Daniel Alves, do São Paulo, atuou em sete posições diferentes nos últimos três anos; veja raio-X

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GloboEsporte

 Eduardo Rodrigues e Marcelo Hazan

Lateral ou meia? Função de jogador da seleção brasileira se tornou tema de debate desde sua contratação pelo Tricolor; especialistas opinam sobre melhor uso do atleta.

Desde que Daniel Alves foi anunciado como reforço pelo São Paulo, no início de agosto, uma discussão divide opiniões: o jogador da seleção brasileira deve jogar na lateral direita ou no meio de campo?

Os números dos últimos três anos do atleta mostram, porém, que o debate é mais amplo: ele pode exercer diversos papeis em campo. Desde 2016, quando deixou o Barcelona e foi contratado pela Juventus, Daniel Alves realizou 115 jogos atuando em sete posições diferentes. São elas: lateral direita, meia direita, meia central, zagueiro central, volante, ponta direita (num esquema com três atacantes) e lateral esquerda.

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Pelo Tricolor já são oito jogos, sendo cinco como meia central, dois como ponta direita e um como lateral-direito. A tendência com o técnico Fernando Diniz no comando é de que ele ocupe cada vez mais o centro do campo.

– Eu adoro jogar de lateral, foi a posição que me deu tudo, mas aqui (no Brasil) não é o caso. Aqui se precisa de ordem tática, construção, conceitos melhores de posicionamento que eu jogando no meio consigo organizar, consigo acelerar o jogo ou desacelerar. As posições que eu domino são a número 5, na construção do jogo, ou número 8 ou número 11 – afirmou Daniel Alves ao Seleção SporTV, em setembro.

Veja abaixo um raio-X dos últimos três anos de Daniel Alves, com número de jogos, gols, assistências e posições em que atuou por Juventus, PSG e São Paulo. O levantamento foi feito com informações extraídas do site Transfermkt.

— Foto: GloboEsporte.com

A sua polivalência e facilidade em atuar tanto como um defensor como um jogador mais ofensivo fez com que os treinadores Massimiliano Allegri, Unai Emery e Thomas Tuchel explorassem bem essas características.

O treinador alemão foi o que mais arriscou. Na última temporada pelo PSG, o setor no qual Dani Alves mais atuou foi o meio de campo: 13 partidas como meia-direita e oito na lateral direita. Ele ainda disputou seis jogos como zagueiro central, dois como ponta direita e quatro como volante.

Na seleção brasileira, Daniel Alves é uma unanimidade na lateral direita, embora já tenha feito outras funções. Pelos clubes, no entanto, os 115 jogos foram bem diversificados (veja em detalhes no gráfico abaixo):

 — Foto: GloboEsporte.com

— Foto: GloboEsporte.com

Mas e aí, Dani Alves deve jogar na lateral ou no meio? Veja opiniões:

Comentarista do grupo Globo e multicampeão pelo São Paulo como treinador, Muricy Ramalho segue a mesma linha de pensamento de Daniel Alves que no meio ele pode render muito mais no Brasil. Além disso, para Muricy, o jogador está em uma fase da carreira que já não tem o mesmo vigor físico de antigamente, e a marcação na lateral já se torna um pouco mais complicada.

– O jogador dessa técnica, esse jeito diferente de jogar, com a experiência e vivência que tem, ele tem que jogar de meia. Porque se for jogar de lateral no São Paulo ele vai ter que ficar correndo atrás de ponta, e já está em um momento da carreira que ele tem que pensar o jogo – opinou Muricy Ramalho.

– O São Paulo não tem um pensador no meio de campo a não ser o Hernanes. Já joga com o Antony aberto, e ele de lateral não vai passar nunca, ele não vai mais para a linha de fundo. Ele já é um jogador que mesmo na Seleção, quando joga de lateral, ele não vai para a linha de fundo, vai para o meio, então deixa ele lá – acrescentou.

