UOL
Napoleão de Almeida
“Eu não perderia esse gol!” Quem nunca gritou uma frase como essa, sentado na arquibancada assistindo ao time do coração? Torcedor que é torcedor é, acima de tudo, corneta. Porém, são raros os que tem a chance que Ronaldo Henrique Silva, 28 anos, terá neste domingo (9) às 18h: encarar o São Paulo atuando pelo Santo André, clube de infância do jogador, na quinta rodada do Paulistão.
Não é balela: numa era em que todo reforço “revela” ser torcedor desse novo time, Ronaldo tem provas. Ia para a arquibancada ver o Ramalhão —que, convenhamos, não é o clube da moda. “Você acompanhar um clube quando criança e realizar o sonho de, primeiro ser jogador profissional, depois defender esse clube que você assistia… Passa um filme na cabeça. Eu tô num momento muito bom, consigo estar bem como pessoa, perto da minha família, dos meus amigos, é um momento muito gostoso, e as coisas estão dando certo dentro de campo”, contou ao UOL Esporte.
Ronaldo tem três gols em cinco jogos na temporada, o último deles contra o Criciúma, na vitória por 4 a 1 pela Copa do Brasil, na quarta-feira (5). Copa do Brasil, aliás, que foi a conquista maior do rol do Ramalhão, em 2004, da qual o atacante lembra ainda como torcedor. “Era um torneio em que o Santo André não era favorito, conseguiu chegar à final contra um Flamengo fortíssimo. Em 2010 joguei com o Athirson, ainda brinquei que ele fez o gol de empate aqui, mas acabou que o Santo André saiu campeão. Eles eram muito favoritos, achavam que no Maracanã iriam ganhar, e foram surpreendidos. Foi o momento mais marcante como torcedor.”
Hoje, quando volta à arquibancada, a corneta diminui. Já sabe a diferença para quem está em campo. “Gigantesca, de fora o futebol parece ser muito fácil. Você vê o campo todo, nunca está cansado, o campo não te atrapalha, a bola não quica… é muito simples. Mas de dentro, quem joga sabe a grande dificuldade. É uma das profissões mais concorridas que existe, de 10 garotos, nove sonham em ser jogadores e acho que um consegue. De dentro você consegue agir, de fora não tem poder efetivo sobre o jogo, só consegue apoiar, gritar.”
Mas nem tudo é alegria na vida do torcedor-jogador. Existe o profissionalismo no meio do caminho, claro. Num passado recente, Ronaldo se viu obrigado a enfrentar o Santo André, quando atuava por XV de Piracicaba e Ituano. “É aquela sensação de enfrentar um time querido. Lógico, sou profissional, quero jogar bem e ganhar, mas tem uma sensação de carinho pelo adversário, é diferente.”
E se o torcedor Ronaldo encontrasse o jogador Ronaldo, qual seria o papo? “Provavelmente eu pediria o ingresso para assistir ao jogo (risos). Pra apoiar, como fiz em muitas ocasiões. Seria mais um jogo pra ficar marcado, sempre bom estar na arquibancada, torcendo, ainda mais quando se tem o sonho de ser jogador profissional.”