Pai aos 19 anos, Antony quer dedicar vaga olímpica ao filho e diz: “Fui de adolescente a adulto”

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GloboEsporte

Bruno Cassucci

Atacante da seleção sub-23 e do São Paulo cita dificuldades, mas destaca amadurecimento.

Era março de 2019, e Antony parecia viver um sonho. Em pouco tempo, ele se sagrou campeão da Copinha, foi eleito o craque da competição e passou a ser titular da equipe profissional do São Paulo. Financeiramente as coisas também só melhoravam para o garoto, que acabara de completar 19 anos e pôde deixar a periferia de Osasco.

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Porém, na véspera de uma das quartas de final do Campeonato Paulista, o mundo de Antony pareceu desabar. Na concentração do São Paulo, o atacante recebeu pelo telefone uma notícia inesperada: a namorada dele estava grávida.

– No começo foi muito difícil para mim, eu não queria (ser pai) por ser jovem e estar acontecendo as coisas na minha vida. Era complicado, eu ficava pensando nisso. Descobri um dia antes do jogo contra o Ituano, não estava com cabeça para jogar. Mas, com o apoio da minha família, fiz uma grande partida e dali em diante comecei a tentar cair na real, sabia que a responsabilidade iria aumentar – conta o jogador.

Antony, atacante da seleção sub-23 e do São Paulo, com o filho Lorenzo — Foto: Reprodução / Instagram

Quase um ano depois, Antony confirma que a responsabilidade aumentou, mas veio acompanhada de muito aprendizado e amor.

Com a seleção brasileira sub-23 na Colômbia, para a disputa do Pré-Olímpico, o atacante tenta driblar a saudade fazendo chamadas de vídeo diariamente para ver o pequeno Lorenzo, que está com dois meses. Nesta terça-feira, a equipe comandada pelo treinador André Jardine entra em campo para enfrentar a Bolívia, às 22h30 (de Brasília) – o SporTV transmite ao vivo, e o GloboEsporte.com acompanha o confronto em Tempo Real com vídeos. Se vencer, o Brasil se classifica para disputar no quadrangular final uma das duas vagas nos Jogos de Tóquio.

Embora ainda jovem, com 19 anos e espinhas no rosto, Antony se diz muito mais maduro e afirma que a paternidade se tornou uma motivação a mais para quando entra em campo:

– Fui de um adolescente para um homem, um adulto. A responsabilidade aumenta tendo uma criança para criar. Você começa a fazer as coisas não mais só por você, mas também pelas pessoas que você ama.

O atacante sonha em classificar o Brasil para a Olimpíada e dedicar a vaga em Tóquio ao filho. O jogo desta terça-feira representa um passo importante nessa missão. Se vencer a Bolívia, às 22h30 (de Brasília), a seleção sub-23 garantirá vaga no quadrangular final do Pré-Olímpico.

Confira abaixo a entrevista de Antony ao GloboEsporte.com:

Como sua família recebeu a notícia de que você seria pai?
–Por eu ser jovem, o caçula de casa, e ser o primeiro dos filhos a ser pai, foi difícil. Mas, graças a Deus, minha família sempre esteve ao meu lado, sempre me apoiou, me colocou para cima e mostrou a importância da paternidade.

A chegada do Lorenzo também influenciou no seu desempenho como jogador?
– Influencia, você tem que correr por uma pessoa que ama. Você sempre vai jogar futebol com o maior amor do mundo, mas ter uma criança ali dá um gás a mais.

Pensa em entrar com ele em campo algum dia?
– Volto (ao São Paulo) no jogo contra o Corinthians e pretendo entrar com ele.

Como tem sido nestes dias na Colômbia?
– Confesso que estou com muita saudade. Você se acostuma a ver todo dia o filho em casa e depois fica um mês e pouco distante, é complicado. Mas estou focado, sei que é por ele que estou fazendo as coisas, para que quando voltar eu possa matar a saudade e, acima de tudo, levar esse vaga olímpica para ele.

Há outros pais na seleção sub-23, certo? Vocês se falam sobre a paternidade?
– Tem Dodô, Phelipe Megiolaro e o Maycon. A gente conversa, o Dodô sempre mostra a filhinha dele, a gente vai dividindo essas coisas.

E com os demais atletas?
– Alguns até me perguntam se é bom, o Guga perguntou há um tempo atrás, falei que era bom demais. É uma opção deles, não vou fazer a cabeça de ninguém, mas eu disse que é muito bom, sim, ter uma criança, alguém que você tanto ama.

A paternidade pode te segurar por mais tempo no São Paulo ou isso não seria um impeditivo para uma transferência para o exterior?
– No momento eu nem penso nisso, meu maior foco está na Seleção, em garantir a classificação para a Olimpíada. Quem resolve isso são meus empresários e o clube. Dentro de campo eu tento fazer o meu melhor e fora eles que resolvem.

No último jogo, contra o Uruguai, você deu assistência. Está faltando um gol para o filho?
– A gente sabe a importância de fazer gol, mas a vitória da equipe é o mais importante. Não importa se sou eu, Pedrinho ou Cunha que vai fazer gol.