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Julio Gomes
O debate do ano passado, primeiros meses de Daniel Alves no São Paulo, primeiras semanas de Fernando Diniz no cargo, era: qual a melhor posição para ele? Lateral-direito ou armador? A resposta nem foi tão demorada assim: nem uma coisa nem outra. Dani veste a 10. Mas é mais um 8. Um 8 que pode virar 2, 5, 10, 9… se voltasse para o Barcelona, talvez usasse a camisa 6. Já explico.
Relevando certas particularidades, Daniel Alves é, para o São Paulo de Diniz, o que era Xavi no Barcelona de Guardiola. É o espírito condutor e criativo do time. Daniel, assim como Xavi, vem começar o jogo, buscar a bola entre goleiro e zagueiros e começar as jogadas. Ganha terreno, vai se associando com os outros jogadores do time, caindo mais pelo lado direito e chegando à frente para armar, dar passes de morte ou finalizar. Ele é quem dita o ritmo, é o tal “maestro”, o “ritmista”, usando um termo recente falado por Tite.
Não à toa, Daniel é o jogador do Campeonato Paulista que mais tem a bola, que mais troca passes e um dos que mais finalizam e desarmam. As duas pontas do jogo. “Encontramos juntos este posicionamento”, contou Fernando Diniz a este blog. “Observamos algumas coisas no ano passado e foi uma construção conjunta. Nosso jogo começa por ele, é o condutor entre todas as linhas e pode aparecer em qualquer lugar do campo. Pela direita, onde domina tanto o espaço, faz jogo pelo meio, é armador, chega na área, faz gol, é realmente um cara muito, muito completo.”
Nesta segunda-feira, o UOL Esporte vai publicar uma entrevista exclusiva com Diniz. Este escriba falou com o técnico do São Paulo por duas horas, uma conversa que passou pelos mais variados temas. Falamos de coronavírus, o momento pelo qual passamos como sociedade, muito futebol, São Paulo, Fluminense, Tiago Nunes, Guardiola, Pato e, lógico, Daniel Alves.
Claro que há muitas diferenças entre Xavi e Daniel Alves. Xavi foi um dos jogadores mais subestimados pelo público brasileiro, talvez pela presença de gente como Messi para fazer tantas coisas acontecerem no Barcelona. Ele não era o mais rápido nem o mais forte nem o mais alto: mas era o mais inteligente em campo. Será um grande técnico, essa é minha aposta.
Dani Alves tem mais velocidade e talvez até mais habilidade do que Xavi. Era um dos principais sócios do catalão no Barça, o que talvez facilite no que está se propondo a fazer neste ano. Sua desvantagem, claro, é não ter passado a vida inteira dominando a posição, como Xavi. Quando mudou do Sevilla para o Barça, Daniel se transformou. Deixou de ser um puro lateral direito ofensivo para se transformar em um atacante pela direita, um jogador mais completo e letal. Bebeu na fonte de Guardiola, de Xavi, fez parte de um time que está na história do futebol.
Quando Xavi deixa o Barcelona, em 2015, Daniel, não à toa, passa a usa a camisa 6. “Eu não peguei a camisa 6 para me comparar a ele, porque Xavi é incomparável”, disse o brasileiro, na época. “Levo o seu número porque eu o admiro muito. Ele é um cara que me ensinou muito como profissional e como pessoa, especialmente como pessoa, porque que ele é um cara que experimentou tudo no futebol e nós compartilhamos coisas muito agradáveis, outras nem tanto, e nós conversávamos muito.”
Desde setembro, Daniel Alves não tem dado entrevistas por aqui. Mas o blog apurou que o veterano “curte” muito o trabalho de Diniz e que houve um “casamento de ideias”. É um jogador que propaga dentro do vestiário e do clube as visões de jogo do comandante e faz de tudo para ajudar. “É um jogador enorme, fundamental para mim e para o time. É um cara que ajuda demais todo mundo no vestiário, é muito inteligente, realmente agrega. Me ajuda, traz uma bagagem incrível e sempre tem uma palavra positiva para todos”, continua Diniz. “Daniel é um cara muito grande”.