GloboEsporte
Marcelo Hazan
Base aliada ao presidente pede novamente mudança geral no departamento.
A pressão por mudanças no futebol do São Paulo aumentou sobre o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e atinge o diretor executivo de futebol Raí.
Conselheiros de grupos políticos da base aliada à gestão voltaram a cobrar de Leco a reestruturação no departamento de futebol citada no primeiro semestre, em uma reunião na semana passada. Diferentemente da última vez, porém, o pedido de mudanças agora não poupa Raí, o que torna seu futuro ainda mais incerto.
Nos grupos existe, inclusive, a ideia de substituir Raí por um conselheiro não remunerado para liderar o futebol. Também há pressão política para trocas nos departamentos médico, de fisiologia e fisioterapia, entre outros setores do CT da Barra Funda.
Os grupos políticos voltaram a pedir mudanças a Leco, diante da falta de resultados no futebol e do déficit de R$ 76,5 milhões registrado de janeiro a agosto. A decisão final do presidente só sairá depois do Brasileirão. A avaliação do trabalho de Raí tem pontos positivos e negativos (veja mais no fim da reportagem).
Nos bastidores há quem considere iminente a saída de Raí. Um caminho citado seria um comum acordo entre clube e dirigente ao término do contrato, em dezembro, para encerrar o ciclo de forma amigável. Apesar disso, a postura de Raí é de querer seguir no São Paulo em 2020, quando o clube vai eleger um novo presidente em dezembro (Leco não pode concorrer à reeleição).
Há quatro jogos sem vencer, o São Paulo enfrenta o Vasco nesta quinta-feira, às 20h30, no Morumbi, em partida considerada chave também para Fernando Diniz.
Embora o técnico seja o nome para comandar o time em 2020 e não corra risco de demissão, uma vitória nesta quinta é considerada fundamental. Isso porque o São Paulo ficaria quatro pontos à frente do Corinthians a três jogos do fim do Brasileirão, o que deixaria encaminhada a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores.
Essa classificação (ou não) também terá influência no futuro de Raí. No Morumbi, a chance de permanência de Fernando Diniz na próxima temporada é considerada maior do que a do diretor executivo de futebol.
Pressão aumenta por saída de Raí do São Paulo entre grupos da base aliada ao presidente Leco — Foto: Marcelo Hazan
A cobrança sobre Leco agora é maior, pois a avaliação é de que a reestruturação pedida no passado não foi feita. Na ocasião, foram demitidos funcionários de baixo escalão, como um analista de desempenho e profissionais do setor administrativo.
Hoje, o departamento de futebol é formado por Raí (diretor executivo), Alexandre Pássaro (gerente) e Fernando Ambrogi, o Chapecó (diretor-adjunto e voluntário). A diferença para Chapecó no caso de um novo conselheiro no departamento é que ele se dedicaria em tempo integral ao clube, mesmo também não sendo remunerado.
Argumentos a favor de Raí:
- O São Paulo parou de brigar contra o rebaixamento do Brasileirão. Em 2016, o time terminou em 10º lugar, e em 2017 foi o 13º colocado. Agora, tem disputado posições no topo da tabela. Em 2018, o Tricolor liderou o primeiro turno e terminou em quinto. Em 2019, está na quinta colocação;
- O clube voltou a disputar uma final de campeonato após mais de seis anos, ao perder a decisão do Paulista para o Corinthians – até então a última final era a Sul-Americana de 2012, justamente o título mais recente;
- Apesar dos fracassos, protestos da torcida e pressão de conselheiros, o trabalho de Raí tem avaliações positivas;
- Depois da demissão de Rogério Ceni do cargo de técnico, em 2017, a saída de mais um ídolo do clube na gestão Leco desgastaria ainda mais a imagem do presidente perante os torcedores;
Argumentos contra Raí:
- A demissão do técnico Diego Aguirre a cinco rodadas para o fim do Brasileirão de 2018. No comando do uruguaio, o São Paulo chegou a liderar a competição, mas caiu de rendimento na reta final. Na ocasião, a diretoria disse ter trocado de técnico para tentar buscar uma vaga no G-4, mas não conseguiu. A decisão foi apontada como “questionadíssima” pelo próprio Raí, em entrevista à “Fox”, e a avaliação interna é de que foi um erro;
- Conselheiros esperam uma postura mais firme e incisiva do líder do departamento para fazer a reestruturação pedida desde o primeiro semestre;
- O São Paulo teve quatro treinadores em 2019: André Jardine (até fevereiro), Vagner Mancini (interino entre a saída de Jardine e a chegada de Cuca), Cuca (de abril a setembro) e Fernando Diniz (de setembro até hoje);
- O clube investiu em contratações, mas não teve resultados: Daniel Alves, Pablo, Pato, Hernanes, Juanfran, Tchê Tchê, Tiago Volpi e Vitor Bueno, entre outros;
- As eliminações precoces. O time caiu na segunda fase da Libertadores, para o Talleres, e nas oitavas de final da Copa do Brasil, diante do Bahia, e conviveu com diversos protestos, principalmente das torcidas organizadas. As quedas ocorreram logo na entrada do São Paulo nas competições, o que também prejudicou o orçamento financeiro do clube. A projeção era ir mais longe nos dois torneios de mata-mata, o que geraria mais receitas com premiações e bilheteria. O clube registrou déficit de R$ 76,5 milhões de janeiro a agosto, motivo pelo qual a diretoria reforça a necessidade de vender jogadores.