Diniz e Raí já foram rivais em final que deu título ao São Paulo; relembre

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UOL

Arthur Sandes e Vanderlei Lima

Uma bola levantada na área, um desvio de França, e ela sobrou inteira para Raí abrir o placar da segunda final do Campeonato Paulista de 1998. O ídolo do São Paulo havia voltado do futebol francês naquela semana e, para a surpresa de todo o mundo, foi titular e importantíssimo para a conquista do título sobre o Corinthians, no Morumbi. Do outro lado estava Fernando Diniz, hoje treinador tricolor.

Raí e Diniz voltam a se envolver em um Majestoso às 18 horas (de Brasília) de hoje, novamente no Morumbi, mas desta vez eles estão do mesmo lado. O São Paulo x Corinthians é parte da 25ª rodada do Brasileirão. Não vale troféu como há 21 anos, mas uma vitória em clássico manteria o clima leve e facilitaria bastante o início de trabalho do técnico são-paulino.

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O UOL Esporte conversou com cinco ex-jogadores que estavam naquela final. Eles relembram a semana movimentada antes da decisão, o perfil de Fernando Diniz, o retorno do Raí como um ícone do São Paulo e a partida em si, vencida pelo Tricolor por 3 a 1. “O Raí foi o homem que caiu do céu. O time estava bem e só melhorou”, diz o ex-volante Capitão, que em 1998 jogou sua única temporada no São Paulo, e como zagueiro, fazendo dupla com o campeão mundial Márcio Santos. “Ele praticamente decidiu o título”, lamenta o ex-goleiro corintiano Nei, vice na ocasião.

Raí já tinha uma história e tanto com o São Paulo, com de 100 gols e um bicampeonato mundial pelo clube. Depois disso foi à Europa ser ídolo do Paris Saint-Germain, mas já em 1998 queria voltar ao Brasil. A negociação pelo seu retorno começou em janeiro daquele ano, mas seu contrato só terminaria em maio, em datas próximas às finais do Paulistão.

Ele pediu aos franceses para antecipar a volta por alguns dias e chegou na semana da finalíssima. Só teve tempo para dois treinos e um coletivo, mas logo se entendeu com França no ataque. O regulamento permitia, então Raí foi para o jogo. E para o título. “Nós ficamos surpresos, mas um jogador como o Raí foi muito bem aceito, também porque já tinha identificação com o clube”, lembra o ex-lateral tricolor Zé Carlos.

Diniz tem 50 jogos e dois gols pelo Corinthians - Eduardo Knapp/Folha Imagem

Aos 24 anos, Fernando Diniz vivia realidade muito diferente. Após surgir no Juventus-SP e passar sem grande destaque por Guarani e Palmeiras, ele desembarcou no Parque São Jorge para ser reserva em um elenco cheio de peças para o setor ofensivo: Souza, Marcelinho Carioca, Edílson, Didi e Mirandinha tinham mais minutos em campo do que ele.

Diniz jogou apenas duas partidas naquele Paulistão de 98, sempre saindo do banco, mas teve participação fundamental para o Corinthians chegar à decisão. Foi ele quem tentou um cruzamento à meia altura, nos minutos finais da semifinal contra a Portuguesa, e então viu a bola parar no domínio do zagueiro César, dentro da área. O árbitro argentino Javier Castrilli viu pênalti, que renderia o gol da classificação ao Alvinegro e uma polêmica histórica – afinal, foi no braço ou no peito?

Fernando Diniz não entrou em campo nas duas finais. Em ambos os jogos Luxemburgo escalou o Corinthians com Marcelinho Carioca e Mirandinha na frente, a dupla titular. No primeiro jogo, a imprensa falou em “nó tático” sobre Nelsinho Baptista na vitória por 2 a 1. Mas tudo mudou entre um domingo e outro, porque o chamado “Terror do Morumbi” estava de volta ao São Paulo.

“Nós já estávamos esperando ele para o segundo jogo, estava previsto. Mas o Nelsinho Baptista não falou para a imprensa para o Corinthians não ficar sabendo. O Raí era a carta na manga”, explica Capitão. E a carta foi muito bem jogada: com meia hora de jogo, um lance pela direita rendeu cruzamento na área, um desvio e o cabeceio de Raí. “Foi uma bola longa e eu cruzei meio sem direção”, recorda Zé Carlos. “Ela estava correndo para o fundo, e quase não deu tempo de jogar a bola para trás. Aí o França desviou, e o Raí fez o gol.”

Era o primeiro do São Paulo, que sofreria o empate no início do segundo tempo, mas pouco depois voltaria à frente. Raí se antecipou a Gamarra e em uma tabela curta deixou França na cara do gol para o 2 a 1. Antes do final França ainda faria o terceiro, sacramentando o título estadual.

São-paulinos comemoram um dos gols da decisão do Campeonato Paulista de 1998 - Ormuzd Alves/Folhapress

“Diniz é melhor como técnico” Coadjuvante naquela decisão, Fernando Diniz agora é protagonista. Ele disputa seu primeiro clássico pelo São Paulo hoje, consolidando-se em uma carreira da qual já dava sinais nos tempos de jogador. “Ele [Diniz] sempre foi um jogador diferenciado em termos de conversa, sempre teve um papo legal, agradável. Era um menino inteligente, o intelecto dele era diferente”, elogia o ex-goleiro Nei.

Vampeta, que foi parceiro de Diniz no campo (Corinthians e Juventus-SP) e também em funções administrativas (Audax-SP), reforça a confiança no amigo. “Quando cheguei no Corinthians, ele foi um dos caras que melhor me recebeu. O Edílson e eu íamos na casa da mãe dele comer feijoada, eu comprei um carro na mão do irmão dele, que trabalhava em concessionária. Ele sempre foi um cara muito humilde, gente boa”, conta.

Mirandinha é outro que elogia o discernimento do agora treinador e aposta em carreira com vários títulos. “Comparando com Rincón, Vampeta, Marcelinho Carioca, Gamarra? O Diniz era o mais inteligente. Ele nasceu para as duas funções, mas penso que é melhor como técnico do que como jogador”, opina.

Ficha técnica daquela final: São Paulo 3 x 1 Corinthians Data: 10 de maio de 1998, domingo Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo-SP Competição: Campeonato Paulista, finalíssima Árbitro: Sidrack Marinho dos Santos Público: 79.710 pagantes Renda: R$ 814.680,00 Gols: Raí, aos 30 minutos do primeiro tempo; Didi, aos 5′, e França, aos 11′ e aos 37 minutos do segundo tempo.

São Paulo: Rogério Ceni; Zé Carlos, Capitão, Márcio Santos (Bordon) e Serginho; Alexandre, Fabiano, Carlos Miguel (Gallo) e Raí (Víctor Hugo Aristizábal); França e Denílson. Técnico: Nelsinho Baptista. Corinthians: Nei; Rodrigo (Didi), Cris, Gamarra e Silvinho; Romeu (Edílson), Vampeta, Rincón e Souza (Marcelinho Souza); Marcelinho Carioca e Mirandinha. Técnico: Wanderley Luxemburgo.