Daniel Alves começou como lateral na partida como lateral e virou meia ao decorrer do jogo — Foto: Marcos Ribolli

Daniel Alves começou como lateral na partida como lateral e virou meia ao decorrer do jogo — Foto: Marcos Ribolli

O ex-jogador Zé Roberto, atualmente assessor técnico do Palmeiras, fez caminho semelhante ao que Daniel Alves está fazendo no Brasil. Em 2006, o então lateral-esquerdo deixou o Bayern de Munique para defender o Santos. Na equipe alemã, ele era lateral, mas ao retornar para o futebol brasileiro, Vanderlei Luxemburgo mudou sua posição e lhe deu a camisa 10.

A experiência foi positiva e, além de ser campeão paulista (2006) e semifinalista da Libertadores (2007) com o Santos, Zé Roberto voltou ao Bayern de Munique atuando em alto nível. Ele ainda chegou a defender o Hamburgo antes de se transferir para o Al-Gharafa (Catar).

– A mudança para mim foi uma coisa nova, até porque o Vanderlei (Luxemburgo) me colocou em posições que eu nunca tinha jogado: lateral, volante, segundo volante na Copa… Mas meia de ligação com liberdade foi uma experiência nova e que deu certo – lembrou Zé Roberto.

Assim como Muricy Ramalho, o ex-jogador defende a escalação de Daniel Alves no meio de campo:

– Pode dar mais ao São Paulo jogando no meio, porque é um jogador que, apesar da idade, tem intensidade, visão de jogo, inteligente, e consegue fazer a função de ajudar na marcação e chegar na frente. A maior prova é que na estreia chegou na área algumas vezes e numa dessas oportunidades fez o gol. O time ganha mais com ele no meio do que na lateral – opinou.

Flamengo 0 x 0 São Paulo - Daniel Alves — Foto: Jorge R Jorge/BP Filmes

Flamengo 0 x 0 São Paulo – Daniel Alves — Foto: Jorge R Jorge/BP Filmes

Caio Ribeiro, comentarista do Grupo Globo e revelado como jogador pelo São Paulo, porém, pensa de uma forma diferente. O ex-atleta acredita que Daniel Alves até pode atuar como um meio-campista, mas com uma função tática diferente. Mas ele defende a escalação do jogador na lateral:

– Eu prefiro o Daniel Alves como lateral, porque ali ele se tornou o melhor do mundo, vitorioso por todos os clubes que passou, decisivo na seleção brasileira e não só pela qualidade que tem na função, mas com a bola nos pés, ele conhece aquele lado do campo – afirmou Caio Ribeiro.

– O Dani no meio, é claro que por ser craque vai saber se virar. A dificuldade que o Dani tem encontrado é jogar de costas, é ter essa marcação mais próxima do volante, é diferente de quando ele pega o campo de frente, então que ele seja o terceiro homem de meio, pegando essa bola dos laterais e armando o time por trás. Porque quando ele encosta muito nos dois atacantes ele tem dificuldade. No meu time ele seria lateral – completou.

Daniel Alves Hernanes Fernando Diniz São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Daniel Alves Hernanes Fernando Diniz São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

No início de setembro, o GloboEsporte.com lançou a pergunta: “Torcedor do São Paulo, você quer Daniel Alves na lateral direita?”. E com quase 84% a opção “Sim! É a posição que ele se consagrou” foi a vencedora.

Enquete: Daniel Alves na lateral direita — Foto: Reprodução

Enquete: Daniel Alves na lateral direita — Foto: Reprodução

O desejo de Caio Ribeiro e de grande parte dos torcedores, porém, não deverá ser realizado no próximo sábado, no confronto do São Paulo contra o Fortaleza, às 17h (de Brasília), no Pacaembu, pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Isso porque Fernando Diniz esboçou um time titular durante a semana com Daniel Alves no meio de campo, assim como foi na estreia do treinador à frente do Tricolor, no empate com o Flamengo. Um provável time é o seguinte: Tiago Volpi; Juanfran, Bruno Alves, Arboleda e Reinaldo; Luan; Antony, Daniel Alves, Hernanes e Tchê Tchê; Pablo.