetuasse a compra do Canindé, que o clube erguesse o estádio em outra área. Esteve em processo adiantado a aquisição de um terreno no bairro de Sumaré. Até mesmo planta baixa do local foi divulgada pela imprensa.

(A Gazeta Esportiva – Agradecimento a Felipe Queiroz)

Contudo, esse projeto não vingou e o clube permaneceu mesmo no Canindé, embora impaciente, inquieto e ávido por encontrar o espaço certo para se estabelecer definitivamente.

Em março de 1948, com o avançar dos trabalhos de retificação do rio Tietê, surgiram propostas para aquisição ou permuta de terrenos. Desta maneira, o Tricolor chegou a propor à Prefeitura a troca da área do Canindé por um descampado alagadiço ao lado do Parque Ibirapuera.

(A Gazeta Esportiva)

Com o descarte da ideia pelo poder público, o São Paulo voltou os olhos para terrenos da Light às margens do Rio Pinheiros. Após análises, contatou-se que a área era pequena (45 mil metros quadrados). A solução só veio no início de 1952, quando dirigentes tricolores foram apresentados à Imobiliária Aricanduva, que detinha um grande lote de terras na então subprefeitura de Ibirapuera, no que hoje é o bairro do Morumbi.

Após oito meses de negociações, também junto à prefeitura, para alteração do projeto original de loteamento, o São Paulo adquiriu no dia 4 de agosto de 1952, via doação da Aricanduva, a primeira parte do terreno onde ergueu, nos 18 anos seguintes, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

AS SEDES

1. Chácara da Floresta: Bairro da Ponte Grande.
De 26 de janeiro 1930 até 29 de julho de 1934

2. Palácio do Trocadero: Rua Conselheiro Crispiniano com Praça Ramos de Azevedo.
De 29 de julho de 1934 até 14 de maio de 1935.
Uma espécie de palacete para festas e bailes para a sociedade paulistana da época. Existem muitas lendas a respeito deste local e os custos que gerava para os cofres são-paulinos, mas, em verdade, os eventos ali realizados bancavam por si só os valores de operação da sede.

(Agradecimentos a Ralph Giesbrecht)

3. Praça Carlos Gomes, 38
De janeiro de 1936 até janeiro de 1937.
Basicamente, um porão alugado com o dinheiro arrecadado entre os sócios. Conta-se que o espaço era tão pequeno, que nas reuniões era necessário haver revezamento dentro da sala entre os integrantes, para que assim todos pudessem acompanhar os debates. Lá o São Paulo ficou por volta de um ano. 

(Correio Paulistano)



4. Edifício América (Martinelli): Rua São Bento com Avenida São João – 11º andar.
Entre janeiro e março de 1937.
No famoso Edifício América, também chamado Martinelli, o São Paulo ficou pouco tempo, no máximo uns dois meses. Curiosamente, no passado, sediou-se ali, no 7º andar, o Grêmio Tricolor, o grupo de são-paulinos que não deixou o São Paulo desaparecer em 1935.



5. Avenida São João, 1001 – 1º andar
De março de 1937 até setembro de 1938.
Situado hoje onde é a Praça Júlio Mesquita, nº 105, o pequeno e antigo prédio de posse outrora da firma de Ortiz e Gutierrez, que alugara o 1º andar para o trabalho administrativo do São Paulo Futebol Clube. Foi nesse local que nasceu o Grêmio São-Paulino, a primeira torcida organizada do Brasil. 



6. Edifício Santa Victória: Rua Dom José de Barros, 337
De setembro de 1938 até janeiro de 1944.
Após a incorporação do Estudantes Paulista, o São Paulo necessitava de maiores e melhores aposentos para tantos sócios a mais. Assim, transferiu sua sede para o pequeno arranha-céu (10 andares) situado ao número 337 da Rua Dom José de Barros, onde ocupou 17 salas do 4º andar, e outras duas salas do 2º. O aluguel de todos os cômodos custava ao clube Cr$ 2.850,00 mensais. 



7. Canindé: Rua Pascoal Ranieri, 4
Sede administrativa de janeiro de 1944 à 29 de setembro de 1949.

8. Avenida Ipiranga, 1267
De 29 de setembro de 1949 até maio de 1978.
Sede de gala – afinal possuía um belíssimo restaurante, gerido por chefes-de-cozinha e servido por garçons que trabalharam para a Casa Real Britânica. O São Paulo ocupou ali três andares (11º, 12º e 13º), possuindo, além do restaurante, um salão de jogos e o salão administrativo. Ulysses Guimarães, importante político brasileiro, também lá locava um andar inteiro para uma de suas publicações.



9. Morumbi: Praça Roberto Gomes Pedrosa, 1
Sede administrativa desde 1978.

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